SINISTRO DA CARINA

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- Saía.

Ele não se move, com as mãos nos bolsos, olhos fixos na filha que também olha para ele.

- Estão assustando a menina. - pede mamãe, sentando ao lado da neta. - Vinícius, não me faça arrepender por deixar você entrar.

- Mãe, não podia ter feito isso comigo.

- Não suportei ver minha neta sofrendo. Vinícius, nossa estrela não é linda?

- Parece uma princesa.

- Quem é você e por que gritou com minha mãe?

- Sou Vinícius Borges...

- Borges é o nome do meu pai.

- E por que estava chorando?

- Eu quebrei a corrente do papai. Mamãe me deu pra cuidar dela- ela exibe a corrente, voltando a chorar. - Ele não sabe que eu existo.

A avó seca suas lágrimas. Meu coração acelera e dói ao mesmo tempo. O olhar suplicante de mamãe faz calar todas as vozes para sustentar a mentira.

- Carina, vou conversar com Vinícius. - Puxo ele pelo braço, porém não deu um passo. - Não vou te mandar embora.

Sigo para o corredor.

- O que ela sabe de mim?

- Que seu nome é Borges, um dia nos separamos, quando descobri a gravidez não sabia onde estava, você gostava de viajar e de estrelas, por isso a corrente - ele encosta na parede. - Ela se apegou as estrelas com a certeza que iria te entregar e decidirem se a maior se chama...

- Eu lembro os nomes -Alguns segundos em silêncio, lembro da noite em que me presenteou com a corrente, suas palavras mentirosas. - E como nossa filha é?

- Esperta, curiosa, adora fazer perguntas, logo saberá disso e briguenta, quase sempre está discutindo com um amiguinho - Coloco-me na sua frente. - Por favor, não destrua as fantasias dela por não gostar de mim.

- Sou pai. - ele sussurra.

- Se não quiser assumir a paternidade, não volte para o quarto, eu invento uma história.

- Mentir é o que sabe fazer de melhor, nem o meu nome falou para ela.

- Seu nome era a última coisa que eu queria pronunciar, não se pode lembrar um desconhecido - Dou um passo em direção a porta. - E uma mentira é mais fácil esquecer.

Entro e vejo minha agenda na prateleira acima do frigobar. Ela não estava na minha bolsa?

- Você vive esquecendo coisas no meu carro.

Ele responde e volta para o lugar de antes. Sento na cama e seguro a mãozinha de Carina.

- Não vou fazer exame - ela faz biquinho. - Nem dói mais.

Ela exibe o braço enfaixado, brigou com um garoto, vizinho dos avós, deu um chute nele e correu, ele alcançou, discutiram, ele puxou a corrente do seu pescoço. Ela bateu a cabeça no chão, os joelhos arranhados e muito choro.

- Minha Estrela não vai sair daqui sem fazer o exame - Solto sua mão, fingindo estar zangada. - Vai pedir desculpas ao vizinho.

Ela olha para Vinícius e fala baixinho com vergonha.

- Ele começou primeiro.

- Depois conversamos sobre isso. Tenho algo importante para falar. É sobre o seu pai. Quer ouvir?

- Sim, fala, mãezinha linda da minha vida.

Não consigo esconder o sorriso. Carina olha para Vinícius.

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora