Continuação do capítulo 35
— Eu não… — Marília iniciou um protesto quando minha cunhada nos trancou no quarto, contudo se calou e acabou rindo me olhando. — Por que ela é assim em?
Dou de ombros enquanto um sorriso idiota surge em meus lábios, não era pelo fato dela estar aqui, digo… talvez até seja, mas na real é por lembrar de que Mohana fez a lição de casa direitinho. Minha cunhada é idêntica a Marília, faz as mesmas idiotices e criancices.
Um silêncio havia se estabelecido no ambiente, não sabia o que falar, afinal… ela que me procurou, então ela tinha algo a falar certo? Olhando para a letra da música, lembrei de uma que ela cantou pra mim a muito tempo, no tempo em que pedi a Mayara em casamento.
— Cê parece tão concentrado… acho que vim em uma péssima hora — sussurrou sentando ao longe, em uma poltrona.
— Eu só tô pensando.
— Em que? — indagou.
— Não fode com meus sentimentos, Lila, se vai casar neste final de semana, não pode me procurar…
— É uma resposta de Cuida bem dela? — perguntou forçando um sorriso.
— O que?
— A música — desconversou.
Parei para pensar. Era? Não, não era, não poderia ser. Com toda a certeza do mundo, nem me lembrava dessa música quando comecei a dedilhar e escrever.
Olhei para o caderno onde eu anotava minhas letras e desenhava as minhas notas, parecia uma cifra. Suspirei ao perceber que a letra parecia uma resposta de Cuida Bem Dela, eu sentia aquelas duas músicas na pele, cantei pro Murilo em forma de pedido, e hoje canto Traumatizei pra ela, pois foi ela quem me pediu para cuidar e eu não cuidei.
— Na verdade não, bem… eu acho que não.
Mais uma vez o silêncio reinou, puxei o ar com força e soltei bem devagar, não estava acostumado a estar no mesmo ambiente que ela por muito mais tempo e para piorar sozinhos.
Estávamos sempre brigando, sempre nos alfinetando, nossa convivência se tornou difícil, praticamente impossível. Desde a última vez em que nos vimos, tenho evitado encontrá-la, pode parecer ridículo, mas só eu sei o quanto dói vê-la e não poder tocá-la, ouvi-la e não poder senti-la.
Marília era uma espécie de vício, a partir do momento em que cê experimenta, passa a depender. Sendo assim, ficar longe é uma espécie de reabilitação, ou algo parecido.
— O que cê quer? — perguntei.
— Eu quero que esteja lá — disse simples. — Assim como um dia eu estive por você.
— Marília…
— Por favor, Ricelly, eu preciso que você esteja lá.
Senti minha boca secar e um nó se formar em meu peito, ela estava mesmo me fazendo aquele pedido?
— Eu não posso.
— Por favor, Ricelly.
Seus olhos chorosos me analisaram, levantei de minha cama e comecei a andar de um lado para o outro, ela ainda me observava, porém calada. Marília levantou da poltrona e se aproximou de mim, estremeci ao sentir sua mão tocar meu braço, ela percorreu todo o meu braço até chegar às minhas mão e as segurarem.
— Eu imploro por sua presença, meu amor.
— Não me chama assim, não quando você vai casar com outro.
— Cê casou com outra e passou uma vida me chamando assim — ele diz e fecho os meus olhos.
— É isso mesmo o que cê quer? — pergunto.
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Ligação Covarde
FanficE se tudo em que você acredita fosse uma farsa? Bem, talvez no fundo, no fundo, você sabe bem o que acontece a sua volta. A pergunta é: está pronto para lidar com isso? Não, ninguém nunca está pronto para lidar com a verdade e foi por este motivo q...