Olivia
Por mais que parte de mim quisesse saber exatamente o que estava acontecendo, eu tentava seguir minha vida normalmente.
Em momento nenhum eu esperei que Cecília automaticamente começasse a me tratar melhor. Mas eu conseguia sentir que alguma coisa estava errada. Ela estava pra baixo e eu sabia que se ela viesse até mim eu abaixaria a guarda.
Nós nos éramos amigas, mas eu não queria ver ela assim.
Durante a semana, ao passar por mim, Cecília passava reto e não se dava o trabalho nem de olhar no meu rosto. Eu tentei, tentei não me arrepender de ter levado ela para o quarto e tentei me convencer que o que tínhamos feito não foi ruim.
Mas será que ela achou ruim? Será que eu defendi uma pessoa que poderia estar falando o quão ruim era fazer sexo comigo?
Meu deus.
Eu tentava colocar na minha cabeça que a mudança não tinha nada a ver comigo. Mas de madrugada eu me convencia que talvez eu tivesse sugado sua energia e por isso ela estava diferente.
Besteira, eu sei...
Na quinta-feira, eu acordei antes mesmo do meu alarme tocar. Eu sentia como se tudo tivesse começado a dar errado. A escola estava um porre, Fernanda começou a andar com o grupinho que Davi carinhosamente chamava de "virgens malditos" desde o nono ano, e secava até a minha alma ao passar por mim. Em contrapartida, Cecília só faltava pisar em mim pra mostrar que eu não era ninguém. Mas isso era o que meu subconsciente dizia.
Para com isso, Olívia, não seja imbecil.
Depois do banho, eu passei maquiagem de qualquer jeito na minha cara e revirei o guarda roupa inteiro pra achar uma regatinha e uma bermuda da escola. A blusa ficou apertada por ser antiga e a bermuda larga por ser de Davi, mas nem pra escola eu queria ir então não me importei.
Aliás, se eu não tinha ninguém pra impressionar, não tinha porque ir arrumada.
O tênis foi o mesmo de sempre, depois de colocar meus brincos eu prendi meu cabelo em um coque mal feito e desci as escadas com meu gato no colo.
-Vovó, acho que eu não tô me sentindo bem... Posso ficar em casa?- Eu pedi me jogando no sofá.
-Se você não for pra escola eu vou te levar pro trabalho comigo. Eu tenho umas notas pra você emitir e...
-Ta bom... Eu já tô melhor, acho que só preciso de um solzinho.- Eu me levantei e fui para a cozinha pegar alguma coisa pra comer.- O que tem?
-Eu comprei o iogurte que você gosta...-Minha avó respondeu. Ela mexia em sua bolsa do trabalho. procurando alguma coisa no meios das maquiagens e papéis.
Eu coloquei o iogurte grego na tijela e misturei algumas frutas que estavam na geladeira. Depois de comer eu peguei um pacote de biscoito e joguei na minha mochila com minha garrafa de água.
Antes eu tinha mentido pra minha avó dizendo que não me sentia bem, mas ao chegar na sala de aula e sentimento virou realidade. Beatriz estava simplesmente sentada no meu lugar. Não me leve a mal, a sala de aula nem tinha mapa de sala, mas pra ela estar lá conversando com meus amigos era no mínimo estranho.
Nos últimos dias, a aproximação da garota me deixou surpresa, mas por algum motivo lá no fundo eu já esperava. Acho que agora eu poderia dizer que Gabriela e Beatriz definitivamente estavam ficando. No começo, eu presumi que Cecília também fosse se juntar com nós, mas eu estava errada.
O estranho era que minha amiga se recusava a falar uma palavra a respeito do assunto. Nós estávamos no escuro, e o fato de Cecília não ter visto essa aproximação como oportunidade para vir falar comigo me deixou chateada.
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A um passo do amor (lésbico)
RomansaAos 17 anos, Cecília Gomez tinha o intuito de aproveitar a vida ao máximo. Sua mãe, não chegando nem perto de ser a melhor, dizia que sua filha era a típica adolescente rebelde. Na escola, Cecília chamava a atenção de todos por conta de sua beleza...