Capítulo 10

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Cecilia

Na terça-feira a última coisa que eu queria era dar de cara com a garota que me fez perder o sono de madrugada. Não só porque ela provavelmente ainda estava chateada por conta da nossa discussão, mas também porque eu não fazia ideia de como iria olhar para a cara dela depois de ter literalmente desejado ela a noite inteira.

Fala sério, como eu poderia simplesmente fingir que não desejei seu corpo nu em cima do meu fazendo o que quisesse comigo?

Que humilhação.

Eu me odiava por ter simplesmente admitido isso. Principalmente porque ela não se deu nem o trabalho de chamar minha atenção, simplesmente começou a me confundir apenas existindo.

Por causa disso, eu consegui convencer meus pais a me deixarem ficar em casa, dizendo que estava passando mal de cólica. Meu irmão ficou quieto porque percebeu que eu estava estranha, então saiu para a faculdade e eu fiquei com a casa só pra mim.

Porém, estar em silêncio com minha própria presença não foi nem um pouco agradável para uma mente perturbada. Então, eu tomei um dos remédios que minha mãe usava para dormir e praticamente desmaiei na minha cama até a noite. E foi por causa disso que eu passei a madrugada em claro.

Eu não conseguiria viver se alguém soubesse que eu fiquei durante uma hora pensando se deveria ou não mandar mensagem para Olivia. Na teoria era simples, mas por algum motivo eu me senti insegura.

Quando ela respondeu minha mensagem mais rápido do que imaginada eu senti eu coração pulsar mais forte que o normal. Afinal, eu estava contando com que ela só fosse me responder no dia seguinte.

Em um momento da conversa eu simplesmente não pude evitar fechar a tela do celular e simplesmente encarar o teto questionando toda minha existência. Por mensagem eu era irônica e direta como sempre, mas por trás da tela eu estava morrendo de nervosismo só de pensar nela dentro do meu quarto no sábado.

Ao insinuar que eu estava arranjando motivos para ver ela, Olívia me pegou de surpresa. Não porque a implicação era nova, mas sim porque dessa vez era verdade.

Eu queria ter um motivo para que ela viesse na minha casa e para que ela passasse horas prestando atenção somente em mim. E isso eu admiti para Beatriz assim que eu cheguei na escola na quarta-feira.

-Acho que se ela não percebeu que você tá afim dela, ela é muito burra.- Bia falou.- Vocês realmente poderiam fazer o trabalho à distância, mas você quis que ela fosse na sua casa.

-Será que eu tô passando vergonha? Tipo, acho que eu dei a entender que não era nada demais.- Eu comentei baixinho.

-Não sei, vê como ela reage hoje.- Ela falou e o professor entrou na sala de aula.

-Será que ela não vem hoje?-Eu falei ao perceber que seu lugar estava vazio.

Eu não pude evitar ficar chateada, porque realmente queria saber como ela estava. Será que ela iria falar comigo? Será que ela iria me tratar com hostilidade? Será que iria rir de mim na minha cara como nunca fez antes?

Antes que eu pudesse ficar ainda mais insegura, Olivia entrou na sala de aula em passos largos, mas mesmo estando no fundo da sala eu pude sentir seu cheiro doce. Também percebi que ela estava diferente, mas não sabia dizer o porquê, alguma coisa tinha mudado.

-Eita, nem olhou pra você...- Beatriz comentou baixo.

-Cala a boca, sua idiota.- Eu respondi porque o comentário me ofendeu mais que o esperado.

Eu observei seus amigos a cumprimentando, ela não falou muito mas sua amiga me pegou no flagra. Elas sussurraram alguma coisa, mas Olivia não virou o rosto em nenhum momento, apenas olhou o quadro a manhã inteira.

No intervalo, eu costumava ir para o pátio aproveitar o sol da manhã. Para minha surpresa, Olivia e Fernanda tiveram a mesma ideia.

Só pode ser brincadeira...

As duas se sentaram em um banco do outro lado do pátio e continuaram conversando. Fernanda em alguns momentos apertava a perna de Olivia enquanto dava risada, o que me fez prestar ainda mais atenção porque eu tenho certeza que Olivia não é engraçada.

Eu estava certa e Fernanda estava errada, pronto...

Definitivamente a conversa não parecia estar tão interessante, levando em consideração que Olivia fazia contato visual comigo a quase todo instante, ainda falando com Fernanda. Eu inclinei minha cabeça para o lado, encolhendo as sobrancelhas e mesmo assim Olivia não desviou o olhar. Seu rosto estava sério, mas se iluminou em um sorriso quando a garota ao seu lado segurou seu queixo e plantou um selinho em seus lábios cheios de batom.

Ninguém merece.

Ao perceber que estava dando atenção demais para as duas, eu me levantei e procurei meus amigos dentro da escola. Beatriz e seu namorado, João, estavam sentados na mesa do refeitório com Diego, então eu me sentei com eles mas me debrucei na mesa escondendo meu rosto.

-Você quer falar o que aconteceu?- Diego falou ao meu lado, eu balancei a cabeça dando a entender que não.

-Ela só tá cansada, tadinha, acho que tá doente...-Beatriz falou do outro lado da mesa e tocou meus cabelos, fazendo carinho.

Eu não consigo acreditar. Qual é a porra do meu problema?

Não é possível que elas estejam me incomodando tanto. Eu devo estar de TPM ou alguma coisa assim. Pra ser sincera de verdade eu queria chorar, não só porque eu estava confusa mas também porque era para EU estar recebendo atenção.

Bom, atenção eu sempre recebia, mas naquela hora eu queria que uma pessoa específica me desse atenção. Eu desejava isso com minha alma.

-Eu quero morrer.- Eu falei levantando o rosto e juntando as mãos no colo.

-Vamos, vamos no banheiro.- Beatriz levantou e pegou minha mão, me guiando até o banheiro vazio.- Me fala vai.

-Aquela horrorosa fica beijando ela... Eu tenho certeza que é só porque eu tava olhando.

-Me desculpa, amiga, mas você não pode impedir que Olivia beije quem ela quer só porque você gosta dela.- Beatriz sussurrou e seu comentário me fez arregalar os olhos e me abaixar para ter certeza que ninguém estava no banheiro.

-Eu não GOSTO dela, eu só acho ela UM POUQUINHO atraente... E eu não consigo entender como ela não demonstra ME achar atraente, mas fica beijando aquela horrorosa.- Eu falei rápido, temendo que alguém entrasse no banheiro.

-Como você quer que ela demonstre alguma coisa se você só trata ela mal?- Bia falou cruzando os braços.

-EU NÃO SEI! Eu só não posso evitar, é como se ela PEDISSE que mexessem com ela.- Eu falei alto dessa vez.

-Cecília, eu te amo muito, ok?! Mas se você quer alguma coisa com ela, nem que seja só uma pegação básica, você tem que baixar a guarda. Eu tenho certeza que ela iria retribuir o interesse.

-Eu não consigo, tipo, agora eu concordo com você, mas assim que eu tô falando com ela eu tenho a necessidade de falar alguma coisa estúpida, é costume. Será que eu tenho algum distúrbio mental?- Eu concluiu e segurei os braços da minha amiga.

-Para de besteira, só se esforça.

-Olha só, já é ruim o suficiente eu ter admitido que acho ela super atraente, eu não vou ficar por aí dando moral, isso é vergonhoso...- Eu falei.

-Caralho, não dá pra falar com você...-Beatriz ia continuar falando, mas Letícia entrou no banheiro.

-Oi, meninas.- Eu falou e entrou na cabine, eu respondi baixo e saí do banheiro com Bia no meu pé.

-Ah, amiga, você é tão bonitinha quando tá sem graça...- Minha amiga falou e apertou minha bochecha antes de entrarmos na sala de aula. Eu a olhei feio e me sentei na minha cadeira.

A um passo do amor (lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora