O abismo entre nós dois

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Daenerys Targaryen vive

Ao ouvir aquelas palavras combinadas, Jon Snow foi tomado por uma série variada de sentimentos. O primeiro deles foi a fria e afiada raiva.  Tanta raiva que ele julgou que fosse explodir. Ao seu lado Fantasma enrijeceu, mostrando seus dentes enormes para a Rainha do Norte. Imediatamente quatro guardas se colocaram entre os três.

Jon piscou e Fantasma recuou, mas ele ainda queimava.

- Não tem graça, Sansa - sua voz era fria como um pedaço de gelo.

- Não, não tem.

A rainha mexeu em um dos bolsos de seu vestido cinza e ofereceu um pedaço de pergaminho a Jon. Ele hesitou, mas por fim o pegou, desenrolando-o com cuidado e lendo a mensagem enviada pelo próprio Tyrion Lannister, a Mão do Rei. Estremeceu.

Drogon foi visto no Leste, desta vez com sua mãe. Seu irmão,  o rei, está de acordo. Daenerys Targaryen vive.

Jon releu aquelas palavras várias vezes, de novo e de novo, tentando fazer seu cérebro compreende-las.

Para aonde você a levou, Drogon?

A segunda onda de sentimentos que o abateu foi de incredibilidade, seguida por uma sensação pungente de alívio. Ao longe ele achou que ouviu vozes de pessoas tentando falar com ele e uma neve fria beijando seu rosto quente. Mas seu ouvido  apitava, abafando como se ele estivesse submerso. Tudo o que conseguia ouvir era sua respiração rasa e difícil e o trovejante som  do seu coração dentro do peito.

Ela  estava viva? Daenerys vivia.

Então ele agradeceu aos deuses em silêncio, sentiu lágrimas escorrendo pelo rosto e quis ir até ela, atravessar o continente, o mar, para encontrá-la. Percebeu que suas pernas o levavam para algum lugar, afundando seus passos agitados sob a neve fofa e fresca.

Ele nunca imaginou, nunca sonhou, nunca se atreveu a ansiar por aquele momento. A morte dela fora a sua. Fora seu castigo. Jon a tinha matado. Sentiu o sangue quente dela molhando suas mãos. Sua adaga atravessado sua carne macia e seus ossos. Ele nunca tivera motivos para ter esperanças. Ele sentira a morte dela, em cada parte de seu ser. Mas  Drogon...

Para aonde você a levou, Drogon?

Jon Snow quis gritar, gritar e gritar, mas não conseguiu. Ele sabia? No fundo ele sabia? A terceira onda de sentimentos que o atingiu foi de impotência,  vergonha e pura agonia. Ela vive e sabe o que eu fiz. Sabe que eu a matei. Não há mais nada entre nós dois além de um profundo abismo de sangue.

Ele nunca soubera explicar como acontecera, mas de repente a neve estava pressionada contra seu rosto febril, entrando por sua boca e nariz. Jon Snow  não conseguiu ouvir nada além dos gritos.


NOTAS FINAIS

Capítulo curtinho só pra encerrar o que começamos com Jon no anterior.

Jon Snow me deixa tão tão triste, mas ainda não consigo escrevê-lo de um jeito diferente. Ele exige que seja assim. Percorrer todas as camadas de seus sentimentos é uma das coisas que mais gosto de escrever nessa fic.

Sabemos que Jon não teve culpa diretamente, mas para o mundo, foi ele que matou Daenerys. E mesmo que ele saiba sobre Bran, ele ainda não consegue se livrar da culpa e da ideia de que foi sua mão e seu beijo que a matou. É mais um conflito que terá que se abordado com cuidado.

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