SINISTRO DA MENTIRA

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- Rui foi preso!

Mamãe gritou ao telefone. Abandonei o cliente na sala de reunião na Roval e entrei no escritório do Guedes, com ela no viva voz aos prantos explicava o que havia acontecido, ela não aceitou ficar em casa, foi para a delegacia, pois estavam noticiando nos programas policiais de tv.

Guedes ficou ligando para um advogado, eu fui encontrar mamãe na delegacia. Fiz da direção do meu carro um saco de boxe, depois de ver parte de uma reportagem. Gritei quando as lágrimas ameaçaram descer.

Mamãe estava chorando e de novo a culpa é minha.

Estacionei o veículo numa rua próxima a delegacia, meu auto controle emocional chegou ao fim, fui surpreendida por quatro repórteres, um deles falou meu nome. Consegui entrar no prédio com intervenção de dois policiais.

- Você pode entrar, mas terá que aguardar, não posso dar mais nenhuma informação.

São as recomendações de uma policial, ela aponta as portas dupla que dão acesso a sala de espera, suspiro por não conseguir ultrapassá-las. Por um retângulo de vidro em uma delas, vejo a mamãe sentada numa cadeira, cabeça encostada na parede, com certeza está orando, suspiro mais uma vez para conter as lágrimas, elas vão embora, mas a raiva por quem a causaram não.

Mamãe dobra o tronco e apoia a cabeça nas mãos, empurro as portas e corro para ela.

- Isa, não me deixaram ver ele - fala se agarrando ao meu braços. - Ele não... ele não tocou naquela mulher... oh! Meu Deus. Conheço meu marido.

Faço ela sentar novamente.

- Mãe, não chora, é claro que papai não fez nada.

- Preso, Isa, preso, ele vai ficar numa cela como bandido.

- Papai não vai passar a noite aqui, eu prometo. - Entrego-lhe um lenço e arrumo seus cabelos. Os lábios sem batom. -Guedes está enviando um advogado.

- Eu sabia, meu coração pressentiu que algo ruim ia acontecer. Eu disse para ele se proteger, não conversar muito com os funcionários.

-A senhora conheceu essa mulher?

Ele negou com a cabeça.

- Estou indo pouco a loja, o clima de desconfiança me deixa mal.

Explico como passei pelos repórteres, o jeito de papai lidar com as situações. Ele estava mais preocupado com os funcionários do que com as perdas financeiras. Para ele o dinheiro não é a meta, gosta de contar sua história de como venceu investindo pouco, às vezes dá aula na loja. Papai vibra quando um deles alcança um objetivo.

- Ele não foi ouvido pelo delegado - falo, mais calma, mamãe conversa sem chorar. - Espero que ele não vale nada sem o advogado.

Imaginei várias situações em que Virgínia realizaria suas ameaças, até colocar a loja abaixo, mas não esperava que a sua maldade chegasse ao ponto de ser algo que papai perdesse a dignidade. Olho a tela do celular, Guedes não mandou resposta do advogado. Tento não balançar as pernas, controlar a ansiedade para não atiçar Kiara ao meu lado.

- Como conseguiram fazer isso com ele, Rui é generoso, não existe um perfeito sem defeito - ela remexe na cadeira. - É homem, mas nunca, nunca, Isa, ele destratou uma mulher.

- Foi ela, mãe, tenho certeza que ela armou, comprou a funcionária. Os repórteres sabem quem eu sou. Como poderiam?

Ela segura minha mão, afagando fala com uma voz tão doce

- Eu sei, meu amor. Virgínia armou para seu pai como fez comigo.

- A senhora sempre negou.

- Não queria agravar seu sofrimento. - Ela endireita a postura, dobra a perna sobre a outra. - Eu estava decepcionada com os meus amigos de trabalho por não me defender, tantos anos no hospital e não teve um para exaltar meus serviços, um para duvidar

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora