Sangue do Dragão

Entre a luz e a escuridão

Zȳhys ōñoso jehikagon Āeksiot epi * 

O mundo acendia e apagava enquanto Daenerys flutuava por um mar escuro e silencioso. O único som... o rugido furioso do dragão. Ele a mantinha. Como um farol numa praia distante e deserta.

Você quer acordar o dragão?

Ela sentiu o calor, a promessa de fogo e amor. Sentiu seus braços, seus lábios e a dor. Sua boca foi afogada em sangue e desespero. Suas esperanças jogadas no escuro enquanto apenas a dor a preenchia. A dor a angustiou e a deixou mais triste. Furou seu corpo mas foi sua alma que sangrou. Ela a rasgou no meio. Transformou em cinzas o pouco o que restou.

Dany não acreditou. Ela não aceitou. Rejeitou agonia e o silêncio no qual foi atirada mas eles resistiram a ela. Ela não conseguiu. No escuro ela não conseguia acordar e fazer a dor parar. Queria gritar e fazer o pesadelo passar. Suas lágrimas molharam suas bochechas e Daenerys desejou afogar-se nelas quando percebeu que não tinha como escapar. Mas então o rugido do dragão a atravessou, o fogo a alcançou e lambeu cada pedacinho dela. No escuro Daenerys abriu seus braços, permitiu que o fogo a tocasse e a beijasse. Permitiu que ele a acordasse e abrisse seus olhos mais uma vez.

Sua primeira reação foi ofegar de agonia quando seu peito respirou. Um de seus seios queimava e doía. A dor profunda a fez se encolher e se engasgar. Mãos a tocavam enquanto seu corpo se contorcia. Mãos a seguraram contra o mármore frio e escorregadio enquanto ela se debatia.

Algo disparou dentro dela e Daenerys lutou contra eles. – Onde eu estou? – Sentiu-se desorientada, mas algum instinto de sobrevivência a fez perceber que ela não estava mais nas ruínas da Fortaleza Vermelha.

Velas ardiam e a chamas dos archotes de ferro brilhavam altas no enorme salão, devorando cada sombra que encontravam... O fogo a lembrou de Porto Real.... De suas lágrimas sobre Drogon enquanto ela desabava o céu sobre a cidade levantada por seus antepassados.

- Está tudo bem Vossa Graça, está segura.

Alguém tentou confortá-la, mas Dany chorou em sua confusão. Onde estava Drogon? Percebeu horrorizada que estava nua e exposta. Desde que se tornara uma khaleesi, ela nunca se preocupara com sua nudez. Os dothrakis nunca escondiam nada de ninguém. Mas aquilo era diferente.... Alguma parte de sua mente sabia que era. Daenerys sentiu-se vulnerável. Ela estava em perigo e alguma coisa dentro dela sabia disso.

Tentou se sentar mas seu corpo inteiro protestou, ela perdeu o equilíbrio, do mesmo jeito que perdia quando não passava de uma criancinha desajeita tentando dar os seus primeiros passos.

Cada movimento era uma agonia. Cada respiração um sacrifício. Sua garganta queimava áspera e seca, ela sentia gosto de brasas e cinzas no fundo de suas entranhas como se ela tivesse devorado fogo vivo. Eu me queimei naquele incêndio também?

- Água, por favor... – Foi tudo o que conseguiu sussurrar para aqueles estranhos. Sua voz áspera como uma lixa.

O homem magro e alto trocou um breve olhar com a mulher de longos cabelos negros ao seu lado, quando ela assentiu, ele correu e instantes depois voltava com uma taça com água gelada. A mulher a ajudou a beber. Dany bebeu tudo avidamente, ignorando a pontada profunda no peito toda vez que seus músculos se esticavam e se moviam.

Três taças de prata depois e ela sentiu-se relativamente mais fresca, mas o cheiro de algo queimado permanecia. Quando moveu-se para sentar-se com uma careta de dor, a mulher esbelta a envolveu com uma capa vermelha que cheirava a fumaça. Dany ficou grata pelo gesto, até ver o corpo de uma mulher velha e enrugada caída no chão. A imagem foi o suficiente para deixa-la alerta novamente.