DOBRANDO A APOSTA

241 36 7
                                    

"Restaurante Domus, às 20 horas."

Liguei para Heloísa, falei onde deveria me encontrar e desliguei, sem lhe dar chance de falar. Cinco minutos de espera. Pedi uma dose de whisky para não perder o foco. Pensei em pedir para o Almeida, colocar outra pessoa no projeto, mas não é justo com o meu pai, mas também não é justo ela está bem às custas do meu dinheiro.

"Vou tirar tudo dela, era o que devia ter feito naquela noite que expulsei da minha vida."

Ler o contrato com sua assinatura, comprovando tudo que mamãe relatou, não doeu tanto quanto ouvir ela que não me queria após fazermos amor, ver nos seus olhos o triunfo por seu plano de ganância, arrancou meu coração.

Um ano sem dormir naquela cama, seu perfume impregnado nos lençóis, eu ouvia seus gemidos, suas risadas e desejava o seu abraço. Sala, cozinha e mesa gritava um momento em que a tive, até a parede de vidro lembrava do prazer indescritível de fazer amor sob as estrelas.

O único lugar que não sentia sua presença era o meu escritório. Rasguei deletei todos os seus desenhos, mas como um tolo dormia com ela todas as noites - o quadro escondido no canto - e depois ela começou a invadir meus sonhos, nem mesmo lá era mais seguro ficar.

As risadas da mesa ao lado ocupada por dois casais me faz parar de girar o copo e erguê-lo para mais um gole. Vejo a hostess sendo seguida por Heloísa, escolhi uma mesa no fundo do restaurante. Ela cumprimenta o maitre e sorri com algo que ele diz. Balança a pequena bolsa no ar em negação, afasta os cabelos dos ombros, nossos olhos se encontram, seu sorriso desaparece.

Não desvio os olhos dela enquanto caminha, sandália de salto, o vestido verde faz um movimento gracioso no movimento de suas pernas, quadril mais largo e a cintura que muitas vezes minhas mãos apertaram de encontro ao meu corpo. Um gole na bebida e mais um.

A mulher que se aproxima é a que se vendeu e não quis o meu amor.

- Desculpe o atraso. - fala enquanto o maitre afasta a cadeira para ela. - Não, obrigada, José, você pode servir aquele vinho, por favor! Hoje não tenho motorista.

Antes de se afastar ele oferece mais uma dose de whisky para mim. Sentada a minha frente, lembro dos muitos sonhos em que invadiu e fez simplesmente isso, sentou ao meu lado, porém neles sentia felicidade por apenas vê-la.

- Conhecia este restaurante!

- Uso para encontrar clientes e algumas vezes venho com a família.

- Sua secretária me indicou, além de mais três. - Nossa conversa se inicia formal.

- A comida aqui é maravilhosa, fez uma ótima escolha.

Responde e empurra os cabelos para trás e observa as outras mesas. Pisco para não fechar os olhos com a sensação inebriante que senti ao colocá-los no nariz horas antes. As alças do vestido são detalhes nos ombros a mostra, desço o olhar para o colo e a pequena abertura dos seios. "Não cabem mais em minhas mãos" busco o copo, mas está vazio.

- Ter dinheiro faz de alguém sem classe gostar de ambientes sofisticados, além de roupas e jóias - Ela me encara, começo o ataque. - Mas você ainda é a garota da comunidade por baixo dessa aparência sofisticada. Por favor, não me faça passar vergonha. Consegue comer sem se sujar?

- Farei um esforço.

A garçonete deposita nossas bebidas e entrega o menu. E de novo ela conversa com intimidade com a funcionária, peço o primeiro prato que leio, sem nenhuma vontade de beliscar, ela o mais caro do cardápio.

- Seus pais estão felizes, com a boa vida que o meu dinheiro proporciona?

- Pode me insultar, mas não pronuncie os meus pais - responde entre os dentes. - Você não os conhece. Em nenhum momento eles concordaram com a minha escolha.

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora