A Torre dos Fantasmas

65 11 0
                                    

O lobo correu sobre um tapete de folhas em putrefação, as patas saltando silenciosamente sobre os troncos caídos cobertos de neve. Ao longe um rio corria, as águas um rugido constante, o cheiro da água afogando os seus sentidos. Ainda assim o lobo podia ouvi-los. Uma centena de pequenos primos, percorrendo o cheiro de sangue fresco na colina, o som suave de suas patas sobre o chão rico e macio.


Antigamente havia seis deles, agora só restara ele e a irmã cinzenta de olhos amarelos. Na escuridão do dia, farejou as árvores sentindo o cheiro deles, o cheiro dela. Cheiro de lobo e represeiro. Urinou em uma das árvores para ter certeza, o jato quente subindo em pequenos fios de fumaça na manhã fria. Muito fria.


Ele explorou seu novo território e quando a oportunidade surgiu, capturou uma lebre desavisada, a sufocando entre os dentes longos e afiados então enfiando o focinho em sua barriga quente e macia para saciar a fome. A carne era macia e descarnada, mas muito melhor do que as presas com asas que encontrara na toca do homem.


Restava apenas os ossos e o cheiro ferroso do sangue da lebre quando a irmã apareceu. Um vulto enorme e cinzento se movendo na escuridão das árvores, os olhos amarelos brilhando como uma fogueira, os enormes dentes arreganhados para ele, os primos menores formando um círculo em torno dele.


O lobo levantou-se devagar, sem emitir um único som. Era muito maior do que a fêmea, podia vencê-la em uma luta. Mostrou os dentes pra ela quando seus olhos se encontraram, os pelos enriçando em seu pescoço, as garras afiadas deixando a maciez de sua carne. Ela tinha cheiro de morte.


Mostrou seus longos dentes ainda sujos de sangue e carne, mas dentro dos olhos da irmã viu uma enorme colina coberta de neve, varrida pelo vento. Uma nuvem de corvos alçava voo de uma árvore com folhas vermelhas, as raízes brancas feito osso descendo sob o solo, rodeada por tocos de antigos represeiros. Tinha cheiro de carne em decomposição e de seu largo tronco, o rosto de um menino observava, mas o irmão não estava mais ao lado dele. Havia morrido.


- Jon - a voz da irmã o chamou e algo afiado o afastou de dentro da loba como a ponta afiada de uma agulha.


- Arya...


O nome dela escapou de seu lábios secos quando ele acordou do sonho, sentando-se na cama com os fios escuros do cabelo grudados ao rosto. Foi preciso algumas minutos para que ele pudesse se ajustar, enquanto encarava a pedra escura da Torre dos Fantasmas, onde agora ficava seus aposentos. Uma cela pequena, por baixo da devastação deixada pelas chamas quentes de Balerion, o dragão de Aegon, o Conquistador.


Era a mais arruinada das cinco imensas torres de Harrenhal e erguia-se escura e desolada, atrás dos restos de um septo que talvez apenas os fantasmas visitasse. Por seu grande estado de destruição, era o local menos ocupado do castelo e a escolha ideal para alguém como ele.


Howland Reed e seus cranogmanos se reuniram na Torre do Pavor. Reed convidara Jon a juntar-se a eles, mas optara pela solidão da Torre dos Fantasmas e não queria que ninguém fosse visto andando com ele.


No seu primeiro dia no castelo, após a coroação dela, fora abordado por dothrakis. Eles se lembraram de seu rosto e Fantasma era um lembrete constante do que ele era. O rosto ainda doía no local onde um deles o acertara, cuspindo pragas em sua direção. Jon se levantava do chão quando Fantasma apareceu do nada e derrubou o homem na neve suja do chão com uma força tão violenta que a boca do dothraki sangrou. Um murmúrio de surpresa veio da pequena aglomeração de pessoas que pararam para assistir.


- Fantasma, aqui - Jon pediu, mas o lobo mostrava os enormes dentes e os olhos vermelhos fitavam o homem com promessa de sangue e ossos quebrados - Deixe-o, Fantasma!

Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora