Olivia
Não me lembro exatamente quem disse que tudo que é bom dura pouco, ou quem falou que só valorizamos as coisas quando as perdemos. Mas nesse momento eu só podia acreditar que ambas as frases são verdadeiras.
Eu desejava que as férias do meio do ano nunca acabassem. Durante o último mês eu não fiz muita coisa, meus dias eram monótonos e preguiçosos mas o suficiente pra me deixar feliz. Todos os dias eu acordava na hora do almoço, ficava rodando pela casa vazia com meu gato no colo, passava horas com meus amigos na chamada de vídeo falando sobre nada especial e ficava até tarde assistindo filme.
Todos os dias.
Mas agosto havia chegado e hoje seria meu primeiro dia de aula de novo. Olhando pelo lado bom, eu estava terminando o ensino médio e se tudo desse certo nunca mais veria a cara daquelas pessoas na minha vida.
Eu me obriguei a acordar mais cedo do que precisava para me arrumar com calma, aliás, eu poderia ir mais arrumada pelo menos no primeiro dia de aula.
Como consequência da má rotina durante o último mês, eu mal conseguia abrir os olhos por causa das poucas horas dormidas. Pulei da cama antes que pegasse no sono de novo e corri para o chuveiro para lavar meu cabelo.
Meu deus eu preciso retocar as raizes urgentemente.
Antes de descer para tomar café eu vesti meu uniforme escolar, que era somente uma calça larga e uma camiseta que eu comprei mais larga que o recomendado pela moça da escola, e escovei meus dentes.
-Bom dia, vovó!!- Eu falei sorridente para minha avó que terminava de passar o café.
-Bom dia, minha flor. Seu pão na chapa já está pronto, pode se sentar.- Ela me deu um beijo na cabeça quando me sentei na mesa da cozinha.
Eu amava minha avó, desde sempre ela foi minha pessoa favorita. Eu poderia contar minha história do modo mais dramático possível, mas minha avó me fez ser uma pessoa forte e além de não olhar o passado, saber perdoar. Meu pai eu nunca conheci, mas também nunca me interessei, minha mãe me teve aos 16 anos por conta de uma falta de responsabilidade, mas nada justifica a maneira que ela vivia. Mesmo tendo apoio total dos pais, eu era completamente negligenciada por uma jovem que não se dava o trabalho de trocar minhas faldas mas nunca deixava de arrumar tempo para cheirar carreiras e carreiras de cocaína.
Pode parecer bizarro, mas quando minha mãe morreu de uma overdose tudo ficou mais fácil. Para a maioria, ficar órfã de mãe aos 5 anos é o fim, mas desde o início quem cuidava de mim era minha avó, então depois do tumulto eu fui criada pelos meus avós com todo o carinho que eles podiam me dar, mesmo depois que se divorciaram.
Eu tomei meu café da manhã tranquilamente sabendo que não iria me atrasar e ouvi minha vó dizendo que eu deveria secar meus cabelos para ficar mais apresentável. Sabendo que ela estava certa eu me tranquei no banheiro e sequei meus cabelos enquanto olhava minha cara inchada de sono no reflexo do espelho.
Eu passei um óleo qualquer no cabelo para melhorar o aspecto dele e decidi fazer uma maquiagem simples. Um lápis preto borrado propositalmente no olho, máscara de cílios e um blush cremoso para parecer mais natural.
Calcei meu tênis preto comum e arrumei minha mochila que se encontrava em péssimo estado. Tirei dezenas de papéis usados de dentro dela e substitui pelos meus livros e estojo que só continha um lápis e três canetas pretas.
Para terminar, passei meu perfume favorito e terminei de arrumar meus cabelos na frente do espelho. Eu não me achava, pelo contrário, mas era confiante o suficiente para saber que era bonita. Meu rosto era bem comum, mas acredito que o piercing no nariz, meu cabelo loiro nada natural e o corte bagunçado me dava uma aparência mais alternativa.
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A um passo do amor (lésbico)
RomanceAos 17 anos, Cecília Gomez tinha o intuito de aproveitar a vida ao máximo. Sua mãe, não chegando nem perto de ser a melhor, dizia que sua filha era a típica adolescente rebelde. Na escola, Cecília chamava a atenção de todos por conta de sua beleza...