O Último Filho do Rochedo

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A manhã sobre Porto Real era fria, mas Tyrion Lannister suava por debaixo de suas vestes de dormir, enquanto suas pernas bamboleavam apressadamente pelo longo corredor da Fortaleza de Maegor, onde agora ficava os aposentos reais e também o seu, a Mão do rei Bran Stark, o primeiro de seu nome.

Fumaça e poeira inundavam o ar em torno da fortaleza e tornavam difícil respirar. O cheiro de queimado lhe causava arrepios e lhe lembrava do dia em que Daenerys Nascida da Tormenta reduzira Porto Real a cinzas e brasas. Suas pernas doíam quando ele alcançou a pequena sala de reunião onde o pequeno conselho do rei estava reunido. Eles se levantaram e o cumprimentaram respeitosamente assim que o viram e voltaram a se sentar quando Tyrion Lannister assumiu o seu lugar na mesa de reunião. Ele gostava daquilo.

- O que temos? - Perguntou sombriamente, no fundo já temendo a resposta.

- Toda a frota real que estava na Baía do Água Negra foi destruída - Brienne de Tarth informou com sua voz profissional - assim como os barcos mercantes, inclusive as embarcações bravosis que estavam ancorados no porto. Não estão nada contentes, senhor Mão. Foram salvos graças... hã... parece que se divertiam numa casa de prazeres e agora exigem da Coroa novas embarcações.

Uma ruga profunda marcou a testa de Tyrion e ele desejou uma taça de vinho logo pela manhã. Os bravosis eram notavelmente conhecidos pela usura excessiva quando o assunto envolviam dividas e restituições.

- O dragão também derrubou as partes da Fortaleza Vermelha que estavam sendo reconstruídas, milorde – Samwell Tarly balbuciou com uma voz tremula. Sua testa brilhava de suor. Tyrion não podia culpa-lo - Todo nosso trabalho reduzido a cinzas novamente. Não houve tempo para usar os novos escorpiões que eu criei.

Tyrion imaginava que não. Fechou os punhos contra a cadeira para esconder seus dedos trêmulos. Ele sabia que um dia aquele dragão viria, mas algo lhe dizia também que ele não cairia duas vezes no mesmo truque. Cersei tivera sorte ao derrubar Rhaegal. Tyrion sabia que aquilo não aconteceria outra vez. Permitiu que novos escorpiões fossem criados e distribuídos pelo reino para que eles se sentissem confortáveis. Ele veio atrás de mim, como eu imaginei que um dia ele faria. Nós matamos a sua mãe e ele ainda era um dragão. Dragões não se esquecem. E embora ele não fosse um dragão, havia um só dia em que Tyrion Lannister não pensasse em Daenerys e seus cabelos prateados. Em Drogon e o que ele pediu a Jon Snow para fazer com a sua mãe.

- Alguma notícia de Sor Davos Seaworth? Ele estava com parte da frota real em Pedra do Dragão?

O silêncio que caiu sobre a sala foi quebrado pelo rangido das rodas da cadeira do rei sendo empurrada por Podrick Payne. Todos se levantaram na presença do rei Bran em cumprimento.

- Drogon atacou Pedra do Dragão também – o rei falou com sua voz calma e destituída de calor depois que todos estavam novamente sentados - Os barcos e a fortaleza dos antigos senhores do dragão.

A casa dela, Tyrion pensou sentindo o chão se abrindo embaixo de sua cadeira.

- Sor Davos se reunia na fortaleza com seus homens mais próximos e sua nova esposa, a senhora Jocely Caron das Terras da Tempestade – Bran continuou falando num tom casual que Tyrion aprendera a odiar, embora soubesse que o rei não fizesse por mal ele era apenas... frio – Todos que estavam na sala da mesa pintada estão mortos.

Um novo silêncio caiu sobre a sala. Tyrion engoliu a seco. É minha culpa. Eu cedi a casa dela para ele... A casa dos dragões. Pensou em Jon Snow, em seu rosto destruído na última vez que eles se viram nas celas negras que ficavam embaixo das ruínas da Fortaleza Vermelha e na pergunta que o tolo rapaz fizera. Foi certo, o que eu fiz? Porque eu sinto que não foi. Tyrion Lannister não tinha respostas para aquilo. Pela primeira vez lhe faltara palavras e algo inteligente para dizer. Mas no fundo, ele também se perguntava se fora certo. Por que somente agora, Drogon?

Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora