Capítulo 3

138 13 0
                                    

ALFONSO

Eu não conseguia dormir.

Isso não me surpreendia. Eu não durmo bem de modo geral, mas em agosto sempre ficava pior. Com sorte conseguia dormir algumas horas por noite.

— É o calor — disse minha cunhada Gina na semana passada. — Por que você não vem dormir em nossa casa por algumas noites?

— Melhor ainda, instale um ar condicionado naquela velha cabana — disse Pete, meu irmão mais novo. — Não é muito caro.

Não era o calor.

— Talvez seja a luz — Gina disse no ano passado. — Talvez se você tentasse dormir com a luz apagada, relaxasse mais.

Mas eu precisava sempre da luz. Às vezes, eu me sentia incapaz de respirar até o sol nascer.

Eu tentava não ficar bravo quando os membros da minha família me diziam o que fazer ou tentavam resolver meus problemas com soluções simples, quando a verdadeira questão era algo tão complicado que eles nunca entenderiam. Mas eu não era bom em pensar antes de falar ou em controlar minha boca.

Ainda ontem eu tinha perdido a paciência com Peter por espiar atrás de mim, enquanto eu estava reparando uma cerca ao longo da linha da propriedade na mata. Pensando melhor agora, jogá-lo no chão enquanto gritava com ele por ser um "idiota maldito de merda sem nada no cérebro" provavelmente foi meio exagerado, mas que droga!. Ele sabe que não deve me cutucar quando eu estiver distraído. A razão pela qual eu não ouço música enquanto trabalho é para poder ficar ciente de tudo ao meu redor. Eu não gosto de ser surpreendido.

A única pessoa que entendeu isso na vida foi Sophia. Há alguns anos, minha família planejou uma festa-surpresa para o meu trigésimo aniversário, provavelmente porque eles sabiam que eu diria não a qualquer tipo de evento social que exigisse conversar com as pessoas, e Soph fez questão de me contar cada detalhe antes da hora. Ela até tentou convencer meus irmãos e pais de que era uma ideia terrível, mas eles insistiram que sair um pouco de casa e celebrar minha vida seria bom para mim.

Eu só fui porque a Soph implorou. No começo, eu estava furioso e me recusei a aceitar, mas então ela me contou que minha mãe e tia tinham vindo da Flórida, minha cunhada tinha feito bolo cassata e minha sobrinha Olivia tinha aprendido a tocar Feliz Aniversário no piano só para mim. Era difícil resistir a Soph quando ela estava realmente decidida a fazer alguma coisa, e, além disso, ela tinha me feito um boquete realmente incrível na cama naquele dia pela manhã.

Ela conhecia todas as minhas fraquezas.

Deitado lá no escuro, girei a aliança de casamento no dedo.

Três anos.

Parecia impossível que tivesse passado tanto tempo. Seus óculos ainda estavam em seu criado-mudo, as roupas ainda no armário e eu ainda esperava que ela estivesse lá quando deitava na nossa cama velha, que rangia, querendo pressionar seu pequeno corpo contra o meu.

E então, pensei que parecia uma eternidade desde que a ouvi cantando no chuveiro, ou a observei se preparar para dormir, ou me perdi dentro de seu corpo. Ela sempre me fazia ir devagar no início, alegando que estava preocupada com o meu tamanho, mesmo depois de estarmos juntos há anos. Provavelmente ela dizia aquilo apenas para me deixar animado – funcionava sempre – embora ela fosse baixinha, com curvas em todos os lugares certos. Nunca me importei com os quinze quilos extras que ela insistia em perder, na verdade, eu os amava – amava o fato de seu corpo ser macio e o meu duro, sentir aquelas curvas sob minhas mãos, lábios e língua, a maneira como ela se aconchegava a mim. Tinha sido tão bom cuidar dela.

Porra, eu sentia falta do sexo. Sentia falta de tudo.

— Você precisa sair de novo — disse meu irmão mais velho, Brad, porque ele sabia de tudo. — Deixe-me apresentá-lo a April, a nova corretora de imóveis da agência. Ela é gostosona e acho que você iria se divertir. Ou pelo menos faria sexo.

Eu disse para ele ir se ferrar.

— Vamos lá, cara — ele havia dito novamente na semana passada, enquanto corríamos juntos por uma das estradas de terra com que nossa fazenda de quarenta e seis acres fazia divisa. — Já se passaram três anos. Você nem está tentando seguir em frente. Quando você vai superar?

— Vai se foder, Brad — eu respondi, dando passadas largas e rápidas que o deixaram comendo poeira. Não estou tentando ir em frente? Todo dia de merda em que eu consigo acordar significa que estou seguindo em frente. Todas as manhãs em que saio da cama significam que estou seguindo em frente. Toda vez que eu respiro, estou seguindo em frente.

E quanto a superá-la, isso nunca aconteceria, ele poderia fazer desfilar um monte de mulheres na minha frente, o que seria apenas uma perda de tempo.

Eu já tinha encontrado o amor da minha vida; eu a conhecia desde que éramos crianças.

Tinha me casado com ela e a perdido.

Não havia nenhum alívio nisso. Não havia redenção. Não houve segunda chance.

Nem eu queria nada disso.



______
⭐✍️

Segunda Chance -Adpt AyA [ Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora