Olivia
Sábado.
Talvez agora eu pudesse dizer que sábado era com certeza o dia que tiravam para acabar com minha sanidade mental e me fazer questionar toda a minha existência.
Na sexta eu quase tive uma crise de ansiedade na casa de Davi, foi vergonhoso e eu com certeza fumei mais cigarros ontem do que na ultima semana. Eu não conseguia parar de pensar nas coisas que poderiam acontecer quando eu estivesse sozinha com Cecília, sem ninguém além de nós mesmas para colocar limites.
Fernanda pareceu um pouco insegura quando eu mencionei que teria que ir para a casa de Cecília, mas não é como se ela pudesse fazer alguma coisa, sem contar que eu passei alguns minutos descrevendo o ódio que eu sentia pela garota. Tudo isso enquanto meu subconsciente insistia em se preocupar com a atenção que eu desejava receber de Cecília.
Nos últimos dias eu, sem querer, dediquei mais tempo da minha manhã me arrumando. Meus amigos perceberam e chegaram a comentar, mas eu me recusei a falar qualquer coisa sobre o assunto.
Então ao parar na frente da porta da casa de Cecília, eu alisava minhas roupas tentando criar coragem para bater na porta. Eu estava vestindo uma blusa de alcinha na cor creme, que fazia meu peitos ficarem marcados, mas para combinar eu escolhi uma jardineira preta e uma havaianas básica branca. Meu cabelo estava solto como sempre e meu rosto sem maquiagem, mas eu escolhi usar brinco em todos os meus furos da orelha, combinando com os anéis e colares.
Eu respirei fundo e bati na porta, segurando firme a alça da minha mochila. Depois de alguns minutos a porta foi aberta e Cecília apareceu na minha frente. Ela usava uma calça estampada cintura baixa, provavelmente de alguma loja hippie, e um top preto com as alças grossas. Seus cabelos estavam presos em um coque, mas ela usava uma maquiagem simples.
-Pode entrar...- Ela falou fazendo eu tirar os olhos do corpo esbelto dela.- Vem logo, o ar condicionado tá ligado.- Ela disse mas me puxou pelo braço me fazendo quase tropeçar no degrau da porta.
A casa dela era quase igual a minha, mas com certeza menos aconchegante, tudo era claro e parecia muito vazia. Aliás, ela estava vazia.
-Seus pais estão em casa?- Eu perguntei por causa do silêncio.
-Não.- Ela disse e fez menção para que eu a seguisse pelas escadas de mármore.-Mas isso não significa que você possa se aproveitar de mim.
-Eu me aproveitar de você? Fala sério, mais provável você fazer isso, aliás, já fez...- Eu comentei quando entramos no quarto dela. Ela era grande e assim como o meu, tinha muitas coisas coladas na parede.
-Eu não me aproveitei, você gostou. Não adianta mentir, eu percebi, só faltou me agarrar.- Ela falou se sentando na cama e deixando escapar uma gargalhada sem graça.
-Como se você não estivesse se segurando para não se jogar em mim, não é?!- Eu falei baixo e fiquei na frente dela entre suas pernas. Aproximei meu braço e toquei seu rosto como ela fez comigo na outra semana. Sua pele era macia e por estar tão perto eu pude sentir seu cheiro doce e cítrico. Cecília ficou calada me encarando, mas pegou meu braço com força o tirando do seu rosto.-Tá vendo? Você é toda sensível.- Eu conclui e dei risada, sabendo que isso iria fazer ela ficar nervosa.
-A gente vai fazer a porra desse trabalho e você vai embora o quanto antes, ok?!- Ela se levantou e me empurrou fora da sua frente.
-Como você quiser...- Eu falei torcendo para que realmente terminássemos rápido.
Cecília pegou o computador dela e se sentou de novo na cama, eu me aproximei mas a garota me puxou pelo braço e eu cai com tudo na cama.
-Que porra, mantenha suas mãos em você, Cecília.- Eu falei me arrumando ao lado dela.
-Você demora muito pra fazer tudo, assim a gente não vai terminar nunca.- Ela explicou e abriu um documento do google.
-Como assim? Eu só ia me sentar na cama, você que tá perdendo tempo discutindo comigo.- Eu reclamei e empurrei seu ombro com o meu. Ela me olhou feio e mandou eu parar.
Porém, quando eu obedeci meu cérebro ficou à todo vapor e meu corpo pareceu fervilhar. Nenhum músculo do meu corpo conseguia relaxar ao lado dela e meus olhos insistiam em viajar pelo seu corpo.
-Tudo bem, basicamente a gente tem que escolher um autor estrangeiro, associar com um brasileiro e falar sobre as obras e o que elas representam.- Cecília falou virando para mim, ela analisou meu rosto e por um segundo seus olhos desceram para meus lábios.- Qual a gente escolher? Eu pensei na Jane Austen.
-Jane Austen? E você quer associar os trabalho dela com quem? Mário de Andrade?- Eu dei risada.- Sem contar que os livros dela são muito melosos, ninguém quer apresentar um trabalho sobre isso.
-Muito melosos? Eles são clássicos, não fala assim dela.- Ela defendeu a autora.
-Eu não falei DELA, eu falei dos livros. Aliás, porque você lê romance hétero, pensei que você só gostasse de mulher?- Eu deixei escapar e cobri minha boca com as mãos ao perceber.
-Como você sabe? Eu nunca te contei.- Ela falou me olhando séria, quando eu não respondi ela colocou a mão no meu ombro e me chacoalhou.- Como você sabe?
-Eu só chutei, ok?! Como você queria que eu achasse que você era hétero depois de colocar seus peitos na minha cara?- Eu me recusei a falar que minha amiga fuçou o Instagram dela.
Ela realmente não esperava que eu falasse isso, então por um instante só me olhou sem reação nenhuma, mas depois eu fui surpresa ao sem empurrada no colchão. Antes que eu pudesse raciocinar, Cecília apoiou seus braços ao lado da minha cabeça, mas seu corpo não estava em cima de mim, e sim colado ao meu lado.
-E você tá reclamando? Você tem ideia de quantas pessoas gostariam de estar no seu lugar agora?- Ela perguntou me olhando seriamente, seus olhos fixos nos meus.
-Sai de cima de mim!- Eu falei quase contra a minha vontade. Qualquer um poderia perceber que eu queria seu corpo no meu, mas eu não iria ceder.
Não agora.
Não até ELA ceder.
-Fala com carinho que eu saio.- Ela disse no meu ouvido e eu senti minha intimidade pulsar.- Fala que me quer e eu saio...- Ela sussurrou de novo e em seguida plantou um beijo molhado no meu maxilar. Eu mordi meu lábio inferior tentando controlar o ódio que eu sentia naquele momento.
Porra, se ela não vai fazer nada é melhor nem começar.
Querendo sair logo da situação, eu segurei seu rosto com uma mão e com a outra eu peguei impulso e me levantei, usando meu corpo para joga-la ao meu lado. Eu sentia minha respiração descompassada quando olhei para Cecília, me inclinei como ela havia feito antes e dei de cara com seu sorriso sacana.
-Não brinca comigo, mantenha suas mãos em você.- Eu falei e voltei a me sentar na cama, quase rezando para ir embora.
Até quando eu vou conseguir resistir, meu deus?
-Você tá vermelha, Olivia.- Cecília falou e deu risada, agora suas tranças estavam soltas e ela me olhava com um brilho diferente nos olhos.
-Será que você pode calar a sua boca só por um instante?- Eu pedi.
-Só se você falar com carinho..- Ela falou de novo e estalou a língua.
-Você se acha muito engraçada, né?! Mas tá passando vergonha.
-Você tá passando vergonha, seu rosto tá vermelho.- Ela apontou para mim e eu dei um empurrão nela.
-Cecília, por favor, fica quietinha pra gente conseguir terminar o trabalho?!- Eu falei depois de respirar fundo várias vezes.
-Tudo bem.
-Que tal Edgar Allan Poe?- Eu sugeri.
-Você gosta de Edgar Allan Poe?- Ela perguntou mostrando estar realmente interessada.
-Eu amo os contos dele.
-Eu também.
Finalmente.
Algo em comum.
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A um passo do amor (lésbico)
RomanceAos 17 anos, Cecília Gomez tinha o intuito de aproveitar a vida ao máximo. Sua mãe, não chegando nem perto de ser a melhor, dizia que sua filha era a típica adolescente rebelde. Na escola, Cecília chamava a atenção de todos por conta de sua beleza...