Capítulo 42

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Cecília

-Não, não, não...- Eu falei, minutos depois de ser deixada sozinha no banheiro.

Por impulso, eu chutei a lata de lixo do banheiro, deixando o chão nojento e logo meti o pé, mas não sem antes pegar a maldita carta em cima da pia.

Como eu fui burra...

Eu gastei todo meu auto controle para não começar a gritar dentro do banheiro a agir como
uma louca.

Talvez ela não tivesse percebido, mas eu estava quase me embolando nas palavras enquanto ela me olhava. Foi difícil não tocar seu rosto e muito mais não me jogar em seus braços, meu corpo queria ela perto e eu sabia que o de Olívia também, mas ela só se afastou e me deixou lá.

Eu queria puxar ela de volta e chacoalhar seus ombros pra fazer com que ela percebesse que eu só queria que ela me beijasse de novo, mas ao invés disso eu só olhei meu reflexo no espelho, tentando fazer com que minhas lágrimas não deixassem um caminho de delineador preto pelo meu rosto.

Eu procurei minha amiga pelo bar e a encontrei sentada em uma mesa com Gabriela, eles conversavam, ambas com um sorriso no rosto e eu não tive outra opção a não ser interrompê-las.   Gabriela me olhou de cima a baixo quando me viu e não fez questão de esconder a antipatia no olhar.

-Eu não queria interromper, só vou avisar que vou embora, ok?- Eu falei para Beatriz, que deu um gole em sua caipirinha e balançou a cabeça.

-Já?Mas...- Ela começou a falar, mas a carta em minha mão e as lágrimas que brilhavam nos meu olhos me entregaram.- Oh, Lia...Tudo bem...

Ela se levantou mas eu não esperei ela se aproximar, só virei as costas e sai o mais rápido possível do bar. A música foi ficando cada vez mais baixa enquanto eu andava pelas ruas, respirando alto para que as lágrimas não descessem.

Não acredito...

Eu me odiei por ser assim, por errar tanto. Sinceramente, eu nem me lembrava mais do que tinha dito para Olívia naquele dia, mas eu também tinha certeza que me arrependia.

Eu deveria ter percebido antes que eu gostava dela, muito antes. Quando eu a vi pela primeira vez na escola e ela estava brigando com Davi, seu rosto estava vermelho e ela parecia eufórica. Quando eu resolvi dar uma rasteira nela no meio do corredor no oitavo ano, porque ela não tinha elogiado meu cabelo novo. Quando fomos fazer uma excursão para o Pão de Açúcar, e ela mudou de lugar só pra não ter que ficar perto de mim no bondinho, então eu joguei água dentro de sua mochila.

Eu deveria ter percebido em todos esses momentos, mas só agora que eu estava longe que me dei conta.

Cansada de andar, eu chamei um uber e fui pra casa tentando não jogar o envelope pela janela. Eu havia escrito à mão tudo o que eu sentia e como eu queria que ela gostasse de mim de volta para que pudéssemos ter alguma coisa...

Mas Olívia nem abriu o envelope e agora não veria mais o que ele continha, e muito menos o que eu sentia.

Não teria como voltar a trás, eu deveria esquecer e seguir minha vida. Talvez isso só tenha servido para que eu me lembre do quão dura eu sou comigo mesma.

Se eu não fosse assim, talvez pudesse estar feliz.

Em casa, eu fui direto para o banho, lavei meus cabelos por mais tempo que devia e sentei no chão do box exausta. Eu estava exausta por ter me colocado nesse situação, e para piorar eu não poderia contar exatamente o que eu sentia. Meu irmão era um bom ouvinte mas não era uma menina, já Beatriz estava cada vez mais próxima da melhor amiga de Olívia.

A um passo do amor (lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora