O Fim das coisas que você amou

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Por que eu ainda consigo senti-lo?
A pergunta ecoou por sua mente contra sua vontade quando sua lâmina cortou a carne de Jon Snow e Daenerys Targaryen conseguiu sentir sua dor e agonia.

Hesitou.

A lâmina de fogo parou a centímetro do coração do homem que fora seu algoz enquanto ele perdia a consciência por conta do fogo mágico que percorria agora pelo seu corpo.  Daenerys prendeu a respiração quando o olhou nos olhos enquanto ele se perdia para a escuridão.

Por que eu ainda consigo senti-lo?
Podia sentir seus batimentos, contar cada pulso de seu coração, cada fôlego da vida dele em suas mãos. Mas havia aquela sensação paralisante vazando do corte, uma dor tão profunda que deixou sua mão imóvel.

Puxou a lâmina de volta, devagar, vendo o fogo retrocedendo e desaparecendo como pequenas fagulhas brilhantes, fazendo adaga voltar ao seu tamanho normal.

Olhou para o corpo  do homem caído sobre a neve, lembrando-se das palavras de Aisha antes que ela montasse em Drogon no pátio da Fortaleza Vermelha e partisse.

- Você vai matá-lo também, quando encontrá-lo.

De algum modo ela sabia que a mulher falava de Jon Snow. Calçou suas luvas negras devagar, mantendo o rosto inexpressivo.

- Você vai continuar a protegê-lo?
Aisha não respondeu, o que a irritou um pouco.

- Fique fora do meu caminho. Jon Snow é assunto meu. Você disse que ele seria meu se eu fizesse o que você queria. Aqui estamos nós.

- Sim, mas é que...  – Dany percebeu que ela escolhia bem quais palavras usaria – Jon Snow é um renascido, como você. Não  acredito que seja sem um motivo. R’hollor não faz nada sem um propósito.

- Talvez o propósito do seu Deus tenha sido revivê-lo para que ele pudesse me matar para que eu lutasse a  sua guerra, do seu modo. Então eu vou avisá-la pela última vez, fique longe do meu caminho. Não foi a sua vida que ele roubou.

A mulher apenas sorriu, com uma nota de tristeza e pesar que espalhou arrepios pela pele de Dany.

- Jon Snow é mais para você do que você consegue admitir, Daenerys. É isso que a incomoda mais.

Agora olhando para aquele homem inconsciente caído sobre o chão, Dany ponderou se Aisha tinha razão sobre o plano de algum deus para ele. Era algum deus estranho segurando a sua mão naquele momento? Os deuses que a  observavam pelos olhos vermelhos daquela árvore coração as suas costas? Ou era o sangue que ambos partilhavam que a segurava? Ele  a traíra, mas era sangue do seu sangue. Assassinos de parentes eram amaldiçoados, ela sabia. Era por isso que doía tanto sentir seu coração? Os deuses o castigaram com uma alma em tormento por ter derramado o sangue dela?

Minha alma também está em tormento, Jon Snow.

O vento frio uivou entre os ramos escuros das árvores e a neve aumentou, caindo em flocos cada vez mais finos persistentes. Observou o rosto dele, pálido sobre o gelo. O rosto que um dia ela amou.  Tentou manter os olhos bem abertos enquanto o encarava pois sabia que se os fechasse, começaria a chorar. Ela estava falhando. Desejou a morte dele de todo coração e estava  falhando. Não sou como ele, tentou dizer a si mesma, eu sou melhor do que isso, mas em algum lugar dentro si, sabia que estava mentindo.

De algum modo ele havia conseguido atravessar a barreira mágica que ela levantou sobre a floresta e a encontrou. Dany sentiu sua aproximação, o viu através de Drogon, o suficiente para que sentisse sua velha raiva perfurando seu coração. Quando ele ousou chegar perto demais, ela só queria machucá-lo, do jeito que ele a machucou.

Havia outros atrás dele, no entanto. Aliviou a pressão sobre a barreira e esperou. O primeiro que chegou foi o lobo. Ele nunca estivera longe o bastante , apenas a espreita esperando uma chance para atravessar. Fantasma a encarou da borda das árvores, envolto nas sombras da floresta, seus olhos vermelhos eram dois poços escuros engolindo a noite fria. Dany notou o quanto ele havia crescido, muito maior do que ela conseguia se lembrar.

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