Rafaella Part I

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Rafaella nasceu lutadora.

Ela lutou desde o dia em que nasceu. Com quase dois meses de prematuridade, sua mãe era jovem e não aguentava. Em um momento de puro pânico e medo, deixou Rafaella em uma cesta do lado de fora de uma igreja luterana. Não só seu corpo minúsculo não estava totalmente desenvolvido, como ela ficou vulnerável em uma noite fria e úmida de outubro.

Deborah recebeu um telefonema do pastor, ele sabia que elas dirigiam um orfanato, ele não sabia toda a extensão do que acontecia na Academia, mas sabia que eles cuidavam de bebês.

Deborah sempre disse que desde o momento em que viu Rafaella, sabia que ela era especial.

Ela pode ter sido pequena, mas seus pulmões eram poderosos, ela chorou e gritou alto, agitando seus pequenos punhos. Deborah a pegou, o bebê estava congelando. Ela a embalou contra o peito, aquecendo-a com o calor do corpo, chorar era um bom sinal de que ela ficaria preocupada se o bebê estivesse calado. Deborah esperou até que sua temperatura corporal aumentasse antes de envolvê-la em um cobertor e carregá-la para sua nova casa.

Rafaella pesava apenas 2Kg e 100 gramas.

– Eu estou dizendo a você, Deborah, ela não vai sobreviver. Leve-a para o hospital e entregue-a agora.

Isabel estava convencida de que o bebê seria apenas um fardo. Ela precisava ser monitorada 24 horas por dia, 7 dias por semana, pelo menos nas primeiras semanas, elas não tinham pessoas suficientes para cuidar das filhas que tinham, muito menos uma que não tinha chance de lutar.

Deborah a embalou e observou enquanto ela bebia ansiosamente da mamadeira.

– Eu acho que ela vai. Tenho a sensação de que ela superará todas as nossas expectativas. – Ela murmurou.

– Não temos experiência nem capacidade para cuidar dela! Precisamos nos concentrar nas crianças saudáveis que já temos. Ela não vai durar uma semana nessas condições! – Isabel argumentou.

– Se ela sobreviver a uma semana, você vai considerá-la então? – Deborah disse e Isabel suspirou e beliscou a testa. – Ela não tem mais ninguém.

– Tudo bem, uma semana. Mas, ela é sua para cuidar, além das outras alocadas para você.

Deborah assentiu.

Ela aceitou o desafio, terminou de alimentar a bebê e a colocou no berço. Deborah cuidou dela na primeira noite, certificando-se de que ela não tivesse problemas. Ela acordou várias vezes, Deborah a alimentou e trocou a fralda antes de embalá-la para dormir.

Ela recebeu o sobrenome Kalimann devido ao local onde foi encontrada e o pastor que a salvou, seria a garotinha Kalimann até que descobrissem qual seria seu primeiro nome.

Naquela primeira semana, Deborah estava constantemente no limite, o bebê era tão pequeno e tão delicado, Deborah estava com medo de quebrar se a segurasse errado.

Ela havia lido sobre a importância do contato pele a pele e passou muitas noites com a criança no colo, lendo calmamente seu livro em voz alta. A menininha emitia ruídos suaves e contentes, estendendo a mãozinha. Deborah estava lendo uma história sobre um jovem forte que vivia em um futuro distópico, ela destruiu o governo corrupto e reconstruiu uma sociedade mais justa das cinzas, realmente irônico. O bebê se contorcia sempre que Deborah lia o nome da personagem, Rafaella.

– Rafaella Kalimann. – Ela testou em voz alta, o bebê chutou as pernas e fez um barulho ofegante. – Você gosta desse nome? Você quer ser Rafaella Kalimann? Ela chutou as pernas novamente e arrulhou. – Bem, tudo bem então. 28 de outubro, feliz dia do nome, Rafaella.

[...]

Rafaella superou todas as expectativas, aos três anos já andava e falava, seu vocabulário limitado já ultrapassava quatro idiomas. Seus cuidadores falavam com as crianças pequenas em vários idiomas, ajudando-as a aprender facilmente.

Linha TênueOnde histórias criam vida. Descubra agora