Olivia
Era sexta-feira. A semana tinha passado rápido demais e eu tentei ver o lado positivo da situação. O ano logo acabaria e eu não ia ter que entrar em uma escola nunca mais. Eu não teria que ver a cara feia do pessoal da minha sala, não teria que correr para me arrumar de manhã, e muito menos quebrar minha cabeça para entender o que o professor de matemática escrevia no quadro.
Eu nunca me considerei muito inteligente. No fundamental eu pedia ajuda para minha avó ao fazer as tarefas e conseguia me sair bem nas provas mas no ensino médio era diferente. Eu não era uma aluna destaque e nunca conseguia tirar qualquer nota que não fosse mediana. Então agora no terceiro ano eu já tinha aprendido a me contentar com minhas notas medíocres e mente pouco brilhante.
Mesmo assim, era inevitável não ficar chateada por não conseguir acompanhar o raciocínio do professor. Eu abria o caderno, pegava minha melhor caneta e me concentrava para prestar atenção em cada detalhe mas não adiantava muita coisa. Quando eu não entendia, minha mente já se ocupava pensando na maldita garota que estava sentada do outro saldo da sala.
Era como um jogo de ping-pong. Meu cérebro ficava a mil, indo e voltando pensando nela. Eu não sabia como, mas tudo me lembrava nossos poucos momentos juntas e eu sentia meu peito inflar com uma sensação esquisita. Eu olhava para o quadro branco, guardava o que estava escrito, mas quando eu ia copiar no caderno meus olhos ficavam fixos em minha mão, que no dia anterior estavam dentro das calças de Cecília.
Até que no fim da aula eu me deixei levar pelos pensamentos, com certeza nada apropriados para uma sala de aula. Eu imaginava o que teria acontecido se ninguém tivesse entrado no banheiro enquanto nos beijávamos. Talvez ela deixasse eu toca-la assim como eu fiz há exatamente uma semana atrás, talvez ela levantaria minha blusa e...
-OLIVIA!- Letícia me chamou, fazendo eu perceber que o professor havia saído e o ultimo horário já tinha iniciado.
-Não precisa gritar, o que foi?- Eu perguntei esfregando meu rosto com minha mãos por conta do estresse.
-A gente vai assistir um documentário sabre a Guerra dos 100 anos, o professor pediu par fazer duplas pra mais gente ficar na frente...- Gabriela falou e eu fiz menção pra ela juntar a cadeira na minha.
-Ai, gente eu não to com muita vontade de ir tocar hoje não...- Eu falei e me afundei ainda mais na minha cadeira. Eu puxei o capuz do meu moletom para cobrir meu rosto e cruzei meus braços enquanto Gabriela juntava a cadeira na minha.
-Eu também não to com vontade de levar vocês para minha casa hoje não.- Davi falou, sem tirar os olhos do celular.
-Vocês não são nada divertidos, eu não fiz porra nenhuma essa semana e tô morrendo de tédio.- Letícia falou.
-Idai? Eu já vejo vocês todo dia na escola, deixa de grude.- Eu falei quase fechando os olhos.
Meu celular vibrou dentro do bolso do meu casaco e eu peguei para matar a curiosidade. O professor logo apagou a luz e deu início ao documentário.
"Tira o capuz, eu não consigo ver seu rosto assim." Cecília me mandou.
Eu procurei seu rosto no escuro da sala e a vi encostada na parede do outro lado, ela me olhava com um rosto sem muita expressão. Seu cabelo estava preso em um coque bem feito atrás da cabeça, fazendo as maças do seu rosto ficarem mais aparentes, mesmo no escuro. Seus brincos brilhavam assim como seus lábios, que me chamaram a atenção quando ela o mordeu, ainda me olhando, fazendo eu desviar o olhar.
-Não, na minha casa não...A gente pode fazer na sua, Olivia?- Davi falou, eu concordei sem saber do que eles falavam.
"Você tem que ver o documentário, não meu rosto." Eu respondi.
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A um passo do amor (lésbico)
RomanceAos 17 anos, Cecília Gomez tinha o intuito de aproveitar a vida ao máximo. Sua mãe, não chegando nem perto de ser a melhor, dizia que sua filha era a típica adolescente rebelde. Na escola, Cecília chamava a atenção de todos por conta de sua beleza...