A Torre do Pavor

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Seus pensamentos rodopiavam quando pisou na Torre do Pavor. Ainda pensava no garotinho em seu quarto e na garotinha que perdera para os arrepios. Ela tinha a idade de Rhaenyra. Fantasma seguiu silenciosamente a sua frente, virando a esquerda no longo corredor de pedra, depois a direita, a direita e a esquerda novamente.

Subiram alguns lances de escadas, a fumaça dos archotes fazendo os olhos de Daenerys arderem quando enfim eles pararam diante de uma enorme porta dupla em forma de arco. É para isso que os deuses, fazem os reis, Samwell - Dany refletiu enquanto acendia um círio e depois quando empurrou as enormes portas de represeiro e deslizou para dentro do recinto com Fantasma.

Uma biblioteca, ela observou enquanto o lobo a guiava silenciosamente entre estantes tão altas que desapareciam nas sombras. O ar tinha cheiro de papel, pó, mofo e anos. Um tênue brilho amarelo era filtrado pelas pilhas de livros, vindo de uma lâmpada escondida.

Jon Snow estava debruçado sobre uma mesa em um nicho esculpido na pedra da parede, iluminado pelo brilho que vinha da lâmpada pendurada sobre sua cabeça. Ergueu o olhar de um mapa aberto a sua frente no exato momento que ela e Fantasma entraram e não pareceu surpreso em vê-los. Ele hesitou, até que por fim levantou-se rigidamente e a cumprimentou com um aceno.

- Vossa Graça - a voz era cortês, mas fria como um cubo de gelo. O tipo de voz que nada revelava. Fantasma trotou até ele em busca de um novo carinho entre as orelhas, sendo prontamente atendido.

Havia sempre uma sensação de profunda incredulidade quando ela o via, a mesma sensação de viver um pesadelo do qual não se podia acordar, embora tentasse. Dany também podia sentir a distância de todos aqueles anos entre os dois, vividos desde aquele dia na sala do Trono de Ferro.

Mas foi a primeira vez em muito tempo que ela o percebeu de verdade. Jon sempre fora esguio como ela, mas estava mais magro agora, os cabelos caíam escuros pelas costas como se não vissem uma tesoura há muito tempo e tinha fios brancos raindo aqui e ali, embora ele fosse só um pouco mais velho do que ela. Os olhos eram cinzas, escuros, frios e insondáveis, embora parecessem cansados, muito cansados, como se todos aqueles anos não tivessem sido os melhores. Ela realmente esperava que não tivessem.

Uma parte sua queria vê-lo sofrendo miseravelmente enquanto se deleitava em sua ruína. A outra parte se perguntava se ele tinha algo do irmão. Vira a morte de Rhaegar graças a Bran, ele também usava um cabelo longo e fora esguio como ela, mas era tudo o que Dany sabia sobre aquilo.

Um silêncio incômodo pendurou e perdurou na distância fria entre os seus corpos, foi uma surpresa quando ele voltou a falar enquanto se sentava mais uma vez:

- Sinto muito se Fantasma a incomodou.

Dany piscou lentamente, a voz dele alimentando os pensamentos mais sombrios dentro de sua cabeça, fazendo ela considerar maneiras infinitas de como torturá-lo ou machucá-lo. Deixou que o ar parado nos pulmões saísse lentamente por suas narinas, mas seu tom era afiado quando disse:

- Mantenha esse lobo longe de mim.

- Será feito - falou enquanto enrolava os pergaminhos espalhados pela mesa - Não sei muita coisa... sobre o que vamos enfrentar... - Ele a surpreendeu

- Vamos? - sibilou.

- Estou aqui para lutar, se puder...

Ela ficou quieta o observando, até que perguntou:

- O que aconteceu em Castelo Negro?

Agora foi a vez dele observá-la por um longo tempo. Tempo demais, Dany não gostou da maneira como ele a olhou.

- Eu não estava lá.

- Claro que não. Era livre...

Ele pareceu não escutá-la, molhou uma pena no tinteiro que tinha ao lado e começou a escrever suavemente sobre um pergaminho. Tinha uma letra elegante e firme, ela sabia.

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