- Desculpe, Vini, por te envolver na minha briga com a mamãe. - Brenda finalmente quebra o silêncio desde que saímos da casa dos nossos pais. - Por minha causa você lembrou do acidente com vovô, não era minha intenção...
- Não é preciso uma discussão para lembrar do vovô - respondo depositando um beijo na sua testa.
Ela coloca a bolsa no centro oval e se joga no sofá de minha sala, em meu duplex, também me jogo em uma poltrona e descanso minhas pernas no apoio. Ambos encantados com o céu de Santa Fé, visão privilegiada por causa da parede de vidro. É o segundo lugar preferido da minha casa.
- Mal chegou de viagem e já teve que me socorrer.
- Você é minha irmãzinha querida. Seu quarto está do mesmo jeito. - Levanto e pego o borrifador para molhar as plantas dos jarros, um de cada extremidade da parede. - Pelo menos dessa vez não foi em uma boate ou naquelas festas malucas dos deus amigos.
- Eu me afastei deles, não eram meus amigos - ela põe o celular sobre o centro quadrado e pega o borrifador de minha mão. - Naquele dia, eu senti inveja da Isa, ela é amada pelos pais, e antes que diga que os nossos me ama, às vezes sinto eles estranhos, se não tivesse os traços de mamãe diria que sou adotada.
- Se os seus olhos não fossem azuis, os cabelos claros e a teimosia dela, diria que não é da família - ela encosta na parede, cruza os braços. - Você é uma versão nova da mamãe, com o coração enorme do papai.
- Isa estava certa, eu estou perdendo tempo se continuar com pena de mim, eu mudei depois de ouvir suas palavras duras, mas não está fácil.
Ela senta atravessada na poltrona perto da parede e eu na outra. "Isa a garota destemida, mas que tem pavor de sangue."
- E dona Virgínia não facilita em nada a minha vida. -conclui Brenda.
- Mamãe errou, mas ela te ama, esqueça aquele canalha e aceite a proposta do papai.
- Estou começando a achar que estudar fora é melhor do que ficar brigando por um apartamento - ela sorri. - Se bem que vou ter que trabalhar muito para ter um duplex e com essa visão, se não fosse o tapete, o céu estaria no seu piso.
- Você sempre fala isso quando está aqui. Perdão por sair de casa...
- Não peça, você aguenta a mamãe a mais tempo que eu - levanta e beija minha testa e pega sua bolsa, mas para antes de chegar na escada. - Só você mesmo para ter uma mesa oval, contrariando a dona Virgínia. Te admiro por isso.
Olho para a mesa de tom amadeirado, ela foi o primeiro móvel que adquiri, servindo de base para toda cozinha. Porém o fator principal para morar aqui foi a parede de vidro, se não fosse o tapete, os estofados brancos, tenho a sensação que estou flutuando quando as estrelas são refletidas no piso.
- Vini! -Brenda me chama, encostada no guarda corpo de vidro. - Você lembra do endereço da Isa ou...
- Não lembro, por quê? - Minto.
- Só pensei em vê-la mais uma vez, eu devia ter pego o celular dela. Não vá dormir na sala! - Comenta e some pelo corredor.
Arrumo o conjunto de centros - um quadrado, oval e outro redondo - Vou para a cozinha.
Com uma garrafa d'água também subo para o meu quarto, assim que entro fecho as cortinas das janelas. Sentado no banco de madeira, na frente da cama japonesa, livro dos sapatos, desenho na mente os traços de Isa, mas balanço a cabeça e passo as mãos nos cabelos para abandonar tal ato.
"Por que não consigo parar de pensar naquela garota?"
Pergunto já deitado e de muito remexer no colchão.
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Amor Valioso
Roman d'amourVocê venderia o seu amor? Heloísa tem sua vida planejada: trabalhar numa empresa com um bom salário e ajudar a mudar a realidade da sua família. Com pais interracial, desde de criança sabe o que é preconceito e acredita que só quem possui dinheiro...