Cecília
-Tudo bem, deu 13,60. Qual é a forma de pagamento?- Eu falei com o meu tom mais gentil.
Era domingo e eu já havia começado no trabalho. Eu não pude escolher meu horário, mas eu trabalhava apenas quatro vezes na semana.
Eu não fiquei impressionada por conseguir o emprego. Eles precisavam de ajuda e eu aprendi rápido tudo o que me mostraram. O caixa era eletrônico e era simples pegar os sorvetes. A pior parte era ter que lidar com desconhecidos.
Acho que não é muito recomendado que pessoas antipaticas trabalhem com o público, mas eu realmente buscava minha independência financeira agora e não era meu mau humor que iria me atrapalhar. Eu fui profissional com a senhora que me pediu para experimentar todos os sabores e até com o homem de meia idade que claramente deu em cima de mim, me fazendo ficar enjoada.
Que nojo.
Porém, sempre que o sino da porta de entrada tocava eu sentia meu coração parar por um segundo. Eu temia que alguém da escola me encontrasse aqui e questionasse porque eu estou trabalhando. Afinal, eu vivo uma vida confortável e a grande maioria dos alunos de escola particular não precisam trabalhar. Foram anos e anos construindo uma imagem minha e eu estava acostumada com pessoas me colocando em um pedestal, não me vendo de avental em uma sorveteria qualquer.
Idiota, eu sei.
E por isso eu precisava engolir meu orgulho e trabalhar de boca fechada, contando as horas para ir embora. No domingo, eu entrava um pouco antes do almoço e saia as 16h, mas agora os minutos pareciam mais longos.
Quando o movimento cessou um pouco eu me sentei no banco atrás do balcão e tirei meu celular do bolso de trás da calça jeans.
Mais cedo, depois de me obrigar a estudar o assunto que eu perdi por estar com Olívia no banheiro, eu postei uma foto no instagram para continuar o engajamento. Na foto, eu estava encostada no balcão da cozinha de Felipe, logo que a festa começou, o flesh da câmera do celular me iluminava no meio do escuro da casa e as notificação de curtidas subiam no celular.
Centenas e centenas de curtidas, mas a de quem eu queria não chegava. Era bizarro.
Bastou apenas uma semana para que eu não conseguisse tirar Olívia da minha cabeça. Eu não gostava de pensar no motivo, mas ela sempre estava lá, ocupando meus pensamentos. E pra piorar, era como se eu estivesse viciada nela.
Completamente viciada. Eu desejava seu corpo junto ao meu durante o dia e chegava até a digitar mensagens nunca enviadas, perguntando quando nós veríamos. Era besteira, já que faziam menos de dois dias que nos vimos.
Aliás, uma coisa era me envolver por atração puramente carnal. Mas ceder o suficiente para demonstrar que eu sinto falta dela é outra coisa. Que vergonha.
Eu sinto falta dela.
Nesse mesmo instante, a notificação de uma curtida apareceu no meu celular. Mas antes que eu pudesse reagir, Olívia também me mandou uma mensagem no whatsapp.
"Tá fazendo o que?"
Simplesmente.
"Nada, por que?" Eu menti.
"Hm, nada não..." Olívia mandou a mensagem e eu vi que ela continuava digitando, mas a mensagem nunca chegava.
O sino da loja chamou minha atenção e eu levantei rapidamente, guardando meu celular. Eu atendi o grupo de pré adolescentes e logo depois de servir os sorvetes eu peguei meu celular no bolso.
"Quer colar aqui em casa?"
Se eu dissesse que era o que eu mais queria seria imbecilidade e vergonhoso. Eu olhei as horas no celular e vi que ainda faltavam três horas para eu sair do trabalho. Ao invés de responder a mensagem, eu simplesmente coloquei o celular de volta do bolso e comecei a limpar o balcão, esperando que o tempo passasse.
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A um passo do amor (lésbico)
RomanceAos 17 anos, Cecília Gomez tinha o intuito de aproveitar a vida ao máximo. Sua mãe, não chegando nem perto de ser a melhor, dizia que sua filha era a típica adolescente rebelde. Na escola, Cecília chamava a atenção de todos por conta de sua beleza...