ONDE ESTÁ O DINHEIRO?

215 37 5
                                    

Os meus dias de visita estão sendo programados, este final de semana é dela. Sexta-feira estou indo pegar Carina na loja do avô.

E se antes Heloísa conversava só na presença da Carina, depois da última discussão usa monossílabos. Passei a evitar ir nas horas das refeições e dou a desculpa para Carina que não posso demorar. Enquanto não decidimos a guarda, resolvi colocar limites antes que aconteça outra discussão.

Ou comece a gostar de vê-la todos os dias.

Paro no estacionamento da Caricé Materiais Elétricos. Imaginei que era uma loja pequena, mas ocupa um quarteirão. As laterais de vidro dão visão do interior da loja. As portas ativadas por sensores de presença afastam-se, Rui aparece.

- Passei antes nesta avenida, mas não sabia que era sua. - falo após os cumprimentos.

- Há dois anos conseguimos ampliá-la, agora está como planejei - responde e se afasta para uma cliente que está saindo, agradece e volta a falar comigo. - Kiara ainda não chegou, avisou que está perto.

- Vou passar no meu apê, levá-la para almoçar e depois ao shopping.

- Se deseja fazer isso mais vezes, não dê mole - ele arrematou sorrindo. - Duas peças no máximo.

- Heloísa falou, os vestidos são um perigo.

Rimos. O rosto dele se iluminava falando da neta. Pergunto se Kiara trabalha na loja.

- Não, ela desencantou pela enfermagem, estuda letras e está se aventurando escrevendo contos - ele se aproxima da porta. - Vamos sair desse calor e conhecer a loja.

Tiro os óculos escuros e o acompanho. Passamos pelos caixas, ele aponta duas mesas redondas e os profissionais que ajudam os clientes com seus projetos de iluminação ou orçamento. Caminhamos pelo corredor com vários modelos de lâmpadas.

- Heloísa trabalhou aqui?

- Esqueceu como ela é? Depois que se formou e o nascimento de sua filha, fez estágio, trabalhava num restaurante, estudava, participava de eventos, só parou quando entrou na Roval.

Ele não sabe do dinheiro ou está fingindo não saber. Como ela escondeu todo aquele valor para a família? Não posso abordar o assunto. Ele entra no corredor com chuveiros, torneiras e acessórios.

- Carina não atrapalhou?

- Creche, avôs. Heloísa nunca deixou faltar nada para sua filha. Lembra do dinheiro que deu a ela antes de terminarem? - Ele não espera resposta. - Ela usou tudo com Carina.

Essa foi a desculpa que ela deu. Ele anda apressado e entra no corredor
das luminárias. Pega uma e estende para mim.

- Coloque no quarto na sua casa, é presente. Tem algo que está faltando na reforma?

- Apenas pequenos detalhes para ficar com jeitinho dela. - respondo examinado a luminária em forma de uma estrela, igual as da casa dela.

Ele me leva no final da loja. Aponta portas da administração e uma escada que leva ao segundo piso.

- Foi fácil deixar do jeito que planejou? - Jogo a isca.

Rui suspira e passa a mão nos cabelos. Se ele está com a pretensão de me fazer esquecer o que a filha fez, vou entrar no jogo. Ainda não compreendi sua simpatia desde o jantar. Leandro e Filipe me toleram por causa da Carina.

- Não foi. Sacrifiquei alguns sonhos da família, mas eles concordaram quando decidi investir o dinheiro que recebi de indenização por meu acidente.

- indenização?

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora