As Terras das Sombras

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Era diferente quando ela voava sozinha nas costas de Drogon, sentada entre as espinhas de sua coluna e sentindo o calor do corpo do dragão entre suas coxas.

Gostava de levar Drogon até o alto das nuvens e depois despencava com ele, sentindo o sopro do vento atravessando seus ouvidos, a umidade do ar grudando em sua pele e um frio súbito na boca do estômago. Quando eles caíram daquela vez, Drogon esticou suas grandes asas a poucos metros do verde profundo do Mar de Jade, seu enorme corpo arrastando sobre a água, abrindo passagem entre respingos e espumas. Peixes dourados saltavam das ondas e embaixo da sombra do dragão criaturas disputavam sob a superfície da água, às vezes pulando no ar e mergulhando em seguida. Fazia tempo que ela não fazia algo tão prazeroso, eu perdi muito do sabor pela vida, mas voar em Drogon fazia com que ela se sentisse viva e inteira mais uma vez.

O ar ficou mais denso quando eles alcançaram as Ilhas das Manticoras, as águas que batiam nas rochas eram mais profundas e escuras até assumirem o aspecto cinzento conforme eles avançavam mar adentro. O vento era mais gelado ali e o cheiro ficava cada vez mais rançoso a medida que mulher e dragão se aproximavam da cidade antiga de Asshai. Seu porto ficava no fim de uma longa fatia de terra, no ponto em que o Mar de Jade finalmente se encontrava com o Estreito do Açafrão.

Drogon pousou suavemente ao lado de um rio silencioso e escuro. Um cheiro bolorento emanava de suas águas negras e reluzentes, tornando difícil respirar. O nariz de Daenerys queimou e ela tossiu enquanto descia das costas de seu grande dragão.

Tudo era pedra e negro em Asshai, não havia árvores e nem plantas no chão. As construções eram feitas de uma pedra negra que parecia beber toda a luz. Montanhas lisas subiam ao norte, escondidas entre névoas e uma mancha escura sobre o céu. Um miasma frio e fedorento se levantava do rio, dificultando a visão e escondendo a figura sinistra enrolada em mantos negros e usando uma máscara de laca vermelha, que se aproximou através da névoa.

- Daenerys Targaryen, é um honra para mim encontrar mais uma vez a Mãe dos Dragões – sua voz era um sussurro baixo e gelado. Drogon rosnou para ela, mostrando seus dentes afiados e soltando fumaça pelas ventas - Ele cresceu bastante, não passava de uma cria quando nos conhecemos.

Daenerys Targaryen olhou desconfiada para figura sinistra parada a sua frente.

- Já nos encontramos?

- Que indelicadeza a minha, peço desculpas - Ela fez uma reverencia respeitosa - Nos encontramos no Deserto Vermelho, Daenerys. Eu me chamo Quaithe.

Daenerys lembrou-se de Pyat Pree, Xaro Xhoan Daxos e da mulher escondida atrás de uma máscara de laca vermelha que seguia os dois homens em cima de uma camelo. Eles a encontraram junto com o seu khalasar minguado e os levaram para dentro das muralhas de Qarth.

- Você disse a Sor Jorah que eu deveria deixar Qarth.

- Você fez bem em deixar.

- Não teria como eu ficar depois que meus dragões foram roubados e eu destruí Pyat Pree e seu templo.

- A Casa dos Imortais.

Sentiu um arrepio percorrendo seu corpo. A Casa dos Imortais fora o local aonde ela vira o Trono de Ferro e a Fortaleza Vermelha destruída com neve caindo através dela, o lugar aonde ela havia morrido sem nunca tocar no trono de seus antepassados.

- O que você viu?

Os olhos da mulher brilhavam escuros por trás da máscara.

- Ninguém nunca deixou o templo dos imortais com vida.

Daenerys sabia que ela era uma umbromante, uma feiticeira que conseguia controlar as sombras segundo a sua vontade. Eles usavam uma máscara para esconder o seu rosto dos homens e dos deuses, precisava ter cuidado. Em Westeros diziam que Renly Baratheon havia morrido vítima de uma sombra levada até ele por seu irmão mais velho, Stannis, graças a Senhora Melissandre.

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