Com sanduíches e refrigerantes, subo para o apartamento de Heloísa. Preciso explicar o que Allegra falou. Desde início não gostei dessa ideia de almoço, mas fui voto vencido quando mamãe concordou a pedido de Allegra. E a euforia de papai de ver a neta derrubou todas as barreiras. Mas quando percebi seu lugar na mesa arrumado de forma errada já era tarde.
Passei o jantar admirando sua postura elegante, seu autocontrole diante a situação, não alterou a voz, conversou de igual, se fosse a Isa de antes sairia da mesa. Tenho certeza que falei para não servir peixe.
Deixei ela sozinha porque tive certeza que estava segura. Mas eu não estava.
Toco a campainha ela não abre a porta. Ligo mais uma vez para seu celular e de novo na caixa postal. Mando mais uma mensagem, sem resposta.
— Isa não está — fala Filipe nas minhas costas. Viro. Ele sorri e levanta as sacolas com o mesmo conteúdo da minha. — Quanto mais, melhor. Venha, elas estão no meu apartamento.
Fala e caminha, sem alternativa, sigo. Ele abre a porta, Isa está cantando. Ele deixa a porta entreaberta.
"....mas só chove, chove... meu corpo..."
— Pretende tirar Estrela da minha amiga? — Olho pela fresta, ele ergue as sobrancelhas. — Não vou impedir que entre, porém quero saber quem estou colocando para dentro.
— Não. Ela não quis ouvir minha explicação — ele puxa a porta, insatisfeito com a resposta. — Eu só quis saber meus deveres de pai, ela entendeu errado o que Allegra falou.
— Sua noiva deixou claro suas intenções.
— Ela não é minha noiva... Não vou tirar Carina de Heloísa.
— Não vai mesmo que tente, Heloísa tem amigos. — Ele abre a porta.
As crianças cantando, dividindo um microfone e Heloísa com outro. Vestindo um short e regata, cabelos soltos, sem escova, os cachos pulando. João Pedro, é o mais afinado. Sorrio ao ver Estrela dançar, ela me disse que não quer mais fazer balé, prefere outra dança.
Filipe me leva para a cozinha, pega uns pratos, copos e guardanapos.
— Eles se empolgam todas as vezes, hoje escolheram rock, espero que o vizinho não reclame.
— Essa banda não é adulta para as crianças?
— Não. Falta uma semana para o aniversário de morte da minha mulher. — Ele põe uma bandeja e pede para eu colocar os lanches. — Minhas vizinhas estão ajudando o João a não ficar triste. Era nossa banda preferida.
— Sinto muito por sua esposa.
Ele agradece e aponta para os cantores.
— Prepare, a música vai terminar.
Gritos ao ver a pontuação. Estrela me vê e corre para meus braços. Heloísa percebendo minha presença, fala com João e desliga o karaokê.
— Pai, vamos cantar.
— Sou um péssimo cantor.
— O papai é ruim. Vamos competir? — fala João.
— Outro dia, nosso jantar vai esfriar — responde Filipe. — Leve os pratos para o centro.
Enquanto recebo beijos, Carina pergunta pelo avô e reclama por não tê-lo levado.
— Vinícius, pegue a bandeja, eu levo os refrigerantes. — Antes de pegar ele avisa. — Deixe o celular sobre a mesa no modo avião ou desligado. Você escolhe, hoje a noite é das crianças
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Amor Valioso
RomanceVocê venderia o seu amor? Heloísa tem sua vida planejada: trabalhar numa empresa com um bom salário e ajudar a mudar a realidade da sua família. Com pais interracial, desde de criança sabe o que é preconceito e acredita que só quem possui dinheiro...