Capítulo 28

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ALFONSO

Eu me levantei, com cuidado para não acordar meu sobrinho adormecido. Amaldiçoei o chão de madeira que rangeu sob meus pés e tentei evitar os pontos que eu sabia que faziam ruído enquanto caminhava até o berço. Após colocá-lo deitado de barriga para cima, beijei seus dedos, toquei sua testa e silenciosamente saí do cômodo.

Encontrei Anahí sentada em uma cadeira de cozinha, com uma mão sobre o coração. Quando me viu, ela bateu palmas para mim. Parecia que estava prestes a explodir em lágrimas.

— Porra. Esqueci de desligar o monitor, não é?

— Eu não posso falar, estou me derretendo. — ela respondeu

Resmungando, fui até a geladeira e peguei uma cerveja. Só queria tocá-la em várias partes do seu corpo, mas não me sentia bem para fazer isso na casa de Peter e Gina, então precisava encontrar algo com o que me ocupar.

— Não se preocupe, não se preocupe. Sua doçura secreta ainda está segura comigo. — ela continuou

Olhei para ela enquanto tirava a garrafa e tomava um gole da bebida.

— É bom mesmo. Quer uma cerveja?

— Não, obrigada.

— Taça de vinho?

Ela hesitou.

— Eu odiaria beber o vinho de Peter e Gina.

— Por quê? Eles conseguiram duas babás hoje à noite. — Eu puxei uma garrafa do rack que ficava acima da geladeira e mostrei para ela. — Essa?

— Parece ótima. Obrigada.

Tirei a rolha da garrafa e despejei o vinho na taça.

— Você está com fome? Pensei em pedir uma pizza.

— Pizza parece perfeito. — Ela sorriu e isso era perfeito. Seu cabelo naquela longa trança castanha era perfeito. A maneira como ela segurava a taça de vinho era perfeita. A maneira como ela beijou meu ombro na noite passada e me disse que eu era a pessoa mais corajosa que ela conhecia foi perfeita. A pizza era somente massa, molho e queijo. Não tinha um gosto tão perfeito quanto o dela.

Eu fiquei acordado a noite inteira pensando nela. Sobre nós. Pensei que me sentiria bem, pois não tive vontade de ficar com ela novamente, que tinha sido forte o suficiente para resistir a essa tentação, mas em vez disso apenas me senti péssimo. Inquieto. Solitário. No passado, encontrava uma espécie de consolo nesses sentimentos, mas não ontem à noite.

Ontem à noite, eu senti falta dela. Pensei nos dias em que passamos juntos, na forma como ela me fazia rir, na forma como ela me ouvia. Fiquei me perguntando quando a veria novamente, o que ela usaria, o que faríamos. Havia lugares onde queria levá-la, coisas que queria lhe mostrar, músicas que queria que ela ouvisse, comidas que queria que ela provasse.

Havia curvas em seu corpo que eu queria beijar, palavras sujas que queria sussurrar em seu ouvido, coisas que queria fazer com ela. Mas também queria ouvi-la. Queria saber sobre seus sonhos, suas esperanças, suas memórias. E não tinha muito tempo – menos de uma semana e só.

Decidi não desperdiçar mais nada. Porque quando ela fosse embora estaria tudo acabado.

Eu dormiria sozinho novamente todas as noites para o resto da minha vida. Sofreria pelos meus pecados. A solidão seria ainda pior por ter tido esses dias e noites com ela. De certo modo, ela se tornaria parte do meu castigo.

Um amigo no Exército me emprestou uma cópia de O Profeta, de Khalil Gibran e me identifiquei tanto com ele que comprei um exemplar para mim quando voltei para casa. Pensei muito sobre esse trecho: "Quanto mais profunda a tristeza estiver em seu ser, mais alegria você pode conter. Naquele tempo, trouxe-me esperança."

Segunda Chance -Adpt AyA [ Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora