Cecilia.
Não querendo ser dramática, mas eu poderia morrer agora.
No domingo, Beatriz me ligou por notar meu sumiço e eu expliquei a situação por cima. Não queria entrar muito em detalhes porque tinha certeza que iria desabar em um choro vergonhoso de novo. A verdade é que eu tinha medo de mostrar meu lado frágil, mesmo que fosse para minha melhor amiga, eu continuava insegura.
Durante o dia eu comi somente uma barrinha de cereal que eu achei na minha mochila de escola. Tudo para não sair do quarto e dar de cara com meus pais.
Meu irmão ficou me mandando mensagens preocupadas, mas as mesmas nunca foram respondidas por mim. Eu não toquei no celular e quando ele tocou segunda feira de manhã eu quase não levantei, mas como eu tinha faltado na outra semana, eu decidi me arrumar mesmo assim.
Depois do banho eu vesti a calça tactel da escola e somente um moletom com capuz. Não me dei o trabalho de colocar nenhum acessório, mas fiquei minutos massageando meus rosto na frente do espelho para ver se desinchava.
Bruno bateu na porta do meu quarto dizendo que meus pais já haviam saído e que eu poderia descer para sairmos. Ele me abraçou quando finalmente viu meu rosto, mesmo eu estando claramente afim de ficar longe de todos.
Que vergonha...
-Vamos. Eu prometo que vai ficar tudo bem.- Meu irmão me seguiu pelas escadas e me estendeu um sanduíche que estava na mesa de jantar.- Eu fiz do jeito que você gosta.
Eu agradeci e entrei no carro logo depois dele. O caminho pra escola foi em silêncio, mas minha cabeça estava a mil.
As palavras da minha mãe ficavam indo e voltando e eu tentava me convencer a não me deixar levar por elas. Eu não era uma vadia, ela não sabe de nada que acontece na minha vida.
Eu também não queria acreditar que minha mãe realmente tinha me afetado. Será que eu nunca iria aprender? Não era a primeira vez e com certeza não seria a última, mas continuava fazendo meu coração doer como todas as outras vezes.
Eu desci do carro e segui em direção a minha sala de aula, ignorando todos a minha volta. Principalmente aqueles que me davam bom dia e tentavam chamar minha atenção. Eu passei reto pelo corredor e quando cheguei na sala, junto com o professor, eu me sentei no fundo e me debrucei na mesa.
Talvez... Se eu mudasse e fosse mais dócil com certeza minha mãe não me traria assim.
Cala a boca, deixa de besteira, Cecília.
Eu me sentia tonta, como se estivesse muito bêbada, não sendo capaz de levantar minha cabeça, mas me lembrei que não comia direito desde sexta feira.
Eu tirei da mochila o sanduíche que meu irmão fez e comecei a comer, sabendo que o professor pouco se importaria. Minha amiga, que sentou na minha frente, me olhava enquando eu comia o sanduíche, mas eu não me dei o trabalho de falar nada.
-Toma, eu trouxe pra você.- Beatriz colocou na minha frente uma garrafa de nescau e dois muffins de chocolate que a mãe dela tinha feito, eu reconheci por causa do pote.- Eu sabia que você não ia comer direito depois daquilo.
-Eu sempre faço a mesma coisa, né. Que engraçado.- Eu dei uma risada sem graça e abri a embalagem de nescau.
-Tá tudo bem, você não quer mudar de assunto? Tenta focar em outra coisa.
Como Beatriz tinha razão, eu parei de beber meu achocolatado e pensei que possíveis tópicos que nós poderíamos discutir. Como estava off das redes sociais, não pude edificar minha amiga com uma fofoca imbecil, mas logo em seguida um nome veio na minha cabeça.
Olivia.
No meio da bagunça que minha cabeça estava eu acabei me esquecendo completamente de Olívia, mas não é como se ela quisesse minha atenção, não é?
Será que eu deveria ter ligado pra ela no dia seguindo? Perguntado como ela estava? Não, não... Não precisava.
Eu olhei para o outro lado da sala e vi a garota de cabelos descoloridos conversando com seu amigo, como se não tivesse outra preocupação. Por um momento eu invejei a mentira que os dois eram próximos, sussurrando um no ouvido do outro e fazendo piadinhas. Com medo que ela me visse meu estado deplorável, eu me escondi no capuz do moletom e falei para minha amiga.
-Eu não deveria ter vindo pra escola hoje...- Eu continuei comendo meu sanduíche.
-Por que? Você também discutiu com ela? As coisas ficaram estranhas?- Ela perguntou baixo.
-Não, é que... eu não quero que ela me veja assim.- Eu admiti e apontei para meu próprio rosto.- Eu não quero que ninguém me veja assim..
-Você é naturalmente bonita, só tá com o olho um pouco inchado. Com certeza ela não se importaria.
-Jura? Poxa, eu até passei aquela pedra que desincha...- Su resmunguei e voltei a olhar Olívia do outro lado da sala.- Mesmo assim, por que eu iria falar com ela? Tô sem cabeça pra isso. Ela não tem que achar ruim.
Eu vi Olívia dando risada com seus amigos e por mais que não conseguisse escutar, fique hipnotizada com a feição que ela fez.
Por que os lábios dela tinham que ser tão inchados?
-Filha da puta.- Eu sussurrei mas minha amiga escutou.
-Calma, eu não disse que ela tá achando ruim! Na verdade ela parece bem de boa...- Beatriz olhou para o outro lado da sala, mas eu me recusei a virar de novo, mesmo quando minha amiga deu um sorriso pra quem é que estivesse do outro lado.
-O que foi isso?- Eu perguntei.- Você sorriu pra ela?
-Não, não foi pra ela, relaxa!
Eu ignorei o comentário e não estendi o assunto. Com certeza essa semana seria difícil, eu não sentia vontade de me mover e por mais que não devesse, ainda me importava com a probabilidade de Olívia pensar que eu estava ignorando ela.
Eu queria que ela soubesse que eu realmente quis, eu queria poder falar pra ela que adorei beijar seus lábios. Mas ela não parecia precisar escutar isso.
Idiota... Vai arrumar o que fazer.
Mas no final, eu não estava ignorando ela. Porra, minha mãe me colocou pra baixo durante o fim de semana inteiro, como eu posso pensar em qualquer coisa que não seja sair de casa e ir embora?
Deixa de ser trouxa, ela nem olhou pra você...
No intervalo, eu fui para o pátio com o intuito de tomar sol. Escolhi a área mais isolada e me sentei, continuei quieta, sem nem mesmo pegar o celular no bolso e olhei o movimento.
O que me chamou a atenção, foi o momento em que Beatriz simplesmente se aproximou da mesa não só com Olívia, mas também com seus amigos e falou alguma coisa que fez Gabriela se levantar e sair junto com ela.
Eu queria saber exatamente o que estava acontecendo, mas respeitei minha amiga. Se ela ainda não me contou é porque não se sente segura o suficiente ou talvez não seja tão importante.
De qualquer jeito, eu estava preocupada demais com meus próprios problemas. Mas cada vez que eu voltava a pensar no assunto, meus olhos lacrimejavam e eu me sentia uma imbecil.
Eu era fraca e precisava tomar controle da minha própria vida.
Talvez eu devesse arrumar um emprego, focar no vestibular e ir pra longe.
Iniciar minha vida do zero, mesmo que eu sentisse que uma parte de mim estava aqui, e eu só não havia a encontrado ainda.
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A um passo do amor (lésbico)
RomanceAos 17 anos, Cecília Gomez tinha o intuito de aproveitar a vida ao máximo. Sua mãe, não chegando nem perto de ser a melhor, dizia que sua filha era a típica adolescente rebelde. Na escola, Cecília chamava a atenção de todos por conta de sua beleza...