Cecilia.
Eu estava tão cansada que não tive nenhum sonho durante a noite. Eu simplesmente fechei os olhos e acordei no domingo. Mas não acordei normalmente, não como eu imaginava.
Acordei com alguma coisa tapando meu nariz, fazendo quase impossível para que eu respirasse. Demorou um tempo até que eu percebesse que era algo cheio de pelos e mais alguns minutos para perceber que era o gato de Olívia.
Eu tirei ele do meu rosto com cuidado, com medo que ele me arranhasse e respirei fundo. Só então eu percebi os braços de Olívia em volta da minha cintura e minha barriga esfriou.
Acho que eu nunca iria me acostumar com essa troca de carinho. Tão genuíno e tão simples, que me causava fraqueza.
Eu estiquei meu braço para pegar meu celular de baixo do travesseiro e vi que ainda era cedo, mas eu precisava me arrumar para ir trabalhar. Só então eu percebi que Olívia não sabia disso, ela provavelmente achava que poderíamos ficar o dia todo juntas.
E era o que eu mais queria.
Eu tentei me desvencilhar do seu aperto, mas seu braço estava me apertando, o que me fez ter certeza que ela estava acordada por causa da força na minha cintura.
-Não...Fica aqui!- Ela protestou e eu consegui tirar o braço dela de mim, Olívia gemeu em negação.
-Eu preciso ir trabalhar, Olívia.- Eu falei depois de me sentar na cama.
-Trabalhar? Desde quando você trabalha?- Ela perguntou ainda de olhos fechados, e abraçou minha cintura depois de chegar mais perto.
-Desde que eu decidi que não queria mais depender dos meus pais idiotas.- Eu suspirei e virei para encarar Olívia, que ainda estava sonolenta e nem sequer abriu os olhos. Ela estava tão bonitinha que eu não resisti beijar sua bochecha.
-Hm, e você é o que? Modelo?- Ela perguntou e eu vi sua bochecha corando quando eu tirei o cabelo loiro do rosto dela.- Você tira foto de calcinha?
-Eu sou atendente em uma sorveteria.- Eu falei de uma vez e ela abriu os olhos lentamente.- Para de ser pervertida...
-Ah, então isso significa que eu posso pegar sorvete de graça?- Ela encolheu os olhos e me encarou.
-Não...- Eu dei risada e Olívia sentou na cama comigo.- Significa que eu vou ter que sair e só vou voltar no fim da tarde.
-Hmm, que legal! Você vai sair pra trabalhar e eu vou ficar aqui como uma dona de casa...- Olívia falou e eu fiquei surpresa por essa ser a reação dela.- Eu não me importaria em ser uma dona de casa.
-Você não se importaria se eu saísse todos os dias e você ficasse em casa?- Eu perguntei brincando.
-Desde que você voltasse pra mim no final do dia...-Ela disse e só então percebi que ela estava seria.- Mas você ia ter que me trazer alguma coisa, tipo...Um sapato novo todo dia.
-Todo dia?- Eu perguntei abismada.- Por que você teria tantos sapatos?
-Coleção...- Ela respondeu e bocejou, eu achei graça do seu rosto inchado de sono e Olívia se jogou na cama de novo.
Só então eu percebi que nós duas estávamos nos referindo a nosso relacionamento a longo prazo. Mesmo que fosse brincadeira, perceber que Olívia não via a gente como algo passageiro fez meu coração ficar quente e eu sorri sozinha. Ela realmente havia me perdoado, e agora parecia que nossas discussões anteriores não passaram que uma chuva em um copo d'água.
Era ela.
Eu queria ficar com Olívia, não só agora mas para sempre. Eu desejei não me apaixonar por mais ninguém. Ela era o suficiente pra mim, pra sempre.
Meus pensamentos me levaram pra longe e só depois de um tempo eu percebi que Olívia tinha voltado a dormir. Eu me levantei a fui escovar os dentes, o gato de Olívia me acompanhou e subiu na pia, me observando fazer minha rotina da manhã.
Ontem depois que a avó de Olívia chegou em casa meu irmão trouxe uma bolsa com meu uniforme de trabalho e outros pertences. Eu pude lavar meu rosto com meu próprio sabonete e passar meu próprio perfume. Por mais que no dia anterior quando eu usei tudo de Olívia, eu achei graça.
Eu arrumei meu cabelo em um rabo de cavalo alto e sai do banheiro para trocar de roupa. Olívia continuava dormindo, jogada na cama embolada no meio do edredom, e eu fiz silêncio. Eu também estava muito cansada, mas não poderia me dar o luxo de perder um emprego.
Mas aí em pé ao lado de sua cama, observando ela dormir, eu me emocionei um pouco. Os dias em que estávamos brigadas pareceram anos longos e agora que eu estava com ela parecia nunca ser o suficiente. Eu queria viver cada momento ao seu lado para recuperar o tempo perdido.
Como algumas pessoas podem ter relacionamentos à distância?
Olívia se remexeu na cama e logo seus olhos se abriram, ela coçou seu rosto quando percebeu que eu estava em pé ao seu lado e se sentou na cama. Ela se aproximou da beirada e cruzou as pernas antes de envolver minha perna esquerda com seus braços.
-O que você está fazendo?- Eu perguntei tentando segurar a risada.
-Eu quero te abraçar, mas tô com preguiça de levantar.-Ela respondeu e deu de ombros, pegando seu celular na cama e mexendo nele, agora com a cabeça encostada na minha barriga.
-Você tem que ir mesmo? Fala que ficou doente, Cecilia.- Olívia falou e voltou a mexer no celular, eu via que ela estava checando as notificações do seu instagram e as diversas mensagens privadas que havia recebido nos últimos dias.
-"Meu sonho você vir tocar aqui em casa" quem mandou isso?- Eu li em voz alta a mensagem que Olívia recebeu, de uma garota que eu não conhecia. -Me da esse celular aqui, vai.
A garota me olhou estranho e desligou o celular.
-Vai fazer o que? Responder a garota? Deixa isso em paz, eu nem conheço ela.- A loira disse e eu cruzei os braços, não conseguindo acreditar em como ela poderia estar agindo de maneira normal.
Mas... Deve que isso era normal pra ela, eu só sabia que isso que eu estava sentindo não era normal.
Ciúmes.
-Sim, é exatamente isso que eu vou fazer.- Eu peguei o celular de Olívia e coloquei na frente de seu rosto. Ela se afastou de mim para desbloquear o celular e voltou a me abraçar.
-Só não seja mal educada...- Olívia disse e bocejou.
-"Eu estou comprometida"- Eu li em voz alta o que eu escrevi e enviei antes de jogar o celular na cama.
-Eu não sabia que eu estava comprometida...-Olívia disse, tirando sarro da minha cara. Ela deu risada e sua voz sonolenta saiu mais rouca que o normal.
Só então eu percebi o que eu tinha dito. As palavras saíram da minha boca sem pensar e quando eu vi já tinha enviado a menagem. Um dia eu estava xingando as próximas cinco gerações de Olívia e no outro eu estava morrendo de amores rezando para que ela gostasse de mim pra sempre. Como eu não poderia desejar que nós estivéssemos em um relacionamento?
-Sabia sim, e por isso você deixou eu pegar seu celular.- Eu respondi e penteei seus cabelos loiros com meus dedos.
-Então nós estamos em um relacionamento tóxico?-Olívia perguntou e apertou minha coxa, como se estivesse me repreendendo.
-Não tem nada de tóxico em colocar limites nos outros. Deixa de criar problemas, depois a gente conversa.- Eu falei e ela se afastou de mim, ainda com as mãos na minha coxa. Olivia me mantinha no lugar, com a intenção de não me deixar ir embora .
-Tá bom, sargento.- Olívia disse e revirou os olhos.- Acho que eu vou voltar a dormir quando você sair, e só vou acordar depois que você voltar.
-Tudo bem, assim você não sente minha falta...- Eu perguntei dando risada e ela assentiu.- Idiota...
-Sim...-Olivia respondeu e inclinou a cabeça para me olhar.- E o beijo de despedida?- Ela perguntou, e parecia tímida ao exigir o beijo. Mas eu simplesmente me inclinei e selei nossos lábios antes de sair do quarto com minha bolsa.
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A um passo do amor (lésbico)
Roman d'amourAos 17 anos, Cecília Gomez tinha o intuito de aproveitar a vida ao máximo. Sua mãe, não chegando nem perto de ser a melhor, dizia que sua filha era a típica adolescente rebelde. Na escola, Cecília chamava a atenção de todos por conta de sua beleza...