girls night.

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Eu estava sentada em meu quarto, fazendo o meu dever de casa como sempre, quando a porta se abriu e alguém achou que estava tudo bem só ir entrando, sem nenhum aviso prévio, eu não sei quantas vezes eu terei que dizer as pessoas que elas devem bater, eu não entendo porquê elas não batem, não é tão difícil assim. 

Eu me virei, claramente irritada pra porra e queria deixar isso claro, e contrei minha mãe parada na entrada do meu quarto, já era tarde e eu sabia que ela tinha acabado de chegar do trabalho, ela parecia que não dormia por no mínimo três dias, minha mãe trabalha quase todos os dias como garçonete em um restaurante logo virando a esquina, ela tinha turnos quase todas as noites e mesmo que ela nunca fosse admitir, eu sabia que ela odiava o trabalho. Ela trabalhava demais para o pouco de salário que pagavam a ela e não, é claro que ela não podia só se demitir, não é como se fosse fácil encontrar um bom emprego por aqui, além do mais, se o fizesse, nós realmente sentiriamos falta do dinheiro no momento.

— Sim? - perguntei a ela, largando a minha caneta, decidindo que já tinha estudado o bastante por hoje, eu já estava com quase tudo decorado e iria terminar o resto amanhã de manhã antes da aula.

Eu sinto que tudo o que tenho feito é dever de casa ou qualquer outra coisa relacionado a escola, estava cansada.

— Eu só queria perguntar se você poderia cozinhar amanhã, Agatha está doente e eu tenho que cobrir pra ela. Você faria isso? Cozinhe para você e a sua irmã, eu vou estar em casa antes da meia noite, eu prometo.

Eu concordei, me obrigando a forçar um sorriso, mesmo que eu não tivesse desejo algum em jantar com a minha irmã sozinha, ela provavelmente nem vai estar em casa, vamos esperar que não esteja.

— Por que não convida a América também? Seria bom pra ela e a sua irmã se aproximarem, não acha?

Doía o meu coração vê-la tão desesperada, eu sei que ela ama a minha irmã e só queria que ela fizesse alguns bons amigos, como a América, mas no fundo ela sabia assim como eu também sabia, que a minha irmã e a América não seriam amigas, nunca.

— Sim, talvez...

Um sorriso imediatamente cresceu em seu rosto e ela me deu um beijo demorado na bochecha antes de deixar o meu quarto.

Eu me levantei da cadeira e caminhei até a minha cama, antes de me deixar cair no colchão, eu afundei meu rosto no travesseiro e gritei, tentando me livrar da frustração que surgiu do nada, me deitei por alguns minutos até o meu celular vibrar em cima da cômoda ao lado. Eu me sentei corretamente, peguei o meu celular e li a mensagem enviada por Peter.

"Está afim de uma 'noite das garotas?' Me encontre na minha casa em quinze minutos."

Não precisei nem pensar, me levantei para pegar minhas coisas, celular, carregador, chaves da casa e minha jaqueta de couro preta.

— Estou indo pra casa do Peter. - eu saí gritando pela casa, sabendo que minha mãe iria escutar.

Ela gritou algo de volta que pareceu como "esteja em casa até meia noite", mas eu agi como se não tivesse escutado porque eu com certeza iria chegar depois da meia noite.

[...]

Como a casa do Peter era próxima a minha, eu cheguei cinco minutos antes do combinado, Kamala obviamente estava lá, Kate também e ela mesma escolheu um filme pra gente na netflix.

Kate, Kamala e eu ficamos com o sofá enquanto Peter se sentou no chão, se apoiando no sofá com as costas, mais cavalheiro impossível. Estávamos assistindo um filme de terror sobre uma mulher cega ou pelo menos eu acho que era, não estávamos realmente assistindo se passamos conversando o tempo todo.

— E então como vai o namoro? Você conheceu a família dela né? - Peter perguntou e Kate até se sentou mais confortável para me ouvir, Kamala por sua vez estava mais interessada em entender o enredo do filme.

Eu pensei sobre a Sra. Romanoff e senti como o meu rosto inteiro se esquentou, eu só esperava que eles não conseguissem notar. Mas quem eu estava querendo enganar? Eles eram os meus melhores amigos, é claro que saberiam caso algo estivesse acontecendo.

E estava.

— Meu Deus, o que aconteceu? - Kate quase gritou, fazendo Kamala enfim nos notar e pausar o filme, tudo o que eu precisava, de mais plateia.

Eu revirei os olhos e ri diante a reação dramática delas.

— Nada aconteceu, tudo continua perfeito e as mães dela são legais até. - eram mais do que legais.

Eu esperava que eles deixassem pra lá depois dessa, mas não foi o que fizeram.

— E como elas eram? - Kamala abaixou o controle da tv e se virou para mim, tão curiosa quanto os outros.

Eu ponderei por um momento, sem saber exatamente que palavras usar para descrevê-las, eu nem deveria estar sendo questionada sobre as minhas sogras pra começo de conversa.

— Eu não sei... quero dizer, elas são muito bonitas e encantadoras. - encantadoras, S/N?? — Eu só não sei o que vocês querem que eu diga, eu mal as conheço.

Isso era verdade, eu quase não as conhecia, assim, eu conhecia mais do que estava confessando a eles, mas ainda sim, mal as conhecia.

— Qual delas você gostou mais? - Peter perguntou enquanto balançava as sobrancelhas sugestivamente.

Meu Deus.

Eu mordi meu lábio e me esforcei para manter a postura, queria poder dizer a eles o quão confusa eu estava sobre a mãe da América, eu sabia que eles me apoiariam não importa o que aconteça, mas isso não era sobre eles, era sobre mim. Eu estava com medo de dizer a eles, com medo de dizer sobre como eu me sentia em relação a mãe da minha namorada, uma vez que eu dissesse em voz alta, não teria mais volta.

Eu acho que apenas iria manter esse segredo comigo por mais um tempinho.

— Eu vou contar, mas vocês fiquem de bico fechado. - fiz sinal de silêncio, colocando o indicador em frente meu lábio, eles concordaram. — Da Maria, ela foi legal, com a Natasha eu não tive tempo de conversar, ela é meio que intimidante. - dei de ombros, não querendo mais falar sobre o assunto.

Kate gargalhou, recebendo olhares confusos sobre ela.

— É claro que ela é, aquela mulher não é rica pra caralho? Yelena uma vez me disse que ela comprou uma casa pra cada membro da família. - ela falava como se também não fosse herdeira.

América nunca tinha me contado aquilo, mas pensando bem, por que ela me diria coisas desse tipo? Ela não era de se gabar sobre o quão rica ela era e esse era um dos motivos pelo qual eu gostava tanto dela.

Peter bocejou de sono e eu assenti, depois disso, decidimos terminar o resto do filme que estava ficando assustador e queríamos ver como iria terminar. Uma vez que o filme tinha acabado, eu observei Peter e Kate e sorri os vendo dormir, são sempre eles que acabam dormindo assistindo aos filmes e eu e Kamala acabávamos tendo que explicar o final pra eles no dia seguinte. Por que essas pessoas eram meus melhores amigos mesmo?

Eu chequei meu telefone e notei já ser 01h00, era hora de ir pra casa. Era domingo a noite e as aulas voltariam amanhã. Cuidadosamente cobri o corpo da Kate com o cobertor em cima do sofá e depositei um beijo em sua testa, imaginando que ela iria dormir ali e sair amanhã de manhã com os meninos, me despedi de Kamala que subia para o andar de cima e passei por cima do corpo de Peter caído desengonçado no chão e deixei a casa, a trancando devidamente.

Enquanto eu caminhava de volta até a minha humilde residência, eu pensei no quanto eu já tinha mentido para os meus melhores amigos, fizemos uma promessa de que nunca iríamos mentir um para o outro e aqui estava eu a quebrando, por que era tão difícil de dizer a verdade? Eu sou uma covarde mesmo.

Contar uma mentira as vezes era melhor do que dizer a verdade.

Be Mine (natasha/you) Onde histórias criam vida. Descubra agora