O CORAÇÃO NO CONTROLE

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- Você está com fome? - ele pergunta apontando para a mesa arrumada para duas pessoas, uma garrafa de vinho e uma das taças pela metade.

Forço um sorriso, contendo a vontade de gritar, bater nele se fosse possível, mas sou traída pelo desejo de descansar em seu colo e sucumbir a saudade. Dou alguns passos para espantar a vontade de me jogar em seus braços.

- Por que pagou minha faculdade? - Tento manter a voz firme e concentro na raiva que estava sentindo antes de vê-lo. - Responda, não fique só me olhando, sabia que eu viria.

Aponto para a mesa, ele tenta segurar minhas mãos, fujo do seu contato.

- Desde quando eu preciso do seu dinheiro? - falo mais alto quando ele persiste em só me olhar.

Estou evitando-o desde o incidente na Solis com a toda poderosa, por receio de falar:

"Sua mãe não tem todas as virtudes que você fala."

A imagem daquela mulher enfurecida, não me abandona, se esquivar dela para não ser reconhecida foi moleza, ela não me acertar com aquele objeto, foi sorte - ainda ouço o barulho dele se espatifando na parede - Imagino o que fará quando descobrir que estou com seu filho.

Minha cabeça está dando um nó, por argumentar com Fátima que não tem como saber quem foi, mas acreditava que não foi ela, fazer ela não confrontar a Sílvia. Esconder dos meus pais o que aconteceu, trabalhar esperando que a qualquer momento ser chamada de novo na sala da Virgínia ou receber uma ligação da empresa sendo demitida por algo que outra pessoa causou.

- Só quis ajudar.

- Eu trabalho, posso pagar as mensalidades.

- Até quando vai viver com um esfregão na mão?

- Então seu problema é porque está trasando com uma faxineira e não uma empresária ou uma...

- Não coloque palavras na minha boca. Droga, Heloísa, quero que tenha melhores oportunidades, afinal está estudando para isso, pensei que se eu pagasse suas mensalidades, poderia dedicar apenas ao curso...

- Pensou que pagando as mensalidades eu ficaria em casa, você não me conhece.

Sorrindo, ele senta no sofá, me irritando mais do que já estou, com seu gesto despreocupado.

- Ou ficou com medo de alguém descobrir que está comigo?

- Quem escolheu esconder nossa relação foi você, aceitei porque não tenho que dar satisfação da minha vida pra ninguém.

Ando de um lado a outro me desviando dos centros.

- O valor que deixei na faculdade não me fará falta, além de estudar com mais dedicação, pode até procurar seu estágio com mais tranquilidade.

Sou eu quem sorri com sua sugestão.

- Vocês ricos são todos iguais, acham que todo pobre não tem dinheiro para uma emergência. Pois fique sabendo se eu quisesse antecipar minhas mensalidades teria feito - Aponto para ele. - Guardo parte do que eu ganho desde o meu primeiro salário, não tenho dividendos iguais aos seu, mas não sou miserável.

Ele levanta e tenta me abraçar, mas aceno que não se aproxime.

- Eu só quis cuidar de você, não sabe como me senti quando vi a mamãe exaltada.

- Ela vai fazer algo comigo?

- Não, claro que não! - ele segura meus ombros. - Ela não vai fazer nada, confie em mim.

Saio do seu contato, sinto que estou amolecendo.

- Mas converse com sua amiga para ter mais cuidado

- Farei isso - respondo pegando a mochila. - Passe o número da sua conta.

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora