O EMPREGO

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- Pai, eu arrumo a mesa para o almoço. Sente!

Falo para ele, levantando do sofá.

- Não sou um inválido, só não tenho a mão esquerda, posso fazer muita coisa...

- Oh! Meu paizinho, lindo, atencioso
e muito, muito mesmo, amado. Foi só um carinho, estou cuidando do melhor pai do mundo.

Aperto suas bochechas, deposito um beijo em cada uma e faço biquinho.

- Diga logo o que quer - faz cara de bravo. - E porque não saiu com suas colegas? Em pleno domingo está enfurnada em casa.

Aponto para nossa pequena mesa e peço que sente. Curvo o tronco, fazendo referência para um rei.

- O senhor sabe que tenho muita pesquisa e folhas para imprimir, já que é domingo, e, também, não saiu de casa...

- Depois do almoço eu ajudo - Por trás da cadeira, eu enlaço seu pescoço. - Já estou fera na impressora. Esse trabalho está acabando com você.

Vou no armário pegar os pratos.

- Acabada, mas feliz. Algumas pessoas torcem o nariz para o carro de materiais de limpeza quando me vêem, mas muito das vezes sou invisível.

- Eu sei o que é sentir o preconceito por causa da minha deficiência - ele fala arrumando a mesa, eu pego os talheres na gaveta. - Sua mãe e você passaram tantas vezes por isso...

- Até hoje ainda perguntam se sou mãe adotiva de sua filha - mamãe entra na cozinha, beija o esposo. - Fui promovida a tia, madrasta, antes era babá... filha deixe eu fazer!

- Não senhora, sente! - Antes ela me beija. - Pensei que iria dormir mais um pouco. A noite no hospital foi calma?

Enquanto arrumo a mesa com papai, ela conta da sua noite, ela pula quando tem que falar de alguém ensanguentado.

- Calma e com picos de barulho, normal para um hospital. Onde está o nosso filho?

Cresci com as pessoas questionando como uma mulher preta tem uma filha branca, mesmo explicando que herdei a minha cor do meu pai, eles achavam impossível. Mamãe sofreu muito, eu senti no período escolar, muitas vezes era motivo de piadas ou brincadeiras maldosas, ouvia que era azarada por ter sido adotada por uma mulher negra e pobre.

- Foi assistir o campeonato de futsal das indústrias no ginásio, não chega tão cedo. - responde o papai.

Santa Fé é conhecida por inúmeras fábricas de tecidos e um centro comercial voltado para a venda desses produtos.

- Bairro das indústrias, esse nome é apropriado já que somos vizinhos delas - falo pegando o salada. - É um bom projeto do clube delas ajudarem os garotos da nossa comunidade.

- Foi onde você aprendeu a nadar, filha, e...

- Não, pai, não lembre da minha maior vergonha e não riam!

- Chegar em último não é vergonha, amor! - responde mamãe.

- Mas chorar feito uma condenada por isso, é! - respondo sentando à mesa, colocando uma grande quantidade de comida na boca. - Pai, pare de rir, não sei o que tem de tão engraçado.

- Pegar a medalha da vencedora e sair correndo - responde a mamãe entre risos. - Foi, não é mais. Rui, pare de rir!

- Parei! - reponde secando as lágrimas provocadas pelo o riso. - Filha, a carne está boa, hoje acertou.

- Onde está o molho da salada? - pergunta mamãe, mas vai pegar no refrigerador. - Isa, já decidiram onde será o seu posto, minha amiga falou que depois de dois meses a empresa decide isso.

Amor ValiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora