QUAL O SEU PREÇO

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"À noite conversamos."

Era mais uma das mensagens do Vinícius. A primeira foi um pedido de desculpas por não poder me ver antes da viagem, a segunda: dormiu demais, ao chegar no hotel, não sabia que estava tão cansado.

Eu estou exausta de tanto pensar na sua conversa com a mãe, depois da decepção, a raiva tomou conta de mim, por não ter saído daquele banheiro, chorei e agora é uma mistura de sentimentos. Quero crer que foi um engano, porém o seu tom de voz deixou claro toda indiferença e desprezo ao que vivemos, sinto náuseas em procurar respostas.

- Heloísa, quando terminar aí, vá para o próximo andar. - A coordenadora ordena. Guardo o celular no bolso da calça.

- No final do expediente preciso conversar com você.

Ela concorda, fazendo um sinal positivo com o dedo, continuo limpando a recepção. Decidi que hoje é meu último dia, amanhã vou ao escritório da empresa pedir demissão.

Queria falar para a Fátima, que antecipei o dia, mas ela faltou pela manhã, fiquei sobrecarregada e ainda não a vi após o almoço. Meu mau humor me manteve afastada das pessoas, até dos meus pais, eles aceitaram a desculpa que era saudades de Vinícius.

Eu não podia estar com saudades dele depois do que ouvi, e me odeio por isso, também por acreditar que havia uma possibilidade de ficarmos juntos, de que eu me ajustaria a sua vida. Não passo de uma diversão, a mulher que desejou porque não oferecia perigo para mostrar a família com quem estava saindo.

"Por isso aceitou deixar nossa relação em segredo."

Deixo cair o mouse da mesa que estou limpando no setor de vendas, ao erguer a cabeça, deparo com Sílvia me observando, se ainda não me entregou para a toda poderosa logo fará, disso tenho certeza. Limpo a mesa, recolho o lixo do cesto e fujo do seu olhar inquisidor.

- Fátima, preciso falar com você. - grito ao vê-la passar no corredor indo para as escadas.

- Estou apressada. - responde e some, sem me dar chance de me aproximar.

Sem poder ir atrás dela, entro no departamento de Marketing, talvez seja a última sala que irei limpar. Para garantir, demoro mais do que é necessário. Sigo para o meu armário e guardo todas as minhas coisas na mochila e espero pela coordenadora na cantina.

- Heloísa, me siga até o escritório da diretoria. - Sílvia chega de repente.

- Terminei o expediente...

- Ainda está na empresa, me acompanhe. Vamos!

No elevador, fica de costas para mim, bate o pé no piso, impaciente olha para o visor onde mostra os andares. A porta se abre e a passos largos, vai direto para a sala da Ana Virgínia.

- Ela está aqui, senhora! - anuncia após abrir a porta, vira para mim e ordena. - Entre, não tenho o dia todo. - dou um passo para trás e olho em direção a saída. - É tarde para isso.

- O que está esperando? - a voz estridente ecoou da sala.

Olho mais uma vez para a Silvia, ela me ignora, folheando um documento. Um arrastado de cadeira, apavorada entro e escuto a porta atrás de mim ser fechada. Encontro um par de olhos me avaliando da cabeça aos pés, enquanto dou passos, imediatamente tremo e busco proteção na máscara, o pavor toma conta ao me dar conta que estou sem o uniforme, meu rosto está exposto.

Lentamente ela levanta, com um dedo desenhando meu corpo.

- Então era com isso que o meu filho estava se divertindo!

Meus pés se tornam chumbo, a garganta seca e me agarro as alças da mochila como se fosse bengalas para não cair.

- O gosto refinado dele caiu muito para mulheres - Com a mão no peito, continua o massacre. - Meu Deus, onde eu errei para merecer isso? Mas, como sou uma mulher prática e uma mãe zelosa, acima de tudo, mãe que ama o filho.

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora