ANAHÍ
Eu estava uma pilha de nervos na manhã seguinte. Tinha tomado muito café e isso havia me deixado nervosa, com pouquíssimo sono na noite passada acabei pensando muito em como Alfonso tinha me perturbado. Eu não me sentia bem comigo mesma.
Passei a manhã tentando me concentrar no trabalho de outros clientes mas eu lutava muito para me concentrar. A sensibilidade entre as pernas, a dor nos músculos do abdome, lembranças de minhas pernas enroladas na cintura dele me distraíram o tempo todo.
Pare! Isso nunca aconteceu!
Depois do almoço, dei uma caminhada na praia, esperando que um pouco de exercício e vitamina D pudessem ajudar.
Não funcionou.
Tentei tirar uma soneca, o que foi um desastre já que o que eu realmente fiz foi me deitar e imaginar cada centímetro do corpo nu de Alfonso e repassar na minha cabeça cada segundo da foda-que-nunca-aconteceu.
Irritada, sentei-me e peguei meu telefone. Eu estava com vontade de falar sobre isso com alguém, mas hesitei antes de ligar para Cath por duas razões. Primeiro: eu disse que não iria transar com o cliente, e segundo: eu deveria estar fingindo que nada aconteceu. Contar a ela era um passo na direção contrária.
Eu sempre poderia ligar para Kristen, pensei. Eu teria que começar desde o início, já que ela ainda não sabia nada sobre Alfonso, mas...
Meu telefone vibrou em minha mão. Mamãe ligando.
Eu me retraí. Minha mãe era a última pessoa com quem queria conversar agora, mas atendi.
— Alô?
— Olá, Anahí. É sua mãe.
Não importa quantas vezes eu dissesse que ela não tinha que se anunciar, ela nunca deixou de fazê-lo.
— Oi, mãe. Como você está?
— Bem. Joguei tênis essa manhã e estou prestes a encontrar a tia Dodie para almoçarmos.
— Parece ótimo.
Nada nunca muda em seu mundo.
— Então eu tenho que correr — ela respondeu rápido, como se não fosse ela quem tivesse feito o telefonema —, mas queria te dizer que você já pode voltar para casa em breve. Théo foi apanhado em flagrante com uma garçonete no clube. Com tantos lugares, foi logo no vestiário dos homens! Mon dieu Não consigo entender porque uma mulher entraria ali.
Fiquei de queixo caído.
— Sério?
— Sim, as pessoas só falam nisso. Mimi Jewett está fora de si mas na minha opinião, ela mereceu por ter feito fofoca sobre você e o incidente.
— Certo.
— Então, eu não sei quais são os seus planos mas venha ao evento beneficente da Sociedade Histórica no final do mês. Somos anfitriões e é importante para a campanha do seu pai.
— Qual é o tema?
— Gatsby.
— De novo?
— As pessoas gostam de tradição, querida.
Suspirei.
Era inútil discutir com Muffe sobre o tema da tradição. Era a base de sua vida. Da minha também, em sua maior parte.
— Estarei lá. Até logo, mãe.
— Até mais, mon chéri.
Desliguei o telefone e olhei pela janela para o lago. Então, graças a Théo – que idiota –, eu podia dar as caras em casa novamente. E mesmo que eu tivesse pagado para ficar por mais nove dias, sabia que adiar minha estadia mais do que o necessário seria, provavelmente, uma má ideia.
Porque quanto mais eu pensava em Alfonso Herrera, mais queria vê-lo novamente, conhecê-lo melhor. Beijá-lo de novo. Tocá-lo. Senti-lo dentro de mim. Ouvi-lo sussurrar para mim no escuro. Descobrir porque a química entre nós era tão boa. Era simplesmente um caso de atração entre opostos? Ou havia algo mais?
Suspirando, desisti de tentar resolver o enigma e admiti a verdade.
Não havia como isso dar certo. Eu tinha que ir embora.
Arrumei o quarto, fiz minhas malas e telefonei para Gina explicando que devido a uma emergência familiar estava voltando mais cedo do que o planejado mas que estaria disponível por telefone, FaceTime ou Skype ou o que ela quisesse usar para se manter em contato comigo. Ela me agradeceu pelo meu tempo aqui e disse que entraria em contato comigo assim que tivessem a oportunidade de discutir tudo.
Também contatei Aby, a gerente do chalé e comuniquei que partiria mais cedo do que esperava, entendendo perfeitamente que não receberia o meu dinheiro de volta.
— Sinto muito por ouvir isso. Vou enviar para você um cheque pelo depósito-caução.
— Obrigada. Estou prestes a pegar a estrada, então deixarei a chave no balcão tudo bem?
— Você não vai viajar à noite, vai? — ela perguntou. — Pelo menos espere até amanhã de manhã. Há uma enorme tempestade chegando.
Franzindo o cenho, olhei pela janela mas não vi nenhuma evidência de desastre iminente. Talvez Aby fosse como a minha mãe que pensava que cada garoa era uma tempestade. Mas eu dirigia um carro velho, cujos limpadores de para-brisa não eram os melhores. Então decidi que poderia esperar até de manhã.
— Acho que posso esperar até amanhã. — respondi.
— Acho melhor, querida. Mande uma mensagem de texto quando você sair, eu ficarei agradecida.
— Farei isso. Obrigada.
Teria uma noite solitária e não havia comida na geladeira então decidi caminhar até a cidade e comprar algo para comer e uma taça de vinho.
Enquanto seguia em direção à porta, pensei em pegar um guarda-chuva mas uma busca rápida pelo chalé indicou que não havia nenhum por ali. Ah, tudo bem. A essa altura, o céu parecia relativamente claro, a água estava calma e só uma leve brisa agitava as cortinas. Eu não passaria muito tempo fora, de qualquer modo.
Cheguei na cidade orgulhosa de mim mesma por lembrar o caminho e propositadamente escolhi outro restaurante, diferente daquele no qual eu tinha visto Alfonso duas noites antes. Ele ficava bem próximo à água, estava movimentado por ser hora do jantar e a anfitriã parecia pouco disposta a arrumar a mesa para apenas uma pessoa.
— Eu posso me sentar no bar, sem problemas — eu disse a ela.
Ela pareceu agradecida.
— Perfeito. Fica bem ali na sala ao lado.
Assim que entrei, eu o vi. Eu poderia ter virado as costas, porém, sentado no bar, com uma cerveja na mão, ele se virou e olhou diretamente para mim, como se soubesse que eu estava lá, antes que eu fizesse meu retorno discreto. Nossos olhos se encontraram e ele abaixou lentamente a garrafa antes que chegasse a sua boca. Minha pulsação acelerou.
Droga. E agora?
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Segunda Chance -Adpt AyA [ Finalizada]
RomanceAnahí é uma mulher criada plenamente nos padrões da alta-sociedade, com toda a riqueza e moldes de pessoas que se acham acima dos demais. Mas ela não é esnobe, chatinha ou mimada como muitos a rotulam. Depois de uma confusão, ela se vê precisando sa...