A Ira do Dragão

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Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão

(Metal contra as nuvens - Legião Urbana)

***


- Queimem todos!

Sua última noite em Pedra do Dragão fora angustiante. Daenerys se lembrava dos calafrios, do frio na boca do estômago, do som de asas e do fogo verde inundando cada um de seus sonhos. No meio das chamas fantasmagóricas, um homem sentava numa cadeira de ferro enquanto sombras brancas dançavam em volta dele. Ele parecia aflito. Angustiado e gritava para Daenerys: Queimem todos!

Depois começava a contar. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. E suas mãos cobertas por crostas se cortavam contra as lâminas afiadas da cadeira enchendo a sala de sangue. Onze. Doze. Treze. Catorze. Quinze. Dezesseis. Dezessete. Dezoito. Dezenove. Vinte. Então os sinos tocavam. Os portões da cidade se abriam. O leão dourado atravessava os portões em cima de seu cavalo orgulhoso. Seu estandarte carmesim tremulando no ar quente do fogo verde. Os leões se espalhando, golpeando e cortando. Mulheres sendo estupradas. Crianças sendo massacradas. No trono o homem gritava e contava: Queimem todos! Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Queimem todos... Então uma espada dourada o atravessava. Seus sangue escorria pelo chão enquanto nas paredes os antigos dragões assistiam. Balerion. Daenerys ouviu os sussurros de fantasmas de outrora.

Então Dany afundava na água. O ar escapando de seus pulmões em bolhas. No céu o fogo verde ardia e ela conseguia ver pequenos rubis afundando como gotas de sangue. – Conte - Veio a voz. - Conte.

Dany contou. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Ela nadou para fora daquela água. Seus pés tocando margens enlameada enquanto uma guerra sangrenta explodia nas margens do rio. O clangor das espadas a fez tapar os ouvidos. Lobos, Águias e Veados lutavam contra as Rosas, o Sol e o Dragão.

Os homens caiam mortos aos seus pés. As tripas vazando das entranhas enquanto as águas eram tingidas de vermelho em meio aos gritos de dor e desespero. No meio das águas sangrentas, Dany viu o Veado da Tempestade e o Dragão Negro se chocando. O dragão dizia algo, mas o veado respondia com a força de seu martelo de guerra. Então o dragão avançava, implacável dentro de sua armadura negra feito a noite. O veado caiu sangrando nas águas turbulentas. O dragão de pé abaixou a sua espada ensanguentada e quando algo pareceu chamar sua atenção, olhou na direção em que Daenerys estava. O ar carregava o gosto do sangue derramado naquele dia, mas quando os olhos de Daenerys se encontrou com os olhos cor de índigo do homem, o tempo congelou. Então o peito dele explodiu quando o martelo de guerra o atingiu. Os rubis soltando de seu peito e o sangue do dragão se espalhando contra a correnteza enquanto ele morria e Daenerys assistia tudo sem conseguir se mexer.

Quando suas pernas a obedeceram, Daenerys correu até ele o mais rápido que conseguiu. Seus pés afundando em lama e carne morta. Quando o alcançou, ele jazia já há muito tempo dentro da água enquanto os corvos se banqueteavam do que restara dele e dos mortos afundados no rio num verdadeiro festim. O crocitar sinistro dos corvos espalhava um arrepio gelado pelo corpo de Daenerys.

Naquele dia ela havia acordado chorando em Pedra do Dragão, enquanto nas paredes os dragões de pedra esculpidos pelos valirianos de outrora assistiam seu sofrimento num silêncio mudo. Daenerys se lembrava do tremor que abalava seu corpo. Da sensação dos dedos frios em volta de seu pescoço, sufocando-a. Ela pensou em cancelar o ataque em Porto Real naquele dia. Pensou em Jon e na segurança de seus braços. Pensou em enviar um corvo para o acampamento onde seus exércitos estavam reunidos. Pensou em muitas coisas naquele dia enquanto o sonho a assombrava. – Apenas conte - A voz repetia.

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