Capítulo 14

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Cecilia

Definitivamente isso era um absurdo.

Como essa garota tem a cara de pau de nem sequer olhar na minha direção depois do climão do fim de semana?

Talvez ela possa ter achado que eu dei um gelo dela depois que nós compartilhamos um cigarro no meu quintal, mas na verdade eu só queria me concentrar para terminar o trabalho. Desde que eu me tornei adolescente eu senti a necessidade de controlar tudo o que estava ao meu alcance, e a maneira com que eu não conseguia controlar as reações do meu corpo em relação à Olivia era desconfortável.

Sempre foi simples pra mim, eu era confiante e direta o suficiente para flertar com quem eu quisesse, porque a probabilidade de eu ser rejeitada era mínima. Mas saber que a rejeição era o que provavelmente aconteceria comigo me deixou ansiosa para que Olivia fosse embora.

Em diversos momentos do domingo eu tentei achar uma solução para o que estava me incomodando, eu até cheguei a cogitar ser mais gentil com ela. Talvez se eu fosse delicada e carinhosa como Fernanda, Olivia me quisesse.

Mas isso seria estúpido, completamente imbecil e medíocre. Eu claramente não estava disposta a mudar só por causa de um beijinho não garantido. No final do dia, eu não GOSTAVA de Olivia, era completamente sexual.

Eu não queria demonstrar minha chateação, mas toda vez que a olhava Olívia ela nem sequer notava minha presença. Sem contar que ela e Fernanda pareciam ainda mais próximas.

-Arruma essa sua cara, por favor, tá me doendo...- Beatriz disse durante a aula. Eu tentava prestar atenção, mas fazer desenhos no meu fichário era bem mais divertido.

-Eu tô com uma cara normal.- Eu respondi rabiscando a lateral da folha do fichário.

-Não, você tá com uma cara mais antipática que o normal, isso é assustador.- Ela explicou.- O que exatamente aconteceu?

-Você sabe o que é...- Eu sussurrei, me recusando a falar mais que isso.

-Então você tá chateada porque Olivia não te beijou sábado, não implorou pra vc comer ela e não te apresentou para os pais dela?-Ela listou.

-Sua idiota, eu te odeio demais, eu não gosto de falar sobre isso com você...- Eu fiquei chateada e respondi com grosseria.

-Então me fala o que é?!

-Ela nem me olhou, Bia, será que eu fiz alguma coisa muito horrível? Poxa, eu juro que ela tava flertando comigo de volta.- Eu expliquei e apoiei minha cabeça na parede.

-Mas você me disse que na maior parte do tempo vocês só brigaram, sem contar que vocês nunca foram amigas. Você esperava que ela pegasse a cadeira dela e ficasse de duplinha com você o dia inteiro e te beijasse loucamente depois?

Sim.

-Não, mas...Ai eu não sei, ok? Só não gostei.

-Sabe, eu fiquei sabendo que ela e os amigos vão tocar na festa do Felipe essa sexta, se você quiser ir a gente pode se arrumar na minha casa. Quem sabe ela não te da uma chance...

-Ela me dar uma chance? EU tenho que dar uma chance pra ela...- Eu corrigi.

-Na verdade vocês duas tem que ceder, tá bem claro que vocês querem se pegar e ficam nessa agonia inteira. Acho que até os professores perceberam...- Beatriz explicou.

-Você não entende, e eu não consigo explicar...Ela faz eu me sentir estranha, sempre me fez...- Eu falei baixo demais.

-Isso é paixão.- Beatriz falou mas eu tenho certeza eu quem estava perto de nós escutou, por impulso eu empurrei suas costas e ela deu um gritinho de susto. O professor brigou com a gente, mas logo voltamos ao assunto.

-Eu não estou apaixonada, é como se fosse um desafio trazido pelo universo. Talvez seja uma lição de moral, sei lá.

-Começa a seguir ela no Instagram.-Beatriz falou depois de uns minutos em silêncio.- Bora, segue ela, quem sabe depois disso ela não OLHE pra você...

Mesmo não querendo obedecer minha amiga, eu fiz exatamente o que ela mandou. Cliquei rapidamente no botão de seguir e desliguei o celular. Mas logo me arrependi.

-Porra, ela vai achar que eu fiquei procurando o Instagram dela, ela vai achar que eu tô obcecada.- Eu falei e em seguida o sinal bateu. Nos levantamos arrumando as coisas e saindo da sala.

-Amiga, você está obcecada, mas tudo bem. Não fica pensando muito nisso, sexta a gente vê como se desenrola.- Bia falou e eu vi João se aproximando de nós.

-E se eu me matar antes de sexta-feira?- Eu falei escondendo me verdadeiro desespero.

-Opa, que tipo de conversa é essa?- João falou e deu um selinho em Beatriz. Minha amiga fez uma cara feia e eu fiquei confusa com a reação.

-Nada, eu preciso ir...- Eu terminei a conversar e sai na frente dos dois.

Eu caminhei pela fila de carros estacionados na frente da escola e encontrei minha mãe perto da saída.

-Boa tarde, mãe.- Eu a cumprimentei e me joguei no banco da frente do carro. Minha mãe deu partida mas não respondeu meu cumprimento, talvez só estivesse de mal humor.

-Mãe.- Eu chamei de novo e Patrícia só me olhou e encolheu as sobrancelhas, dando a entender que eu poderia continuar o que estava dizendo.

-Vai ter uma festa na casa de um amigo meu essa sexta, eu vou ok?!- Eu avisei e fui surpresa com a risada falsa da minha mãe.

-Ah então você não precisa de permissão. Só tá avisando?- Ela respondeu friamente.

-Então eu não posso ir? Poxa, mãe, faz tempo que eu não vou em uma festa. Felipe é meu amigo, não vai ter nada demais.- Eu expliquei, já ficando nervosa com a situação. O que deu nessa mulher hoje?

-É sempre assim, você sai pra onde quer, na hora que quer e com quem quer. Você age como se não tivesse nenhum responsável, acha que eu não sei da fama de vadia que você tem?- Minha mãe praticamente gritou e suas palavras me atingiram como se fossem um tapa na cara.

Não eram raras as vezes que minha mãe explodia desse jeito. Na verdade, eu procurava não falar muito com ela justamente por ela jogar ofensas na minha cara. Eu tentava, juro que tentava não ligar, mas tem sido cada vez mais difícil.

Eu senti meus olhos se enchendo de lágrimas mas não deixem que elas descessem pelo meu rosto.

-Não precisava falar assim, mãe.- Eu sussurrei, me sentindo pequena no banco do carro.

-E você quer que eu te dê parabéns, aja como se eu tivesse orgulho de você?- Ela deu uma risada nasal e eu preferi não retrucar.

Eu me considerava uma pessoa forte, mas perto da minha mãe eu me sentia pequena e inferior. A verdade é que todos os dias eu tentava empurrar para o fundo da minha memória todas a coisas que minha mãe me dizia. Mas foi só ela me chamar de vadia que minha semana estava acabada.

Tá tudo bem, eu vou embora logo e não vou ver ela nunca mais.

A um passo do amor (lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora