Capítulo 54

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Olivia

Novembro tinha chegado e junto com ele uma mistura de sentimentos que eu quase não soube lidar. O fim do ano letivo, formatura, vestibulares e a certeza de que eu estava crescendo. Tudo isso me deixou aterrorizada, ao ponto de quase vomitar se eu parasse para pensar nisso por muito tempo.

E eu digo que "quase" não soube lidar por que em contrapartida eu estava compartilhando a vida com a pessoa mais incrível que eu já conheci. De fora, Cecília parecia o tipo de garota irresponsável que só sabia o básico para sobreviver no mundo adulto, mas quanto mais tempo eu passava ao seu lado mais eu me sentia segura de que poderíamos passar o resto de nossas vidas juntas. Talvez ela tivesse  mudado mais ainda depois de ter saído da casa dos pais, a garota não dizia mas era fácil ver que ela havia tomado uma posição diferente nos últimos meses, por mais que continuasse sendo a mesma garota antipática de sempre.

Pra mim, era até um pouco mais fácil falar de vestibular, pra falar a verdade. Meus avós deixaram eu apostar  as minhas fichas no ramo da música junto com meus amigos, a única condição era que eu fizesse pelo menos o ENEM. Eu ainda era muito nova e certamente teria tempo para ir atrás de outra carreira caso minha primeira opção não desse certo, o que eu preferia não acreditar.

Daria certo e pronto.

Por outro lado, Cecília disse que não poderia se dar o luxo de se arriscar. Ela prestaria o vestibular e com certeza entraria para o curso que quisesse, afinal, ela era inteligente pra caralho. O que me fazia pensar em um Plano C também, caso nada desse certo para mim, eu seria uma esposa troféu.

No meio de tanta bagunça eu e minha namorada conseguimos manter um relacionamento repleto de respeito e amor, coisa que eu imaginava impossível meses atrás, ainda mais com Cecília. Não só porque vivíamos em conflito mas também porque as vezes eu me questionava se tudo realmente era real.

Porra, olha só pra garota, eu me arrisco em dizer que era é perfeita.

Em comparação, eu era só uma garota com preguiça de pentear os cabelos, olheiras permanentes debaixo dos olhos, maquiagem propositalmente borrada, e o mesmo vocabulário de um garoto que acabou de descobrir que palavrões existem.

Fala sério.

Não querendo me desmerecer, eu sou foda pra caralho, mas os pensamentos intrusivos as vezes eram pesados demais e quando eu cheguei a falar para Cecília sobre isso eu levei um tapa nas costas que me deixou tonta. Claro, que depois a garota tratou de se desculpar por ter a mão pesada demais.

Nos fins de semana costumávamos fazer alguma coisa juntas, como se eu não estivesse vivendo na casa dela assim como ela vive na minha. Nesse sábado, fomos à praia e eu não pude me deixar de lembrar sobre nossa primeira interação aqui.

-Lembra quando você me alisou aqui na praia e eu fui obrigada a fingir que não tava gostando?- Eu falei depois de arrancar um pedaço do picolé de uva de Cecília.

A garota estava em uma cadeira de plástico tomando sol, usando um biquini rosa claro para que marcasse seu bronzeado e sua pele brilhava com conta do bronzeador que ela me fez aplicar. Enquanto eu me escondia na sobra para evitar ficar igual a um pimentão.

-Lembro, mas eu sabia que você tava gostando, você finge muito mal.- Ela falou e tirou o óculos de sol para que eu pudesse ver seus olhos. Um sorriso brotou em meus lábios ao me deparar com suas íris escuras que me encantavam.- Eu só não te beijei por que as circunstâncias não me deixavam, se eu já soubesse que gostava de você as coisas seriam diferentes.

A um passo do amor (lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora