Capítulo 53; pt.1

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Olívia

Era Halloween.

Não sei quanto tempo eu demorei para decidir qual fantasia eu e Cecília usaríamos, mas foi mais que o normal. Decidimos primeiro que iríamos de casal e por isso as fantasias tinham que combinar, mas foi ai que a coisa ficou feia.

Eu poderia dizer que foi ai que aconteceu nossa primeira briga, mas nossas discussões começaram muito antes da gente se beijar pela primeira vez. Eu tentava não me descontrolar e perder a cabeça e tinha certeza que ela fazia o mesmo, toda vez que a gente não chegava em um acordo. Mas no final, foi decidido que nós iríamos de Chucky e sua noiva. Infelizmente eu não iria de Chucky, porque de acordo com Cecília eu sou loira e iria "combinar mais", e foi depois que ela me disse isso que eu percebi que estaria disposta a fazer o que ela quisesse.

Que pesadelo.

Quem diria, eu, depois de todos esses anos me escondendo atrás do meu orgulho, cedendo só pra deixar Cecília satisfeita. Aliás, o que eu realmente esperava que deixasse ela satisfeita era o anel que eu comprei no cartão de minha avó e passei duas noites chorando de ansiedade achando o anel cada vez mais feio toda vez que eu olhava pra ele.

Era uma prata simples um uma pedrinha no arco, combinando com a minha e sinceramente era muito bonito, mas eu sabia que Cecília estava acostumada com coisas caras, pelo menos até meses atrás.

Tudo vai ficar bem e a gente vai ser um casal gostoso.

Era isso que eu ficava repetindo para mim mesma. Muita coisa estava para acontecer nesse dia trinta e um de outubro e isso me dava vontade de vomitar. Eu iria pedir Cecília em namoro, Felipe iria dar outra festa depois de meses e eu iria tocar junto com meus amigos de novo.

Nesse quesito, eu acho que estávamos tão bem que não parecia ser real. Além de estarmos cada vez mais unidos, nossas contas nas diversas redes sociais estavam crescendo e eu não poderia ficar mais feliz por estar cada vez mais perto de não ter que fazer uma faculdade, o que eu não falava em voz alta.

Eu poderia até dizer que estava menos nervosa dessa vez, talvez porque eu tinha outras coisas que me tiravam do sério, como no exato momento em que Cecília quase subiu em cima de mim para me maquiar.

-Fica quieta, ou eu vou espetar seu olho.- A morena disse. Ela vestia a fantasia que eu só fui descobrir que era a versão periguete do Chucky assim que ela me faz ajuda-la a colocar a mini jardineira.

-Não dá pra ficar quieta com você assim na minha frente, me desculpa, mas eu acho melhor você não sair de casa hoje. Eu peço pra alguém me gravar tocando e te mando assim que possível.- Eu falei, mas a garota só se afastou e cruzou os braços, ainda segurando o delineador preto.

-Eu vou sim, você vai calar a boca e vai abrir só pra cantar olhando pra mim.-Cecília falou com seu tom sério e eu me lembrei que estava prestes a namorar a garota megera da sala.

Era o que eu mais queria.

-Nossa, querida, falando assim eu fico até emocionada. Acho que até eu vou ficar em casa, meu hormônios estão a flor da pele depois dessa.- Eu falei com ironia e puxei Cecilia pela cintura, eu estava sentada na cadeira do meu quarto e ela estava em pé entre minhas pernas. Perto demais mas não perto o suficiente.- Cecília...

-Oi, Olivia.- Cecília disse depois de voltar a me maquiar, ela murmurou alguma coisa quando eu apertei suas coxas e eu continuei em silêncio.- Você não vai me falar o que é? Eu não mordo.- Ela falou depois de um tempo e deu risada quando eu continuei em silêncio.

Cecília terminou de maquiar meus olhos, guardou as coisas na bolsa e voltou e ficar entre minhas pernas, eu a abracei e ela segurou meu rosto com carinho. Ela percebia quando eu ficava nervosa e eu faltava sair correndo de tanta vergonha, uma onda de emoção chegou em mim e eu faltava vomitar as palavras que estavam presas na minha garganta há alguns dias.

-Eu quero te falar uma coisa, mas eu tenho vergonha...Acho melhor eu falar depois.- Eu disse tentando acabar com o assunto, a festa estava prestes a começar e eu sentia minha cabeça girando.

-Pode me dizer, não fica com essa cara fechada não.- Cecília selou nossos lábios por longos segundos e passou a mão nos meus cabelos.- Hm, fala ai.- Ela disse com uma paciência que eu me surpreendi.

-Cecília, eu não sei se você sente a mesma coisa ou se eu tô sentindo tudo muito intensamente e as coisas tão acontecendo muito rápido.-Eu falei, tentando não desviar o olhar da menina mais bonita que eu já vi.

-Muito rápido? Eu acho que demorou muito tempo pra gente se acertar, você não acha?- Ela sorriu pra mim, me deixando segura para falar o que eu queria desde o começo da noite.

-Eu...Eu acho que eu te amo, Cecília.- Eu suspirei e a garota sorriu.- Quer dizer, eu não acho, eu tenho certeza. De verdade.

-Pois eu também tenho certeza que eu te amo, Olivia.- Cecília disse e eu senti meu coração parar por um instante.- Então pode parar de ficar insegura.

-Você promete? Porque eu te amo muito mesmo, tipo, eu acho que eu posso morrer por causa disso, deve ser doença.- Eu falei, quase em desespero e Cecília sentou no meu colo, eu usava um vestido branco e a maneira que ele era fino fazia com que eu sentisse completamente o corpo de Cecília no meu.

-Eu prometo pra você que eu te amo e que infelizmente você não vai se livrar de mim, a gente vai se casar, morar em uma casa com um closet imenso e ter três filhos.- Ela falou, mexendo no meu cabelo, me olhando de um jeito tão lindo que eu amei ela ainda mais naquele momento.

-Nossa, meu ego aumentou muito depois de escutar Cecília Gomez dizendo que quer se casar comigo e ter, não só um, mas três filhos.- Eu disse dando risada e Cecília me calou com um beijo.- Te amo, mais uma vez.

-Te amo, mais uma vez também.- Ela me beijou e eu senti meu corpo se arrepiar com sua boca explorando a minha.- Agora, a gente vai passar nossos batons, sangue falso e tirar foto.

-Mas eu vou poder te beijar ainda essa noite, não é?!- Eu perguntei fingindo de desentendida ao me levantar da cadeira e abraçar Cecília, deixando que ela passasse o batom preto em mim.

-Talvez, eu vou pensar no seu caso. - A garota disse tentando segurar a risada e terminou de nos arrumar.- Pronto, como estamos lindas...

-Concordo, e todo mundo vai dar em cima de você também.- Eu falei, me olhando no espelho e mandando mensagem para meus amigos avisando que íamos sair de casa.

-Eu sei, eu tô muito gostosa, mas eu tô gostando de uma loira emburrada que prometeu me pedir em namoro.- Cecília falou e me abraçou por trás, fazendo eu sorrir de um jeito vergonhoso.- Agora, sessão de fotos.

Eu suspirei quando a morena me puxou pela mão e me fez tirar dezenas de fotos em seu celular. Eu tentava esconder meu sorriso mas era muito difícil. Muito difícil fingir que a garota que eu era completamente apaixonada me amava, e além disso estava disposta a mostrar para todo mundo isso.

Eu não pude deixar de comparar com minha ex filha da puta que me traiu e foi embora.

Cecília me amava e todo mundo conseguia ver, pessoalmente ou nas fotos em que ela me olhava nos olhos e me fazia corar debaixo da maquiagem.

-Você pode falar mais uma vez?- Eu quebrei nosso silêncio dentro do Uber. Cecília me olhou e sorriu, sabendo o que eu queria.

-Eu te amo.- Ela sussurrou e eu senti borboletas no meu estômago, talvez elas nunca fossem embora.

-Eu também te amo, Cecília, desde o dia em que eu tentei te empurrar da escada no oitavo ano.

***

Capítulo bonitinho pra acalmar corações e lembrar que a Olívia é corna.

Beijos, amo vocês 🖕

A um passo do amor (lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora