Eu e meus queridos colegas de sala fomos arrastados por todo o campus no estilo elefantinho, cantando uma música muito bem formulada e inteligente. Ela era mais ou menos assim: Eles gritavam ''O que houve com vocês?'' e nós respondíamos ''Somos bixos e não temos vez.''
Quem não cantasse a música era sujo de tinta, farinha e água. Fala sério, eles queriam fazer um trote, ou cozinhar?
Confesso que não gostei muito do elefantinho, que consiste em andar em fila indiana de mãos dadas, com um porém - é preciso ficar curvado, uma vez que uma das suas mãos passa por debaixo das suas pernas para alcançar a pessoa atrás de você. Muito saudável.
Enquanto cantávamos, nos sujávamos e andávamos corcundas, os veteranos iam nos apresentando o campus e explicando o que era cada departamento e bloco. Claro que não andamos todo o campus, somente o Bloco de Letras e arredores, ou seja, os Blocos de Jornalismo, Psicologia, História e Serviço Social. O centro de humanidades.
Depois, um garoto chamado Guto, o mesmo que o Theo falou algo na sala de aula, fez umas perguntas sobre o campus e sobre assuntos do nosso curso. Eles iam escolhendo suas vítimas e quem erasse levava ovada. (Não disse que eles querem é cozinhar?)
Graças a Deus eu não fui escolhida para nenhuma pergunta, até porque estava mais preocupada em evitar que tinta entrasse no meu olho, do que conhecer o campus. O Nathan já tinha me mostrado um pouco dele no dia anterior, mas foi só pelo meu bloco e os alojamentos.
Depois de tudo isso, estava morrendo de fome. Já iam dá 13 horas e só tinha comido uma maçã no café da manhã, pois estava ansiosa demais pelo primeiro dia. Bem que devia andar com as barrinhas de cereal que minha mãe insiste para eu comer.
Saí na direção da república que estava morando para tomar um banho rápido e ir comer algo no refeitório, quando alguém gritou.
— EI, AQUELA CALOURA ESTÁ TENTANDO ESCAPAR!
Me virei e notei que ele estava olhando para mim. Reparei que todos do meu curso se organizavam em uma rodinha.
— Oi? Eu tentando escapar? Olha só para mim, já tive meu trote. — falei rindo meio confusa com o que estava acontecendo.
— Falta a parte final do trote, docinho. O leilão!
— O quê!? — Arregalei meus olhos, enquanto estava sendo empurrada de volta pelos veteranos.
Notei que cada calouro ia para o centro da roda, se apresentava e as pessoas ficavam oferecendo dinheiro, imaginário, claro.
Fiquei nervosa.
— Eu vou ser vendida?? É sério isso? — Perguntei para o Guto, que estava na frente da multidão.
— Não se preocupe. — ele respondeu — É só brincadeira. Quando acabar o leilão, você não vai pertencer a ninguém. Fazemos isso só para conhecermos mais vocês.
— Entendi... — falei, ainda me sentindo um pouco desconfortável.
Quando me empurraram para o meio do círculo, os meninos começaram a assobiar e aplaudir.
Fiquei vermelha na hora.
Me apresentei bem rápido por cima de todo o barulho. De onde eu era, porque tinha escolhido esse curso e o que estava planejando nos próximos cinco anos na Focus.
No final de tudo, fui vendida por R$ 1.600 reais imaginários. Que triste! Por que o ser humano faz isso? Agora eu sei qual o meu valor. (Dramática? Só um pouquinho rs)
Ainda estava filosofando, quando o Guto veio falar comigo.
— Você está bem, né? Gostou do trote? — ele indagou, preocupado.
— Estou bem sim. Quanto ao trote... hmm... ainda não tenho uma ideia definida. — Eu ri.
— Ufa! Pode confirmar isso com seu amigo depois? Ele disse para pegar leve com você, e eu tomei cuidado.
— O quê? — Me surpreendi, enquanto ele ia embora com um tchauzinho.
Senti um peso de olhar sob mim. Ao esquadrinhar ao redor, avistei o Theo ao longe. Me impressionei ao reparar que ele estava olhando na minha direção. A quanto tempo será que ele estava me observando? Ele tinha um sorriso de lado.
Resolvi ir na sua direção, mas bem na hora o Carlos apareceu na minha frente.
— Uau. Como você está linda, verde e vermelha. — Ele cruza os braços. — Essas cores combinam com você.
— Não me provoque quando eu estiver com fome, Carlos. — falei, fuzilando ele com os olhos.
— Calma lá, novata. — Ele ri — Só vim saber se tudo ocorreu bem.
— Agora que já sabe, pode ir embora. — falou uma voz conhecida atrás de mim. Me virei e vi o Nathan.
— Sabe, você devia escolher melhor suas companhias, novata. — falou o Carlos, olhando para o Nathan.
— Concordo plenamente. — respondeu Nathan se aproximando dele com um olhar mordaz.
— Uou, uou. Dá para parar vocês dois? — falei, me metendo na frente deles. — Eu estou cansada, com tinta até nos meus rins e com muita fome. Se continuar assim, eu é que vou brigar aqui.
Nathan ri mais para si mesmo — Sabia que estaria com fome. Você não come bem no café da manhã. — ele falou meio orgulhoso, olhando com vitória para o Carlos.
Foi quando notei que ele estava segurando uma quentinha, para mim.
Meus olhos brilharam. Quase não me contive de felicidade, me joguei em cima do Nathan, sujando ele todinho. Nós começamos a rir.
Quando olhei em volta, o Carlos tinha sumido.
Eu avancei em cima da comida como uma selvagem. Depois, o Nathan foi me acompanhando até o meu alojamento. Nós ríamos e conversávamos, quando resolvi perguntar uma coisa que estava martelando na minha cabeça desde que tinha chegado na universidade.
— Nathan... esse Carlos é o garoto que você me falou uns anos atrás? Vocês realmente não conseguem dar uma trégua. Só brigam. O que aconteceu entre vocês?
— Juliana! — ele falou.
Eu tomei um susto.
— Mas o que a Juliana tem a ver com... — Quando olhei para frente dei de cara com ela vindo em nossa direção.
— Olá, irmãzinha. — ela falou, irônica.
Eu suspirei. — Oi, Juliana.
— Nossa, você está bem sujinha, hein, querida? Acho melhor tomar um banho.
— Eu já estava indo mesmo. — Dei um sorrisinho forçado para o Nathan e fui embora.
Arg! Como o Nathan pode ter uma irmã assim, tão diferente dele?
Cheguei no meu quarto e a Rosa não estava lá.
Tomei um banho e decidi que ia descansar o resto do dia. Afinal, nos primeiros dias de aula os professores mal dão conteúdo, porque ainda estão se organizando e os alunos fazendo matrículas. Por isso foi tão estranho eu ter tido minha primeira aula, no primeiro dia da primeira semana pós férias. Ele, com certeza, deve ser um professor muito rígido.
Pensando nisso, deitei na cama e dormi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...