Amor

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Rafaella podia ouvir os gritos e berros dos espectadores antes de abrir os olhos. A dor disparou da base do crânio até a testa em ondas fortes, a boca com gosto de cobre, ela concluiu que em algum momento deve ter mordido a língua ou arrebentado o lábio. Algo estava pegando fogo, o que não era de surpreender, ela podia sentir o cheiro da riqueza terrosa que é produzida quando a madeira queima.

Os olhos de Rafaella se abriram e ela gemeu, movendo todos os seus membros levemente, verificando se havia ossos quebrados. Seus ouvidos zumbiam, mas ela podia ouvir alarmes de carros tocando e o som fraco de sirenes ao fundo. Ela lentamente se arrastou até suas mãos e joelhos, cacos de vidro cravados em suas palmas e antebraços. Ela piscou lentamente, ignorando a dor e a tontura, ela apertou a cabeça sentindo o caroço que havia se formado ali.

De repente, ela lembrou por que ela estava aqui.

Tenho que encontrar Gizelly.

Ela ficou de pé, tropeçando antes de se endireitar e subir os degraus de dois em dois. Abrindo caminho pela porta, ela foi confrontada por uma nuvem de poeira, tossindo e cuspindo, ela escalou os escombros, rezando para que o prédio não fosse de amianto.

– Gizelly! Gizelly! – Ela gritou.

– Ajuda! Por favor! Por aqui! – Rafaella seguiu o som da voz. Em vez de Gizelly, ela encontrou uma jovem, que não devia ter muito mais do que dezoito anos, presa sob muitos escombros. – Por favor, estou preso! – Ela chorou desesperadamente.

– Ok, não se preocupe, eu vou tirar você daqui! – Rafaella precisava desesperadamente encontrar Gizelly, mas ela não podia deixar essa garota, ela simplesmente não podia. "Eu serei rápida."

– Por favor, estou com medo. – A menina soluçou.

– Ei, ei, não se preocupe. Vou tirar você daqui, você vai ficar bem.

Rafaella disse calmamente, com um novo vigor ela puxou as pedras grandes para cima e para trás. Ela precisava tirar essa garota para que ela pudesse ir e encontrar Gizelly. Ela não iria perdê-la, não assim.

O prédio estava caindo aos pedaços, Rafaella não teve muito tempo até que a coisa toda desabou. Um lustre caiu do teto e se espatifou ao lado delas, a menina gritou e continuou soluçando, hiperventilando.

– Eu não quero morrer. – Ela chorou.

– Você não vai morrer. – Rafaella tentou confortá-la. – Fale sobre você. Por que você estava aqui esta noite? – Ela murmurou, movendo mais escombros.

– Eu estava esperando a f-festa. – Ela soltou um grito quando Rafaella moveu a peça em sua perna. – Só estou tentando economizar algum dinheiro para a f-faculdade. – A perna dela parecia ruim, Rafaella teria que carregá-la.

– O que você vai estudar? – Ela se esforçou, tentando levantar o grande pedaço de madeira, que estava sobre seus quadris e havia um pedaço pesado do teto atravessado no topo.

– Criminologia. – Ela soltou uma risada autodepreciativa.

– Bem, espero que você seja a única a parar com isso da próxima vez. – brincou Rafaella. – Vou levantar isso e preciso que você se mova, não vou conseguir segurar por muito tempo, então você precisa ser rápida. – A garota assentiu. – Em três. Pronto, um, dois, três! – Rafaella levantou a viga de madeira, fechando os olhos e bloqueando a dor nas pernas e bíceps. Ela cerrou os dentes e rosnou, podia ouvir a garota lutando para se mover, gritando quando teve que usar a perna.

– Estou fora.

Rafaella imediatamente soltou, deixando a madeira cair no chão. Ela levou um segundo para se recuperar, sabendo que não tinha muito tempo.

Linha TênueOnde histórias criam vida. Descubra agora