Capítulo 1

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"Todo mundo tem direito ao erro, mas nem todo mundo tem uma segunda chance."

ANAHÍ

Eu não joguei a torta longe.

E, sinceramente, eu acho que é nisso que todos deveriam se concentrar: a moderação suprema, o autocontrole budista, a porra da natureza soberana com a qual olhei para a premiada torta Delícia de Cereja e mudei de ideia. (Só para constar, só me contive por causa da camisa que ele usava. Por mais furiosa que estivesse, não conseguiria profanar uma camisa social tão branquinha e engomada da Brooks Brothers como aquela. Eu não sou um monstro.)

Não que atirar uma bandeja cheia de bolinhos – um de cada vez, com uma péssima pontaria, claro – no meu ex-namorado seja um comportamento digno de elogios. Entendo perfeitamente.

E quem me conhece vai dizer que eu estava completamente fora de mim. Eu, Anahí Giovanna Puente Portilla, me orgulho da minha capacidade de controlar minhas emoções, de continuar graciosa mesmo sob pressão, de manter a calma e seguir adiante. Raramente desço do salto e certamente não faria isso em uma sala cheia de aliados da campanha de meu pai para o Senado.

Sinceramente, eu nunca arremessei comida na minha vida. Na verdade, nunca joguei nada e provavelmente por isso tive certa dificuldade em acertar o alvo – pedi mil desculpas à Sra. Biltmore pelas roupas manchadas. E mais desculpas pelo vaso Belleek – , obviamente não sou de arremessar coisas em casa, porque fui criada com boas maneiras, com bons modos, à moda antiga dos ricos. Acreditando na compostura, na gentileza e, acima de tudo, na discrição. Haja o que houver, nós não fazemos cena.

De acordo com minha mãe, Margaret Puente Portilla (conhecida por todos como Muffe), nada transparece mais quem tem mau gosto – ou pior, quem é emergente – do que fazer cena.

Ela me disse que eu fiz uma cena da qual as pessoas falarão por muitos anos.

Isso provavelmente é verdade.

Eu posso explicar.

xxx

Tudo começou com uma mensagem, que ninguém deseja receber de um ex-namorado à uma da manhã, em uma noite de terça-feira. Nem em nenhuma outra noite, para falar a verdade.

Théo: Preciso te ver. Estou aqui fora.

Eu: Está muito tarde. Podemos conversar amanhã?

Théo: Não, tem que ser hoje. Por favor. Eu preciso de você.

Franzindo o cenho para meu telefone na escuridão, fiquei me perguntando sobre o que poderia ser. Havíamos terminado há bem mais de um ano e apesar de termos mantido um relacionamento cordial, ainda que tenso, desde então, não éramos próximos, nem sequer tínhamos conversado cara a cara desde a noite em que terminamos.

Enquanto eu tentava pensar em como lidar educadamente com aquele pedido, ele mandou outra mensagem.

Théo: Por favor, An An. É importante.

Eu amoleci ligeiramente com o apelido, não porque gostasse dele tanto assim, mas porque ele me fazia lembrar dias melhores. Nós nos conhecíamos há muito tempo, nossas famílias eram próximas, e em um momento cheguei a pensar que passaríamos o resto de nossas vidas juntos.

Poderia ser gentil com ele.

Eu: OK. Me dê um minuto. Porta da frente.

Segunda Chance -Adpt AyA [ Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora