A mulher de cabelos escuros

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O corpo de Kinvara desintegrava sobre a mesa de mármore onde antes estivera o corpo morto de Daenerys. Gradativamente as cinzas reivindicavam a Alta Sacerdotisa do Templo Vermelho de Volantis, a devota mais poderosa de R'hllor. O fogo a manteve bela e jovem por longos anos e agora o seu fogo se apagou. Era isso que me aguardava também? - Aisha se perguntou.

Foi com um pouco de desconforto que recordou a maneira como Kinvara morreu. Daenerys bebeu tudo. Enquanto a vida de Kinvara se esvaia, Aisha nunca se sentira tão impotente em toda sua vida. Ela só podia olhar e se lamentar em silêncio pela mulher que lhe ensinará tudo na vida, desde que ela era uma criancinha suja e esfomeada que foi levada para viver no templo de Volantis.

Um outro lado seu no entanto, entendia bem a necessidade de Kinvara de trocar a sua vida pela a de Daenerys. A fé dela no senhor era inabalável e a de Aisha também. Kinvara a ensinara a ser assim e ela era grata todos os dias por isso. Sua fé a mantinha aquecida nos momentos mais difíceis. A ajudava a pensar.

Olhou para a chama acesa no archote ao lado da cabeça de Kinvara e tentou olhar a maneira com a qual ela dançava e os segredos que contava.

Kinvara havia ficado inquieta desde que Melony retornara a Volantis após sua longa jornada pelas terras do poente. Ela havia contado sobre as coisas que vivera e o rei que arruinara. Kinvara havia escutado seus erros em silêncio, a preocupação deixando seus olhos cada vez mais escuros. Mesmo assim ela não levantou sua mão ardente contra Melony. Ela a acolheu e lembrou a ela que aquele tinha sido os caminhos que o Senhor havia trilhado para ela. Que ela precisava estar naquela muralha para assegurar que o lobo voltasse dos mortos.

Melony estava convencida do grande mal que avançava sobre a terra. Ela havia visto uma lâmina de aço escuro e olhos cinzas em suas chamas. Kinvara concordara com aquilo. Gelo e fogo estavam enfim se movimentando lado a lado e Kinvara sabia que aquela era a única chance de sobrevivência de todos, mas ela ainda parecia preocupada com o resultado.

Ela ajudou Melony a fortalecer os seus poderes e a enviou de volta para Westeros, onde eles a conheciam como Melisandre de Asshai. As duas sabiam que aquela seria a última vez que se veriam e que Melony não poderia falhar mais uma vez.

Os dias se passaram, o frio cresceu sobre o mundo e os dragões haviam prevalecido sobre o servo do grande O Outro. Mas Kinvara seguiu inquieta. Desde então ela passou dias e noites compenetrada nas chamas da pequena lareira em seus aposentos, tentando desesperadamente descobrir novos segredos.

Um dia quando Aisha entrou no quarto, Kinvara agarrou seu braço completamente descomposta e assustada. Aisha se lembra de sentir o tremor nas mãos dela. Ela nunca havia a visto assim.

- Eu entendi... - ela falou - Um dragão prateado virá para cá arrastado por uma sombra alada.... É assim que termina.

Aisha não entendeu, tentou falar com ela mas Kinvara voltou a se sentar enquanto balbuciava palavras sem sentido.

- O frio quer o meu fogo. É assim que tem que ser. Eu falei com Melony... Eu vi a montanha de gelo... Uma árvore gelada que se movia em meio as minhas chamas, lançando uma escuridão pesada sobre o mundo enquanto respirava com suas raízes grossas. As raízes estão enterradas por debaixo do chão. Na escuridão. Cada vez mais fundas sobre a terra, condenando a todas nós.

- O que significa?

- Que a rainha dragão pode estar a caminho. Ela irá cair e todos nós cairemos com ela.

- Daenerys ganhou...

Um brilho atravessou os olhos de Kinvara.

- Sim e não. O coração humano é falho de muitas maneiras egoístas...Basta saber como testá-lo.

Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora