A Falsa Primavera

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AVISOS: O capítulo pode conter gatilhos para pessoas com depressão. Contém pensamentos suicidas. Aconselho a lerem o capítulo A Canção de Gelo e Fogo sonata II mais uma vez

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Então, então você acha que consegue distinguir
O paraíso do inferno? Céus azuis da dor?
Você consegue distinguir um campo esverdeado
De um trilho de aço gelado? Um sorriso de uma máscara?
Você acha que consegue distinguir?

(Wish you were here -  Pink Floyd)

***

Jon parou cautelosamente entre as peles da entrada da cabana da bruxa da qual Tormund falara, com Fantasma ao seu lado. O teto era coberto por pequenos animais secos, suspensos por ganchos de ferro enferrujado enfiados em vigas de madeiras, pequenos roedores. Havia grandes e pequenos potes com criaturas mortas boiando dentro de líquidos estranhos e uma quantidade infinita de plantas secas e coisas moídas. Um pequeno fogo queimava num pequeno buraco cercado por pedras, cavado no chão e lançava uma fraca luz alaranjada sobre as sombras da cabana. O cheiro bolorento do lugar era quente e sufocante, como algo lentamente apodrecendo - como as emoções mal cheirosas que apodreciam dentro de mim.

A mulher sentou-se diante de uma mesa forrada com peles de animais, ela não era jovem e nem velha e o olhou com um brilho de desafio nos olhos.

Olhos úmidos e profundamente verdes, Jon sabia, como os musgos que cresciam sobre as rochas úmidas das cavernas. Fantasma deu o primeiro passo para dentro da cabana abafada e se sentou sobre os quarto traseiros enquanto a mulher sorria pra ele.

- Uma criatura interessante - ela comentou e olhou para Jon de forma penetrante - Não é todos os dias que eu recebo a visita de um rei.

- Eu não sou nenhum rei.

- Hmm, um warg então.

- E você uma vidente verde, até onde me parece. - Jon lera sobre os videntes em um dos livros da biblioteca em Castelo Negro. As lendas diziam que eram os mais sábios entre os filhos da floresta e podiam ter os olhos de um verde profundo como os musgos ou vermelhos como os olhos de Fantasma e as folhas dos represeiros.
O sorriso que ela lhe deu foi desagradável, marcado por uma carreira de dentes podres.
- Não, garoto. Apenas uma mulher com sonhos verdes e algo a mais. Mas não uma vidente verde - ela ponderou. - Você é um warg e eu tenho sonhos verdes. Os videntes podiam ser os dois. Os mais sábios dentre os filhos da floresta e entre os homens aqueles que recebiam o dom dos antigos deuses. Podiam ver através dos represeiros. Andar pelo tempo. Trocar de pele quantas vezes quisessem. Controlavam as chuvas, os ventos, as árvores e os animais das florestas. - Ela pegou pequenas runas escuras, a sacudiu nas mãos e as jogou dentro de um largo e raso cesto sobre a mesa. Fantasma mostrou a ela os seus dentes quando as runas caíram mas ela apenas assentiu para as pedras frias a sua frente - Apenas um homem em mil nasce um troca peles e apenas um troca peles em mil nasce um vidente verde. Mil olhos, uma centena de peles e uma sabedoria tão profunda e sombria quanto as raízes das árvores antigas. Eu sei por que você veio até aqui.... Venha... Pode entrar. Eu não tenho nem pão e nem sal como requerem os seus costumes sulistas, mas estamos seguros aqui.
Jon Snow hesitou, mas por fim entrou na cabana, parando cautelosamente ao lado de Fantasma. Seus dedos se enterrando inconscientemente no pelo do animal como se buscassem tirar força dele.

- Por que você me ajudaria? - Alguma coisa nela o lembrava Melissandre e seus jeito suave e traiçoeiro de falar . A mulher vermelha havia o trazido dos mortos, era verdade, mesmo assim ele era desconfiado com feiticeiros. Ele ainda se lembrava do que acontecera com Stannis Baratheon.

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