Sangue do Dragão

A Última Lareira

Estrondosos trovões rasgavam o céu, como feridas brilhantes contra a escuridão da noite, quando Daenerys Targaryen e Drogon alcançaram as gigantescas torres de Harrenhal, o maior castelo já construído nos Sete Reinos. Quaisquer tivessem sido os nomes que Harren, o Negro, quisera dar às suas torres antes da chegada de Aegon e Balerion, estavam havia muito esquecidos. Eram chamadas de Torre do Terror, da Viúva, dos Lamentos, dos Fantasmas e da Pira do Rei.

Uma chuva torrencial despencava das nuvens, enchendo o mundo com chiados molhados. Poças enormes se formavam no espaçoso pátio do castelo quando ela pousou, descendo em seguida de seu dragão em meio a lama e a neve. Drogon silvou para a tempestade , visivelmente irritado com toda aquela água e frio, a própria Daenerys sentia que a qualquer momento poderia se afogar.

Trovões continuavam rasgando o céu, tornando a noite em dia a cada nova explosão. Apesar da cortina pesada de água que a chuva formava, Dany conseguiu ver que alguns pontos do castelo brilhava com uma luz esverdeada aonde as pedras de fogo queimavam.

Era algo que ela conhecera em Ashai. Uma vez acesas com fogo de dragão, as estranhas pedras negras de aspecto oleoso, ardiam para sempre, sem nunca se extinguir completamente. Seria algo útil para um mundo que ficava cada vez mais frio e que dependeria cada vez mais do fogo, mas também significava a presença de feiticeiros do outro lado do mar na sagrada Westeros dos deuses dos Ândalos e dos Primeiros Homens. A rainha suspirou, voltando-se para Drogon.

— Vá para o Salão das Cem Lareiras, meu querido, mas só queime se houver necessidade.

O dragão silvou ainda mais alto, soltando uma nuvem de fumaça pelas narinas que se perdeu contra aos pingos gelados . Ele bateu as asas duas vezes e então se arrastou como uma grande serpente alada em direção as enormes portas do grande salão. Altas e largas o suficiente para que até mesmo ele as atravessasse.

A rainha estivera lá antes de seguir viagem para o Norte. Era um salão cavernoso, imenso como nada do que ela já vira antes, e isso era muito para alguém como Daenerys, que já vira parte considerável das maravilhas do mundo.

Fora naquele salão que seu ancestral, Jaehaerys I, realizara o Grande Conselho de 101 para decidir sobre sua sucessão ao Trono de Ferro, reunindo senhores e pessoas de todo o reino. O lugar era conhecido como o Salão das Cem Lareiras, embora fosse um grande exagero. Dany contara trinta e tantas enquanto estivera ali. Mesmo assim Harrenhal era vasto. Muralhas, portas, salões e degraus, tudo fora construído em uma escala desumana. Até Drogon parecia pequeno ali.

Fora por sua imensidão e localização que o castelo fora escolhido para aquela demanda contra os Outros. Seria um abrigo para os desafortunados e um lugar de repouso e planejamento para os exércitos que lutariam pela alvorada. A última lareira contra a escuridão. A última fronteira contra os Outros. Que eles venham até aqui, a rainha ponderou enquanto subia os degraus que levava à Torre da Pira do Rei, estaremos prontos. Uma figura esguia esgueirou-se pela escuridão da torre quando Dany atingiu o topo das escadas.

— Vossa Graça.

Dany olhou com surpresa para o rosto feroz de Yara Greyjoy.

— Yara...

— Minha rainha — Yara fez uma mensura profunda e a olhou com olhos brilhantes — Meu machado é seu.

Dany ficou imóvel no lugar, perguntando-se se seria descortês de sua parte se desse um abraço na mulher. Yara não estava em Harrenhal quando Dany pousara ali antes de partir para Winterfell, portanto, era a primeira vez que se encontravam pessoalmente desde que Dany retornara dos mortos. Yara se mostrara uma aliada feroz e surpreendentemente leal. Fora a única que falara em defesa de Dany e ficara ao lado dela contra todas as possibilidades. Também fora a primeira a agir em nome de Dany, graças aos sacerdotes enviados para Westeros em nome do Templo Vermelho em Volantis. Dany sentiu a boca seca, e lágrimas arderam nos olhos contra sua vontade. Seria eternamente grata a Yara Greyjoy. Estendeu suas mãos molhadas para a outra e as fechou entre as suas.