O FILHO DA TODA PODEROSA

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- Fátima, não precisa ficar assim, se a toda poderosa me reconhecer não tem problema - falo empurrando o carro de materiais de limpeza. - Ela não está aqui todos os dias é uma grande vantagem.

- Esqueceu que a magricela está? Se ela descobrir que você...

- Vamos focar no trabalho - falo pegando um pacote de papel toalha, antes que ela enumere os defeitos da assistente. - Vou pôr no banheiro feminino e depois eu subo para a sala do chefe!

- Não vai ser difícil passar um mês no meu lugar - Fátima mais uma vez, tenta me consolar. - Se fizer tudo o que falei, não vai ter problema. Seu Vinícius não grita, só gosta das coisas no lugar.

- Como todo mundo que tem dinheiro, estou indo.

Dou-lhe as costas antes que fale das qualidades do homem. Ela tentou que a funcionária que vai tirar suas férias também ficasse no seu lugar, mas a coordenadora não aprovou. Estou contando com a arrogância da Ana Virgínia e a indiferença do seu filho para não ser notada.

Hoje para não correr o risco de encontrar o Senhor perfeito não fui ao shopping, mesmo tendo a certeza que ele não vai me procurar. Suas palavras foram para me colocar no meu lugar.

"Se me ver na rua, finja que não me conhece!"

Aquele filho da mãe, só me levou naquele restaurante para esfregar na minha cara, que não me deve nada por causa da sua irmã e que está em outro nível - O dos ricos - mais uma vez solto um xingamento por ter me vendido tão barato: um petit gateau. Delicioso, mas deveria ter rejeitado, mas não, como pobre que se vislumbra com coisas pequenas, caí de boca e ainda me lambuzei.

"Saia da minha mente!" Ordeno e fecho o porta papel do banheiro com força. Incapaz de evitar as fantasias que aquele homem desperta e com ela uma onda de calor percorrendo meu corpo ao imaginar como seria seu beijo, se as mãos acariciasse minha pele com a mesma delicadeza que segurava o talher.

Vejo meu reflexo no espelho, afasto a máscara e com as costas da mão toco meu rosto. Pele oleosa que dá para fixar a sobrancelha desarrumada, umedeço os lábios secos e certifico que a figura no espelho não é atraente e nem bonita. Aponto para o reflexo e resmungo:

"Este é o resultado por ser má, é o seu castigo, não reclame!"

Ponho a máscara saio em direção as escadas, calando a raiva por ser pobre e as recordações da adolescência que me levaram a magoar quem não merecia. Olho para a porta de acesso ao quarto andar, suspiro e abro, antes que a covardia tome conta de mim.

Alguém do departamento de informática chama, limpo uma mesa que acabaram de montar, recolho o lixo e finalmente passo pela ante sala de espera das diretorias, de um lado a magricela de cabeça baixa na sua mesa. Acelero o passo, antes que também tenha algo para limpar.

O carro de limpeza está posicionado na lateral da sala do diretor-executivo. É o meu destino, vamos.

- Fátima está me esperando. - falo a Patrícia, após cumprimentá-la.

- Ela falou que você ficará no lugar dela, qualquer dúvida é só perguntar.

- Farei isso - agradeço e entro. - Fátima, cheguei!

Falo ao perceber que ela está no banheiro, olho pela janela e ao longe o shopping, repasso as informações que recebi sobre o filho da toda poderosa.

Sempre manter sua sala limpa, a mesinha posicionada perto da janela, não incomodá-lo, nunca puxar conversa e só falar se for questionada. E o mais importante, o banheiro não pode ter cheiro de materiais de limpeza.

"Deve ser tão ordinário quanto a mãe."

Concluo ao entrar no banheiro e ver Fátima secando o box.

- O que eu preciso aprender, para manter a vossa excelência feliz?

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora