COMO SER LIVRE

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Eu sabia, mas não admitia, meu instinto de autopreservação me alertou que não seria fácil - nada na minha vida é fácil - Apostei e me lancei nos sentimentos e nas promessas de Vinícius, acreditei que ele nos salvaria, porém paguei um alto preço pela liberdade.

Ela não veio, fui jogada na escuridão.

Nunca, nem mesmo nas mais violentas discussões eu senti tanta raiva e quis magoá-lo, queria que ele sentisse a dor por não ser amado. Sua insinuação me feriu como uma agressão física e numa reação sem ponderar, o eu te odeio saiu, achei que naquele momento ele merecia.

Despertei no sofá, confusa, tonta e horrorizada com a própria reação. A raiva aos poucos desapareceu ao deparar com Vinícius pálido, os olhos antes faiscantes, revelavam medo, sentia o calor de sua mão na minha, e não me permiti olhar para ele outra vez, tampouco tive coragem de mandá-lo embora.

Filipe diante do nosso silêncio tomou todas as medidas para que eu fosse de ambulância para o hospital.

- Eu vou com ela. - anunciou Vinícius, foram suas únicas palavras.

O silêncio nos acompanhou até o hospital. Ele permaneceu em pé colado à parede com as mãos nos bolsos, até eu está devidamente instalada numa cama.

- Pode ir, mamãe está vindo. Obrigada por me acompanhar. - Tentei não gaguejar. - Lembro que hospital não lhe trás boas recordações.

Sentindo alívio por ele manter uma certa distância, em contrapartida, eu estava cansada, sensível e carente de confiança, sua indiferença me magoava. Havia me acostumado a buscar seu cheiro dele em minha cama.

- Vou fazer o que me pediu. - ele falou sem se aproximar da cama.

- O quê? - Perdida em pensamentos não entendia o que ele falou.

- Ficar longe de você. - Era o que eu desejava, mas ouvir com veemência meu coração parou, não conseguia encará-lo. - Ligarei para saber de você, peço que não fique sem falar comigo.

Meneio a cabeça. Por um breve instante nos encaramos, breve, mas a dor nos seus olhos me fez recuar.

- Eu menti - ele se apoia no encosto da cama, e antes que interprete errado eu concluo. - Eu não odeio você.

- Eu sei e talvez tenha razão, estamos destinados a ficar separados.

Com receio de me trair mais uma vez meneio a cabeça, a garganta apertada, as palavras não conseguem ultrapassá-la. Ele me olha.

-Cuide- se. - E a passos largos saiu do quarto.

E finalmente pude chorar.

Mamãe relatou que o encontrou na porta, cabisbaixo e desolado, os olhos úmidos. Ela sentiu vontade de abraçá-lo, mas deteve-se. Perguntou pela filha e se despediu. Antes que ela entrasse, questionou:

- Você compartilha do mesmo pensamento da sua filha? - perguntou olhando para a porta fechada.

- Sim. - disse mamãe que ele não lhe deu tempo de falar mais nada.

Eu tive que ouvir uma bronca por está na cama de um hospital por não me alimentar, nem dormir, tampouco trabalhar, com os nervos à flor da pele, me obrigaram a passar a noite sendo nutrida gota a gota. Ponderei que para qualquer caso é necessário compromisso e confiança.

Entre eu e Vinícius só haverá desconfiança. O amor não sobrevive a isso.

Eu quero sobreviver. E com o espírito renovado, determinei que mudaria minha história, para isso terei que provar que é a Virgínia a culpada de tudo. Ansiosa para contar, atropelei as palavras e como mamãe explicou, Vinícius irá passar pela fase da negação, afinal é a mãe dele, depois ele poderia se questionar se era verdade e me procuraria para ouvir.

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora