Capítulo 29

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ANAHÍ

A viagem de volta para o chalé foi a mais pura agonia. Eu não podia acreditar no jeito com que ele havia me tratado. Minha cabeça estava fritando!

Era só sexo. Era?

Mas ele esperou três anos. Ele veio atrás de mim. Ele me pediu para ficar. Ele confiava em mim. Ele compartilhou sentimentos profundamente íntimos. Não era só sexo! Então o que diabos foi aquela retirada repentina? Eu atormentei meu cérebro, tentando juntar os pedaços.

Teria fingido ser um bom rapaz? Esse idiota que estava ao meu lado era o verdadeiro Alfonso Herrera? Tinha feito tudo aquilo durante uma semana apenas para me levar para a cama? Achei difícil de acreditar, mas eu estava cambaleando. Uma, duas horas atrás, nós estávamos rindo, nos beijando e conversando.

O que havia acontecido de errado? Todos os homens eram idiotas manipuladores? Eu não podia aceitar que Alfonso era como Théo.

Talvez ter relações sexuais na cabana tenha sido demais para ele. Talvez ele se sentisse infiel. Talvez ele se sentisse culpado por ter gostado tanto. Apesar do que ele havia dito, houve algo diferente no sexo desta noite. Algo intenso, real e grande. Algo bom. Eu senti e ele deve ter sentido também.

Olhei para ele de novo e notei a habitual linguagem corporal e expressão teimosa pelo canto do olho. Mas havia algo mais... ele batia a mão direita com nervosismo na coxa. Eu nunca tinha visto isso antes. Algo o feriu. Algo o estava deixando nervoso, até mesmo assustado.

É isso aí. Isso me atingiu de uma só vez. Seu maior medo – soltar seu passado.

Talvez ele tenha começado a soltá-lo. E isso o aterrorizava.

Um pouco de tristeza moderou minha raiva. Por que ele se tortura assim? Por que não se perdoa e segue em frente? Por que não me deixa ajudar? Por que era tão leal à sua dor? E depois de tudo que ele me disse, achava que eu não podia perceber o que ele es tava fazendo?

Queria sacudi-lo. Abraçá-lo. Gritar com ele. Suplicar para ele. Acusá-lo até que ele admitisse a verdade – ele sentia algo por mim.

Mas de que adiantaria? Ele nunca admitiria isso. De fato, pressioná-lo assim só faria com que ele recuasse ainda mais. Era impossível. Até que ele tomasse a decisão consciente de seguir em frente, não havia nada que eu pudesse fazer.

E se os últimos dias não tinham sido suficientes para convencê-lo, eu tinha de enfrentar o fato de que talvez não fosse acontecer.

Controlando as lágrimas quando ele parou na casa, levei a mão à maçaneta da porta antes que a caminhonete parasse de se mover.

— Anahí.

Congelei. Recusei-me a olhar para ele.

— Só quero que você saiba. Eu... — ele lutou por palavras. — Eu me diverti muito com você.

— Ah, meu Deus. — Agora eu olhei para ele. Suas palavras pareciam uma bofetada no meu rosto. — Mesmo? Isso é o que você tem para me dizer agora?

Ele ficou me observando.

— O que você quer que eu diga?

— Quero que você admita a verdade, Alfonso! — Gritei, amaldiçoando as lágrimas que não iriam parar. Quando eu tinha me tornado tão sentimental? — Você sente algo por mim e está com medo disso.

— Não me diga o que eu sinto — disse ele com raiva, inquieto em seu assento. — Você não tem ideia de como eu sou.

— Você está certo, eu não sei. Mas sei que você está escolhendo ser assim. Fechado. Triste. Sozinho. — Passei as costas da mão no nariz e suavizei minha voz. — Não tem que ser assim, Alfonso. Nós poderíamos ficar bem se você se deixasse seguir em frente.

Ele começou a dizer alguma coisa, depois parou. Cerrou a mão direita em punho.

— A noite em que eu pedi para você ficar, você disse que não precisava de promessas.

— Eu não preciso! E eu não... não estou pedindo uma promessa, Alfonso. Estou pedindo uma chance. Somente isso. Uma chance. — Meu coração bateu acelerado no peito enquanto ele pesava minhas palavras contra suas convicções equivocadas.

Seus lábios tremeram e fecharam-se. Sua testa enrugou. Seus dedos curvados e flexionados. Eu podia ver a luta dele contra si mesmo, a tentação de ceder a mim contra a força de sua consciência culpada. Qual iria prevalecer? Nossos olhos se encontraram e, por um segundo, eu pensei que ele me escolheria.

Mas ele não fez isso. Ele desviou o olhar.

— Eu não tenho nenhuma chance para te dar.

Arrasada, saí da caminhonete e corri para a casa sufocando as lágrimas. Quando fechei a porta, tranquei-a e corri para o quarto jogando-me na cama. Recolhendo seu travesseiro em meus braços, solucei nele pelo que me pareceram horas.

Chorei por Alfonso, pela vida que ele vivia e pela vida que estava desperdiçando. Chorei por mim mesma, porque não fui suficiente para lhe fazer mudar de ideia. Chorei ao pensar em ir para casa e tentar esquecer que havíamos nos conhecido, beijado ou tocado.

E chorei pelo que nunca seria, uma chance que nunca seria aproveitada.





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Segunda Chance -Adpt AyA [ Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora