Os Espólios da Rainha

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Dizem que quando as enormes e fumegantes chamas de Drogon engoliram Pedra do Dragão, as sombras dançaram dentro da fortaleza. Os dragões de pedra entalhados nas paredes despertaram de seu sono e devoraram quem estava dentro do castelo. As testemunhas que estavam na praia estão dizendo que foi assim que Sor Davos e sua esposa, a Senhora Jocelyn Caron, morreram.

Tyrion Lannister esvaziou sua décima taça de Dourado da Árvore enquanto assistia Samwell Tarly estremecer dentro de suas pesadas correntes de meistre.

- Isso é uma grande bobagem. Eu vivi tempo o suficiente em Pedra do Dragão para saber que seus dragões de pedra não passam de pedras frias e mortas.

- Drogon também era uma pedra, milorde, até aonde sabemos - o rapaz comentou timidamente - Dizem que a fortaleza é assombrada pelos dragões, ninguém mais quer se aproximar. 

Tyrion fechou e abriu as mãos. Embora fosse um meistre, Samwell Tarly era terrivelmente supersticioso. Sabia que não podia culpá-lo, não depois do que ele viveu ao Norte da Muralha e depois em Winterfell. Você também viveu aquilo, lembrou a si mesmo.

O fato no entanto, era que o grande dragão negro não era visto desde de seu infame ataque as terras fluviais. Nem mesmo Bran conseguia encontra-lo. Talvez tenha morrido. Embora o anão duvidasse que fosse este o caso. Encheu sua taça com mais vinho e olhou o céu escuro do lado de fora. Pensar nas terras fluviais fazia sua cabeça latejar.

Yara Greyjoy, seus nascidos no ferro e os dothrakis que a seguiram para as Ilhas de Ferro marcharam pela Estrada do Rei até Correrrio e tomaram o castelo com a ajuda de Drogon e mercenários recrutados em Tyrosh. Edmund Tully havia sido capturado e junto com ele a sua esposa, a Senhora Roslin Frey. Ambos tiveram suas cabeças separadas do pescoço graças aos machados afiados dos nascidos no ferro e foram jogados nas água caudalosas do Ramo Vermelho, numa tentativa grosseira e sarcástica de representar a cerimonia funerária dos Tullys. O filho de Edmund e Roselin, era agora refém de Yara Greyjoy e as Terras Fluviais estavam sobre o controle dela.

- Os dothrakis e os mercenários de Tyrosh tomaram o controle das Gêmeas, senhor Mão, controlam agora a travessia entre o Ramo Verde e o Tridente.

No dia que ouvira aquilo de Brienne de Tarth, Tyrion pensou em suas possibilidades. Ele pensou em enviar homens da Campina e do Vale para expulsar Yara e seus homens das terras dos senhores do Tridente. Mas naquele momento, Bronn enfrentava uma forte resistência na Campina. A Cidadela e as orgulhosas casas da campina não o reconheceram como Lorde Protetor. Tyrion tentou mediar o conflito, mas uma revolta devido as pesadas taxações sobre o trigo, selou o seu destino. Após enviar seus homens de confiança para sufocar a revolta de forma sangrenta, Jardim de Cima havia sido invadida pelo cavalaria da Casa Fossoway e pelos homens da Casa Hightower. A guarnição de Jardim de Cima não resistiu ao ataque quando avistou a chama laranja no alto da torre branca da Casa Hightower tremulando sobre a cavalaria. O castelo fora facilmente rendido, os homens de Bronn foram passados na espada e sua cabeça enviada para Porto Real com um dragão de ouro enfiado entre os seus dentes quebrados. Desde então os Hightower de Vilhavelha controlavam a campina e declararam sua independência, pois não reconheciam um rei que pertencia a deuses profanos e que pertencia a um reino independente. O Vale por sua vez, se mantivera em silêncio, mas Tyrion sabia que eles também haviam sido assombrados pelo dragão de Daenerys.

A situação em Dorne não era muito diferente. Uma serpente vinda da cidade livre de Norvos, que alegava ser filha bastarda de Oberyn Martell, havia chegado a Lançassolar e assassinado o Príncipe Qoren Blackmont após atraí-lo traiçoeiramente para sua cama. Arianne Sand havia tomado o controle de Lançassolar e se declarara Princesa de Dorne. Os dorneses a seguiram de boa vontade e se dizia que nenhum dornês dobraria seus joelhos para um governante nortenho ilegítimo cuja mão era um Lannister. Tyrion havia enviado o ainda verde Senhor de Ponta Tempestade para conversar com Arianne Sand, mas temia que Gendry Baratheon tivesse o mesmo destino que o Qoren Blackmont.

Embora Drogon não fosse visto desde o ataque às terras fluviais por Yara Greyjoy, o dragão de Daenerys havia deixado uma bandeira de fogo e sangue sobre Westeros. Suas chamas incendiaram não apenas castelos e plantações, mas também a insatisfação latente de nobres e do povo comum. Era como se ele soubesse. Era como se Daenerys Targaryen estivesse ganhado, mesmo depois de sua morte, Tyrion considerou. Era como se o jogo dos tronos não tivesse acabado com a adaga que Jon Snow enterrou no coração da Mãe dos Dragões. Será que aqueles sacerdotes estão falando a coisa certa? A escuridão fria cairá mais uma vez sobre Westeros? Como foi que começou da última vez?

O rosto devastado de Jon Snow dançou diante de seus olhos, tão próximo que Tyrion conseguiu sentir seu hálito e ouvir o som de sua voz mais uma vez. Eu fiz a coisa certa? Ele havia lhe perguntado tempos atrás. Me pergunte daqui há dez anos, Tyrion se lembrava de ter respondido. Hoje achava que não era necessário. Daenerys havia queimado Porto Real e morrido logo em seguida, mas era o reinado de Bran, o Quebrado, que se levantava sobre cinzas e pó. Uma completa ruína que eu ajudei a construir.

- Me fale sobre o rei, ele anda melhor?

Conforme os dias foram ficando mais frios, Bran fora se tornando menos acessível, e também mais frio, e mal saía de seus aposentos. Podrick Payne havia lhe dito que o rei mal tocava em suas refeições e que passava a maior parte do seu tempo com os seus olhos brancos e vidrados. Inicialmente Tyrion pensou que ele estivesse à procura de Drogon e em busca de alguma ameaça que pudesse voltar a cair sobre o reino, mas agora já não tinha tanta certeza. Ele estava mais estranho do que o habitual.

- Além de dragões de Pedras e sombras, tem algo a mais que eu precise saber?

- Sim, milorde.

Tyrion sentiu um arrepio gelado o atravessando e tomou um gole profundo de vinho para se aquecer.

- Relatos de velas estranhas ao longo da costa, milorde. Testemunhas dizem que mulheres e crianças estão sendo levadas.

Tyrion franziu a testa.

- O rei falou alguma coisa a respeito?

- Não, um corvo chegou de Ponta Tempestade relatando o ocorrido.

Os homens haviam marchado com o jovem Senhor da Tempestade para a marca de Dorne, as mulheres e as crianças foram deixadas para trás como de costume.

Tyrion deu um suspiro profundo e saltou da cadeira de carvalho da sala do conselho.

- Precisamos falar com rei – afinal, para que me serve um vidente se ele não consegue me dizer aonde o martelo vai bater? – Precisamos saber o que está acontecendo para então sabermos como agir – Embora ele entendesse que crianças e mulheres sendo levadas por embarcações misteriosas fosse o menor de seus problemas. Embora ele tivesse uma leve desconfiança do que o desaparecimento dessas pessoas pudesse significar.


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Notas Finais


Bem gente, esse capítulo deveria ter sido um prolongamento do capítulo "O último filho do rochedo", mas como eu já expliquei, eu precisei dividi-lo porque percebi que precisava de um capítulo intermediário entre essas duas partes.

Como vocês podem ver, as coisas andam mal em Westeros. Eu precisava desses capítulos para montar um painel sobre Westeros e introduzir novas ideias.

Os acontecimentos narrados nesse capítulo, ocorrem simultaneamente a outros eventos que estão por ser contados, então fiquem atentos.

Sobre a Arianne, sabemos que ela é uma personagem que existe nos livros e lá ela é filha legítima de Doran Martell, mas como ela nunca foi citada no programa e tivemos um príncipe saído do nada no final, eu movi a Arianne para ser, aparentemente, uma filha bastarda de Oberyn Martell. Ter outra liderança em Dorne já era um plano, desde que eu comecei a escrever a fic, mas uma das leitoras da fic, a drizinha_light, sugeriu a Arianne um dia, então estou adotando a Arianne, ainda que por um caminho diferente. Aquele príncipe com cara de tédio que a gente viu no final do programa também ganhou um nome aqui: Qoren Blackmont (a casa Blackmont é de fato uma casa dornesa e não invenção minha). Pena que não viveu muito, né non, rs.

Para os inquietos, não estamos longe de nos encontrarmos novamente com Daenerys.

Até a próxima

Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora