O Gargalo

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Era a refeição mais saborosa que Jon experimentava em semanas, por isso comeu até a última migalha, usando pedaços de pão para limpar o fundo do prato. Do lado de fora, a noite caía, embora quase não fosse mais possível fazer distinção entre ela e o dia. Além do mais, havia toda aquela névoa cobrindo o castelo, tornando a ainda mais difícil fazer uma distinção.
- Ned Stark foi uma das melhores pessoas que eu conheci, era um homem honrado - o pequeno homem sentado a sua frente comentou. Tinha cabelos castanhos e olhos marrons da cor da terra. O rosto era suave e gentil, mas falava como um senhor.
- Honrado.... - Jon deixou a palavra pairando no ar úmido do pântano no qual Atalaia da Água Cinzenta estava localizada.
- Eu matei Sor Arthur Dayne de maneira desonrosa, não o seu pai, não deve culpá-lo.
Howland Reed, senhor de Atalaia da Água Cinzenta, levantou-se e caminhou até uma das janelas que se abria para as águas pantanosas do Gargalo. Aos pés de Jon, Fantasma roía um osso de porco do mato, silencioso e concentrado. Não havia sinal de Meera.
- Não espero que entenda os meus motivos, Jon Snow. Às vezes as escolhas que parecem erradas, são as escolhas que precisam ser feitas. Sor Arthur Dayne mataria seu pai. Ned Stark era mais do que um senhor, era meu amigo, especialmente a sua mãe. Lyanna.
Jon abriu e fechou a mão da espada, a conversa o deixando enjoado.
- Rhaegar casou-se com a minha mãe - afagou o pelo de Fantasma para distraír-se. Foi isso que Bran havia dito e que Sam havia lido em seus livros.
- Não sabíamos. Mas quando Rhaegar morreu no Tridente, nada disso importava. Robert o mataria se soubesse, como fez com os seus...
- Irmãos.... Rhaenys e Aegon, os filhos de Rhaegar com Elia Martell.
O senhor de Atalaia da Água Cinzeta apenas assentiu. Fui salvo do mesmo destino dos filhos de Elia e de Daenerys. Seu coração apertou.
- Como ela era? Minha mãe?
Reed refletiu, como se pudesse trazer de volta o passado.
- Feroz - disse por fim - Leal. Uma força da natureza, tal como sua irmã mais nova, Arya Stark.
Jon sorriu ao ouvir aquilo, recordando-se da Arya de sua infância. Uma coisinha magrela, feroz e despenteada. Morta assim como a sua mãe.
Por um momento o soprar do vento de inverno, o coaxar das rãs no pântano e o crepitar do fogo na lareira foram os únicos sons no pequeno salão do castelo.
- Partiremos ao amanhecer, você precisa descansar.
Jon assentiu, sem saber muito como deveria se sentir diante do homem que ajudara leva-lo da Torre da Alegria, em Dorne, a pedido de Lyanna Stark. Seu castelo era uma fortaleza pequena, feita de madeira e teto de sapê e ficava em uma ilha que segundo as histórias, podia ser mudada de lugar conforme a vontade do seu senhor.
Jon foi levado a um aposento confortável, onde encontrou uma cama feita, fogo na lareira e água quente o esperando em uma tina. Não vira criados, mas resolveu que não faria perguntas. Os Reeds haviam o salvado de uma longa caminhada. Estava mais do que grato pela refeição e pelo teto quente.
Lavou-se e vestiu as roupas limpas que levaram para ele. Calças de pele de cordeiro, botas de couro com um aspecto gasto, camisa de linho branco e um gibão de um verde tão profundo que lembrava a cor das árvores antigas que ele vira no pântano enquanto era levado até ali.
Apesar do conselho de Reed para que descansasse, sentia-se inquieto com sempre e sabia que precisava caminhar para distrair-se. Deixou o quarto e foi procurar Fantasma. Meera pendurava um lampião na parede do pequeno salão quando Jon entrou. Ela usava uma capa verde feita de folhas e tinha neve nos cabelos castanhos escuro. Era apenas um pouco menor do que o pai.
- O pai falou que partiremos amanhã - ela lhe disse retirando a capa e a pendurando um gancho na parede - Estava me despedindo das águas. Não sabemos quando voltaremos ou se voltaremos.
- Por que ainda não partiram?
- Ele disse que você viria. Ficamos para esperar. É uma longa viagem até Harrenhal. - ela contou com um sorriso, como se soubesse algo que ele não sabia. Tinha um sorriso doce e uma nota sempre alegre na voz. Jon assentiu e andou até a lareira, onde Fantasma estava deitado enrolado em si mesmo.
- Obrigado - murmurou enquanto encarava o seu lobo, concentrado na respiração dele.
- Não foi nada. Agora podemos ir ver a rainha dragão. Dizem que gente de todo reino está agora em Harrenhal e há feiticeiros vindos de Asshai. Ela é sua tia, não é?
- Com a bondade dos deuses.
Meera se aproximou e Jon precisou desviar os olhos de Fantasma para encará-la, ele quase conseguia ver, as perguntas nadando nos verdes dos olhos dela.
- Não é uma história feliz.
- Assim como todas as histórias reais.
Os dois encararam as chamas laranjas dentro da lareira, até Jon perguntar:
- Por que não a vi em Winterfell? Foi você que trouxe Bran de volta, não foi? - mesmo com a proximidade do fogo, ele conseguiu perceber a palidez que tomou conta do rosto dela.
- Minha missão estava cumprida. Trouxe Bran de volta, mas ele não era... ele... - Jon Snow esperou - Não era mais Bran, sinto muito. Queria ficar com os meus pais, não sabíamos se veríamos... outro amanhecer.
- Sinto muito por seu irmão. Jojen, não é?
- Sim, foram muitos sacrifícios - a voz dela agora não passava de um fiapo - Hodor, Verão, Jojen... Pra que?
- Hodor... - Fazia muito tempo que Jon não pensava no grande cavalariço. Diziam em Winterfell que era bisneto da Velha Ama. Walder. O nome dele era Walder - Conte-me sobre ele.
Meera parecia amuada com o pedido, mas contou:
- Era Hodor que carregava Bran. Quando a caverna foi atacada pelo Rei da Noite ele... ele morreu com Verão. Mas-mas, não foi só isso... Bran, ele... podia entrar na pele de Hodor.
Aquilo fez Fantasma levantar as orelhas.
- Está me dizendo que Bran podia...
Ela assentiu sombriamente, inocente quanto aos seus conhecimentos sobre os poderes de Bran.
- Não acha horrível? Controlar uma pessoa assim?
Jon abriu a boca uma vez, mais optou pelo silêncio.
- Bran me contou uma história, de quando Hodor era pequeno. De como um dia ele caiu no pátio de Winterfell e começou a repetir Hodor, Hodor, Hodor...
- Sim, era o que diziam no castelo. Ele nunca mais falou outra palavra além disso.
- Não, ele não falou - lágrimas brilharam nos olhos dela - Eu pedi para ele segurar a porta enquanto fugíamos, foi só isso. Segure a porta.
Jon afastou-se lentamente, de repente compreendendo o horror do que ela compartilhava. Fantasma levantou a cabeça, espiando Meera Reed através seus misteriosos olhos vermelhos.
- Hodor....
- Eu gritei para ele. Com todas as forças que eu tinha enquanto Bran o espiava no passado e vestia a pele dele no presente. Eu não podia imaginar, não percebi - ela chorou - De algum modo ele... ele nunca mais libertou-se disso. Hodor era uma boa alma. Não merecia.
- O nome dele era Walder.
Ela tinha lágrimas nos olhos quando desviou o olhar do rosto de Jon para a lareira, secando os olhos com raiva.
- Eu sei....
- Não foi sua culpa.
- Fácil falar.
- Sempre é.
- Bran, ele...
Me dava medo, foi o que ela nunca falou em voz alta, ao invés disso, endireitou as costas e mudou de assunto, o que Jon julgou apropriado, não queria falar sobre Bran. Tenho que ter cuidado.
- Os corvos chegaram trazendo notícias do Sul - Fungou - A Mão está morta.
- Tyrion?
Ela assentiu.
- Foi encontrado como o pai, morto em uma latrina. Os sacerdotes vermelhos controlam a cidade. As pessoas estão buscando abrigo na Fortaleza Vermelha, navios chegaram de Braavos trazendo mantimentos.
- Bran?
Ela sacudiu a cabeça.
- Ninguém sabe seu paradeiro. Bran sumiu com Podrick Payne.
Asas escuras palavras escuras. Aquela era uma notícia ruim, Jon esperava encontrar Bran naquela fortaleza e cortar sua cabeça. Havia jurado. Aquela notícia era uma surpresa desagradável aos seus planos. Será que ele desconfia? Algo sombrio deve ter transparecido em seu rosto, pois Meera disse:
- Ele deve estar bem - Jon conseguia sentir a insegurança vazando das palavras dela.
- Eu espero que sim, foram muitos.... sacrifícios para que ele não estivesse.
Ela assentiu, os olhos distantes, provavelmente naquela caverna com Jojen, Verão e Hodor. Quando não havia mais o que falar, Jon despediu-se polidamente e voltou para os seus aposentos, dessa vez com Fantasma caminhando silenciosamente ao seu lado. A cama era macia e o quarto estava aquecido, mas Jon não conseguiu dormir. Passou a noite olhando para as vigas no teto ou amolando o gume de Garralonga, enquanto ouvia o vento ululante do lado de fora e sentia o cheiro verde e lamacento do pântano ao seu redor.
O sol era uma coisa pálida e distante quando o dia nasceu. Jon tomou seu dejujum ao lado de Meera, Howland e sua esposa, Lady Jyana. Ela parecia encantada que as roupas lhe serviram bem. Foram feitas por ela mesma, uma cortesia caso algum hóspede do tamanho dele necessitasse. Era tão cranogmana quanto Reed e a filha, os olhos do mesmo tom de verde de Meera. As histórias do Norte diziam que os cranogmanos descendiam dos Filhos da Floresta, Jon estava começando a acreditar nelas.
O domínio dos Reed de Atalaia da Água Cinzenta era uma vasta área alagada formada por pântano e chanecas. As águas do Gargalo tinham um aspecto esverdeado em alguns pontos e cinzentos em outros. Altas árvores formavam labirintos, suas raízes escuras e retorcidas entrelaçadas em uma árdua batalha sob a água. Algumas eram tão grandes e tão arqueadas que formavam arcos escuros, sendo possível um homem atravessá-las em pé sobre um barco.
As copas escuras estendiam-se em direção ao céu, formando uma cobertura natural sobre aqueles emaranhados de galhos, escondendo em muitos pontos a luz do céu e o que vivia embaixo de olhos curiosos. Em alguns trechos, uma densa bruma subia das águas, dando um aspecto fantasmagórico a Floresta. Cipos enrolavam-se em seus troncos e penduravam-se em seus galhos como serpentes. Alguns são, Meera havia lhe dito durante o caminho até Atalaia da Água Cinzenta, depois que o resgatara em Fosso Cailin.
Howland Reed conduzia com destreza a jangada que os levava, sobre aquela água. A vara que segurava deslizando suavemente sobre o pântano, desviando de juncos e de troncos caídos apodrecidos ou cobertos por musgos e lodo. Jon agora entendia porque diziam que apenas os Reed e os cranogmanos que viviam ali conheciam os caminhos do Gargalo. Muitos homens haviam tentado conquistar Atalaia da Água Cinzenta e todos eles perderam a vida para aquelas águas cinzentas.
- A água do martelo nos protege dos invasores - Meera usava um gibão de escamas cor de bronze e trazia no cinto uma longa faca de bronze. Ao seu lado repousavam um escudo de bronze, uma rede trançada, um elmo de ferro enferrujado e uma lança de sapo de três pontas
- O martelo das águas?
Ela fez que sim.
- Foi enviado pelos Cantores e os videntes verdes para separar Westeros de Essos e impedir o avanço dos Primeiros Homens. E depois.... quando os Cantores tentaram dividir Westeros em duas, separando Norte e Sul. A tentativa falhou, mas foi assim que o Gargalo e suas águas foram criadas.
- Sim, eu conheço essa história.
- Não são histórias, Jon Snow, foi assim que aconteceu - Assim como os pais, ela usava uma capa verde feita de um tecido estranho que parecia fundir-se com o verde profundo da floresta - É por isso que o pântano nos protege de invasores, a nós e a todo o Norte. As águas se recordam.
Talvez se recordassem e Jon esperava que se lembrassem daquilo quando os Outros chegassem, embora não nutrisse esperanças quanto a isso.
- Por que chama os Filhos da Floresta de Cantores?
- Porque era assim que eles chamavam aa si próprios. Aqueles que cantam a canção da terra, na Língua Verdadeira.
Jon refletia sobre o assunto, quando Jayne sussurrou enrolando-se em sua capa, para proteger-se do frio:
- O pântano está silencioso. Ele dorme.
Quando a jangada atingiu a margem lamacenta do pântano e seus ocupantes começaram a descer, Fantasma foi o primeiro a deixar embarcação.
- Os animais não gostam desse frio... eles também sentem - O cranogmano respondeu para a mulher e em seguida acenou a cabeça para Jon, liderando o caminho - Chegaremos ao castelo em meio dia.
Aquilo surpreendeu Jon.
- Desculpe-me, senhor. Mas como isso é possível? Estamos mais próximo do Sul, é verdade, mas ainda há meio mundo de distância entre Harrenhal e este pântano?
Meera deu uma risadinha:
- Meu povo usa suas próprias estradas, Jon Snow. Você ficará surpreso.
Jon realmente ficou quando a comitiva parou diante de um represeiro após horas de caminhada chapiscando as botas no terreno alagadiço. Ficava em uma pequena ilha, coberto por árvores antigas muito maiores do que eles. Mas era inegavelmente um represeiro com seus galhos e troncos brancos feito osso e as folhas de cinco ponta, vermelhas feito sangue. Um rosto havia sido esculpido, tinha um aspecto seco e enrugado como se árvore fosse muito antiga. As raízes eram enormes e retorcidas, como a das árvores que Jon vira durante o caminho.
- É seguro atravessar - Howland falou, entrando nas águas acinzentas e atravessando até a ilha onde ficava o represeiro. Meera também entrou na água, seguida da mãe. Em alguns pontos da travessia, a água chegou a cintura dos cranogmanos, mas não passou das coxas de Jon. Fantasma foi o último a fazer a travessia à nado. Quando chegou as margens da ilha, sacudiu os pelos e olhou para Jon aborrecido.
Reed começou a revirar as raízes da árvore até encontrar uma passagem escura que se estendia para baixo da terra, parecia uma enorme toca de animal.
- É uma passagem - Reed explicou - Antiga como o pântano a nossa volta. Existem estradas, Jon. Subterrâneas, escavadas pelos Cantores na época em que as árvores foram cortadas com machados e fogo pelos primeiro homens. Se espalham por várias partes de Westeros. Vai precisar se arrastar para entrar - olhou para Fantasma - e o lobo também.
Reed ajudou Meera a entrar e depois Jayne, entrando ele mesmo em seguida antes de uma último olhar para Jon.
- Você o ouviu Fantasma - afagou os pelos entre as orelhas do lobo. Estava magro como ele, mas ainda era um lobo gigante e crescera a ponto de conseguir carregá-lo - precisa se arrastar para conseguir entrar.
Fantasma se afastou de seu toque, farejou a árvore e a boca escancarada da passagem. Olhou para Jon e depois abaixou-se sobre as patas e arrastou-se para dentro. Jon esperou um instante e abaixou-se para entrar, sentindo arrepios percorrendo o corpo a medida que adentrava para o ar bolorento e parado do lugar.
- Há uma descida, tome cuidado - Veio a voz da escuridão, mas já era tarde pois em alguma parte do caminho suas mãos não encontraram a terra e ele rolou sem controle até encontrar o chão com um baque dolorido, caindo sobre galhos quebradiços, enrolando o manto em torno do corpo - A primeira vez é sempre difícil - Reed o ajudou a ficar de pé . Jayne segurava uma lamparina e levantou para enxergar Jon, foi quando ele percebeu que o som quebradiço sob suas botas vinham de ossos antigos espalhados pelo chão. A maioria eram ossos de animais, mas ele também viu alguns crânios, um fêmur e outras partes grandes demais para serem ossos de um lagarto leão do pântano.
- Não vai demorar muito - Meera falou em tom tranquilizador - fique entre nós e estará seguro. Tome, pegue isto. - Ela lhe entregou uma lamparina e Jon percebeu que dentro dela não havia fogo, mas vaga-lumes que emitiam uma luz dourada brilhante. - As árvores não gostam do fogo - ela explicou.
- Elas também se lembram?
- Sim e iremos atravessar uma para chegar até a Rainha Dragão.
- Como assim atravessar?
- Você verá.
O caminho foi estreito durante a maior parte do tempo, mas parecia descer cada vez mais fundo na terra. Raízes brancas se estendiam pelas paredes e solo irregulares, formando uma enorme teia. Os cinco caminharam em silêncio respeitoso e a pouca conversa era feita entre sussurros.
Em algumas partes Jon precisava abaixar-se ou engatinhar para poder passar, já que era muito maior do que os cranogmanos e dos prováveis criadores daqueles túneis secretos.
A jornada o fez lembrar-se de Ygritte e a história que ela lhe contou sobre o Caminho de Gorne, um conjunto de cavernas espalhadas pelo norte que se estendia, segundo ela, mesmo sob a Muralha.
Há três mil anos, Gorne, um rei para lá da Muralha, levara uma tropa do povo livre pelas cavernas. A Patrulha não os percebeu, mas os lobos de Winterfell caíram sobre eles. Quando Gorne matou o Rei do Norte, foi morto logo em seguida pelo filho mais velho do falecido rei, que herdara o trono. O irmão de Gorne, Gendel, liderou a retirada desesperada do povo livre.
As histórias em Winterfell diziam que Gendel fora morto pelo Patrulha da Noite, mas Ygritte jurara que ele levara o que restou de seu povo de volta às cavernas, mas não as conhecia tão bem quanto Gorne. Gendel e seu povo desceram mais e mais pelas cavernas, até que não restara nada além da escuridão e da morte. Jon esperava que Reed conhecesse aquele caminho, pois ideia de um conjunto de cavernas escondidas sob os montes e montanhas de Westeros era ao mesmo tempo aterrorizante e fascinante.
- Aqui estamos - Reed pronunciou iluminando o caminho. A passagem estreita se abrira para uma caverna ampla e úmida onde o único som era o gotejar incessante de água deslizando pelas pedras. No centro da caverna, inclinado de forma estranha para a direita, outro represeiro.
A madeira irradiava um brilho leitoso, como o luar. O rosto esculpido era mais velho do que o da árvore por onde entraram. Tinha a aparência de eras. Um rosto enrugado, pálido e encolhido, mirrado como de um velho. Estava de olhos fechados e parecia morto, mas um passo de Reed fez com que os olhos da árvore repentinamente se abrissem. Olhos vermelhos e terríveis. Antigos e sábios.
- Quem está aí?
- Sou Howland Reed, de Atalaia da Água Cinzenta, Senhor do Gargalo e Protetor dos Cranogmanos. Do sangue dos antigos Cantores e dos Primeiros Homens e peço que me deixe passar.
- Deixe o seu sangue - a árvore falou com uma voz rouca e pegajosa, como se há muito tempo não fosse ouvida ou falasse.
Uma faca surgiu nas mãos de Reed e um corte foi feito por ele na palma da mão. O sangue vermelho brilhou escuro na fraca luz da caverna, caindo em gotas nas pedras do chão. Reed passou a mão pela boca da árvore, deixando-a vermelha não de seiva, mas de sangue. Jon observou tudo sem piscar. Depois de um tempo, a medida que o sangue de Reed escorria pelo tronco cor de osso, a árvore disse:
- Podem passar - Então sua boca enrugada suja de sangue se abriu, se abriu e se abriu, até não restar nada a não ser uma enorme boca formando uma passagem.
- Nos vemos do outro lado - Reed disse atravessando o grande arco enrugado formado pela boca. Sua esposa e filha o acompanharam e mais uma vez Jon e Fantasma ficaram para trás, a cabeça girando com um milhão de coisas ao mesmo tempo. O que era aquela coisa diante de seus olhos? Já havia visto de tudo, mas nunca uma árvore que podia falar. E se o cranogmano estivesse certo, Daenerys estaria do outro lado. Ele só precisava atravessar aquela porta, mas seu coração batia acelerado, ansioso, cheio de dúvidas. Ela vai me odiar ainda mais. Por fim respirou fundo e se decidiu:
- Vamos, Fantasma.
Foi como andar por um corredor, Jon não soube por quanto tempo andou, mas de repente viu uma luz leitosa e a atravessou. Quando piscou, um céu cor de chumbo se espalhava sobre sua cabeça e ao longe estardantes coloridos tremulavam sobre uma enorme muralha de um enorme castelo. Quando virou para trás viu uma árvore coração, com um rosto terrível e cheio de ódio a contemplar o bosque em silêncio perpétuo. Não havia uma gigantesca boca escancarada e nada que indicasse que Jon havia saído dali.
- Esse é o bosque sagrado de Harrenhal - Reed contemplou - parece que chegamos a tempo da coroação.

NOTAS FINAIS

Voltei!!!

Após quase um ano refletindo como levaria Jon o mais rápido possível para Harrenhal, enfim encontrei uma solução após reler ASOIAF. Existe mesmo uma árvore que fala em Fortenoite e é usada por Bran para atravessar a Muralha. Só fiz algumas adaptações.

Agora que Jon está no mesmo lugar que a Dany eu espero conseguir escrever com uma frequência maior. Claro que minha longa ausência não foi fruto apenas de bloqueio criativo, muitas coisas aconteceram desde a última vez em que atualizei. Mas eu realmente não sabia como juntar as duas partes da fic sem que fosse necessário passar muito tempo, já que é uma longa jornada do Norte até o Sul e as coisas precisavam acontecer. Até 😘




Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora