ALTO PREÇO

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Há mais de oito minutos, em pé com o cartão chave na mão do apartamento de Vinícius, indecisa se entro ou dou meia volta. Recebi várias mensagens dele depois que chegou de viagem. Não podia estar aqui, foi uma das exigências de Ana Virgínia, depois de assinar o contrato que ela me ofereceu.

"Não se despeça do meu filho, desapareça da vida dele. Se não sofrerá as consequências"

O celular vibra, deve ser ele. Tenho que enfrentar a escolha que fiz. Abro a porta e a passos lentos, entro. Na tv, vídeo de jazz, a melodia comparada as batidas do meu coração que está mais para um samba, fecho os olhos e tento diminuir as batidas dentro do peito.

Porém ele aumenta, ao ver o centro redondo quebrado no canto da parede, o tapete, cadeiras da mesa fora do lugar. Nunca tinha visto uma almofada fora do sofá.

Busco por ele na cozinha, imaginei que como nas muitas vezes tinha preparado um jantar, apenas um copo e uma garrafa de whisky sobre o balcão. Uma batida de porta no andar de cima, ando para a escada, mas paro no segundo degrau.

- Não vai subir?

Viro, ele fala do guarda corpo, cabelos molhados e com roupão, faz um gesto para que eu suba.

- Você está bem, o que aconteceu?

- Não se preocupe com isso, tenho dinheiro para repor, tenho algo mais importante para resolver no momento, suba.

E dar as costas. Respiro e venço os degraus, fingindo que as minhas pernas não estão bambas. No corredor vejo a porta do seu escritório entreaberta, é possível ver uma estante no chão e alguns livros espalhados.

- Venha comemorar comigo! - fala Vinícius do seu quarto.

Balanço as mãos na lateral do corpo, para expulsar o temor de olhar para ele de perto e não denunciar o que eu fiz.

"É só me despedir e ir embora, não fale do contrato!"

- O que vamos comemorar? - pergunto ao vê-lo no closet secando os cabelos. - Não está cansado?

Ele joga a toalha e anda em minha direção, em silêncio se aproxima, me olha, toca os meus cabelos e se afasta. Vai até o móvel e enche duas taças de vinho.

- Estava ansioso para te ver, não vai entrar? - ele oferece uma taça. - Experimente, foi caro.

Então percebo que ainda estou na entrada, sentindo uma intrusa, tiro a bolsa do ombro e deixo sobre a cama. Pego a taça estendida. Ele mostra a garrafa de vinho.

- Se olhar a garrafa, você não paga o valor que pediram pelo o vinho - enxergo um rótulo manchado e letras confusas. - Mas ao degustar, ele vale cada centavo, então você percebe que foi enganado pelo rótulo. Prove.

- Acho que foi um dos melhores que me ofereceu.

Respondo antes que perceba a taça tremer na minha mão.

- Voltou sozinho? - pergunto quando ele guarda a garrafa, mas não se aproxima de mim.

-Brenda ficou, temos amigos morando lá, eles vão ajudar no início, ela está empolgada. Você está bem?

Desvio meu olhar, ao imaginar ele abraçado com aquela mulher. Será que ela veio com ele?

-Isa, por que não respondeu as minhas mensagens?

Sinto frenesi ao ouvir meu nome pela primeira vez desde que cheguei e sua voz acolhedora como estou acostumada. Sento na cama para não correr para seus braços e revelar a negociação que fiz com sua mãe, tomo mais um pouco do vinho para inibir as lágrimas.

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora