Capítulo 20

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ANAHÍ

Eu pensei que seria estranho fingir que nada tinha acontecido. Pensei que poderia ser difícil conversar com ele. Eu pensei que seria seguro falar sobre a esposa dele – pensei que ouvir sobre ela me ajudaria a lembrar que ele estava fora do meu alcance.

Mas foi divertido. E fácil. E delicioso.

E drasticamente perigoso.

Quando entrei no restaurante, me senti um pouco desconfortável sem saber exatamente como fingiria que não tínhamos feito o que fizemos mas então ele me convidou para sentar, fez uma piada e sorriu. E riu. Deus, a risada dele me deixava tão feliz. Eu queria tocá-lo, pegar tudo dele para mim, sentir tudo.

Ele parecia tão bem. Não conseguia parar de olhar para ele. Adorava seus cabelos ondulados, que tinha notado pela primeira vez, serem um pouco grisalhos. Adorava seus lábios carnudos e tinha dificuldade para desviar o olhar cada vez que ele levava a garrafa de cerveja aos lábios. Adorei ver que as mangas da sua camisa azul mostravam aqueles antebraços bronzeados e musculosos. Ele até estava usando um relógio de pulso, grande e redondo, azul marinho e com uma faixa de couro marrom e costura branca.

Também usava a aliança de casamento.

E quando falou de Soph, tomei isso como um convite para perguntar sobre ela, embora eu tenha ficado surpresa em perceber como ele se abriu. Eu tive a sensação de que ele estava surpreso também, pelo tanto que estava revelando sobre si mesmo mas isso me deixou feliz porque vi que ele se sentia confortável e seguro comigo para tal.

Mas, em vez desse papo em torno de sua esposa diminuir minha atração por ele, aconteceu o exatamente contrário – depois de ouvir sobre o romance deles, me vi ainda mais intrigada. Ali estava aquele ex-soldado grande, musculoso, forte, falando sobre seu primeiro amor, da gratidão que sentia por ela, de como ela o havia salvado. E quando ele disse que não pôde salvá-la, meu coração ficou apertado e os sentimentos por ele começaram a aumentar.

Talvez se ele não tivesse perguntado sobre meu cavalo. Talvez se ele não tivesse se interessado em saber sobre minha família. Talvez se ele não tivesse me dito que se alistou depois do 11 de setembro ou falado tão carinhosamente sobre seu sobrinho ou sorrido tão alegremente ao saber de meu apelido. Talvez então, eu teria ficado segura.

Mas, em vez disso, passei a desejá-lo novamente – tanto – e lamentando as circunstâncias que tornaram tudo aquilo uma péssima ideia.

Tentei não flertar. Tentei não tocá-lo. Eu tentei fingir que nada tinha acontecido mas quando ele pagou a conta – insistiu em pagar – estávamos ambos meios bêbados e incapazes de lembrar das regras auto-impostas.

— Ei, desorientada — ele brincou, virando-me ao ver que eu estava indo pelo caminho errado, procurando a saída. — Nenhum de nós deve voltar dirigindo para casa, então eu vou te levar para a sua casa. De lá, vou andando para a minha.

— Você não tem que me levar de volta.

Ele ergueu a mão.

— Por favor. Se eu não te ajudar, você provavelmente terminará em outra cidade.

Eu ri.

— E a sua caminhonete?

— Ela vai ficar bem.

Um trovão ressoou enquanto nós andávamos na calçada no escuro. O ar quente e úmido tinha um cheiro ligeiramente metálico, mas não estava chovendo ainda.

— Ah merda. É melhor nos apressarmos. — ele pontuou.

Tive que correr para acompanhá-lo e estava sem fôlego por termos percorrido um quarteirão inteiro.

Segunda Chance -Adpt AyA [ Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora