Acordei no horário do almoço, já que fui dormir bem tarde por causa da comemoração do Ano Novo. A casa estava em silêncio, o que indicava que todo mundo devia estar dormindo ou acordando agora, assim como eu.
Fiquei deitada na cama, olhando para o teto. Tudo isso que estou vivendo não é um sonho. Lembrei da noite passada e foi inevitável não sorrir. Eu e o Theo estamos juntos. Respirei fundo, antes de me levantar. Hoje seria o dia em que voltaria para casa e queria causar uma última boa impressão nos meus sogros, no meu cunhado, e no próprio Theo, claro.
Levantei sorridente e fui tomar um banho. A água fria estava tão boa que decido ficar lá mais alguns minutos. Depois fui escolher o que vestir. Optei por um vestidinho leve e florido, achei que combinava com a ocasião. Sapatilhas verdes. Cabelo solto.
Resolvi passar um pouco de maquiagem. Como nunca passo, dá pra notar a diferença em mim. Me sentia mais bonita e mais confiante. Borrifei um pouco de perfume no pescoço e saí do quarto.
Estava triste por ir embora hoje, mas também estava contente por tudo ter ocorrido tão bem, na semana que se passou.
Na cozinha, a senhora Roriz preparava o café da manhã/almoço.
— Boa tarde — Ela sorri ao me ver na porta.
— Bom tarde! Faz tempo que a senhora acordou? — Retribui o sorriso.
— Ah sim. Meu relógio biológico não me deixa acordar depois das 8 horas.
— A senhora parece minha mãe — Olhei ao redor — Mais alguém já acordou?
— O Theo está na horta. — Ela dá um sorriso cheio de significado, decifrando o que realmente eu quis perguntar. — Foi pegar uns vegetais para mim.
— A senhora quer ajuda em algo? — Me ofereci, por educação.
— Ah não, querida. Muito obrigada. Pode ir ver seu namorado. — Sorri aliviada. Sou muito desastrada na cozinha e era capaz de eu pôr fogo em toda a fazenda.
Mas... ela disse... namorado. Eu tou namorado... Estou, né?, a voz na minha cabeça começa a tagarelar. Afasto meus pensamentos e vou atrás do Theo.
Eu estava radiante, mas meu sorriso morre quando vejo que ele está acompanhado. Rita.
Ele me vê e acena. Forço um sorriso e vou até lá. Ele me dá um beijo de bom dia, o que faz meu ciúmes ir embora na hora.
— Você quis dizer boa tarde, né? — Falei, sabendo a pouca memória que o Theo tem.
Ele olha o relógio e toma um susto com a hora — Nossa, preciso levar isso pra minha mãe. — Ele pisca pra mim, antes de ir em direção a casa.
Sorrio para a Rita e pergunto o que eles estavam fazendo, tentando ser simpática.
— Nada. — Ela responde em tom seco.
— Ok... — Menina mal educada, pensei.
— Escuta aqui — Ela suspira, com raiva — Eu não passei 2 anos da minha vida investindo em alguém para chegar uma piranha como você e acabar com tudo.
— Uou, uou! Calma lá. Você não é muito nova pra usar esse palavreado? — Disse, achando graça da sua infantilidade.
— Fique longe do meu caminho, se não... — Ela se aproxima de mim, com um dedo levantado.
— Se não o quê, projeto de gente? — Ela realmente não me atingia. Estava mais parecendo uma vilã de novela, o que me deu mais ainda vontade de rir. Porém, eu me segurei.
Ela ficou calada. Então, dei as costas e fui andando novamente para dentro da casa. De repente, sinto algo molhado atingir minhas costas.
Rezo em silêncio, pedindo aos céus, para não ser o que eu estou pensando.
Me viro vagarosamente e percebo que a Rita ia jogar mais um punhado de lama em mim, quando seguro seu braço.
— Para com isso, sua louca! Desse jeito vou ligar para os seus pais. — Falei, com raiva, pois ela tinha estragado a minha roupa.
Ela se soltou de mim e saiu de lá pisando duro.
Voltei ao quarto, bufando, para tomar outro banho, pois além do vestido, minha panturrilha e meu braço direito estavam sujos e já começavam a coçar.
Em seguida, fui direto almoçar, pois estava faminta. Todos da casa já tinham comido, sem me esperar, pois eu ''demorei muito no banho''. Óbvio. Não queria pegar nenhuma doença de pele! O Theo pediu desculpas e eu disse que estava tudo bem.
Terminei de comer e fiquei na sala com o pessoal, terminando de ver um filme.
Deu o horário das 17 horas, e eu achei melhor terminar de arrumar minhas coisas no quarto. Logo o táxi chegaria.
Meu celular toca, e é um número que não conheço. Fico em dúvida se atendo ou não, mas a curiosidade fala mais alto.
— Alô? — Imito uma voz neutra.
— É verdade, Lila? NÃO ACREDITO QUE FEZ ISSO COMIGO! — Era uma voz de menina gritando.
Tomei um susto, quase deixo o celular cair.
— Q... — Tento falar, para decifrar o mistério.
— Eu confiei em você. E você me apunhalou pelas costas. — A voz diz com uma intensidade de raiva e choro.
Agora que ela parou de gritar, consigo identificar quem é. Érica.
— E-eu sinto muito... Não pretendia te magoar. Só aconteceu...
— Só aconteceu? — Ela imita uma vozinha chata — E você nem pra me avisar.
— Eu ia te contar, quando chegasse em casa. — Silêncio — Como soube?
— Com amigas de verdade. Por favor, faça o favor de nunca mais olhar na minha cara. De pessoas como você, que se aproveitam dos outros, eu quero distância.
Ela desligou e eu fiquei ali parada, com os olhos cheios de lágrimas.
Ela tem razão. Eu sou uma falsa mentirosa. Como puder fazer isso com ela?
Fico me martirizando, até ouvir umas batidas na porta. Tento limpar minhas lágrimas, mas elas insistem em cair.
— Já vai. — Grito para a pessoa do outro lado, para ganhar tempo.
Mesmo que nada, porque a pessoa abriu a porta, como se eu tivesse dito ''abre'' e veio até mim — Notei sua voz de choro. — O ruivo me abraça.
Eu me aconchego em seus braços, despejando toda a culpa que sentia pelos olhos.
— Tudo bem... — Ele tenta me acalmar. — O que houve?
Olho pra ele e conto tudo. Da Érica sempre ter sido apaixonada pelo Theo, em como ela me pediu ajuda para conquistá-lo, e como eu tinha traído ela, ficando com ele para mim, sem nem ao menos avisá-la.
— Mas eu ia conversar com ela... Só não deu tempo. — Falo com voz de choro.
— Tudo bem, docinho. — Ele enxuga as minhas lágrimas — Como ela ficou sabendo?
Dou de ombros.
— Escuta — Ele me força a olhar para o seu rosto — Tenho certeza que, quando a raiva dela passar, ela vai te ouvir. Daí você poderá explicar tudo.
— Ela não vai não. — Abaixo a cabeça.
— E como sabe disso? — Ele tenta me fazer sorrir.
— Por que você nunca deixou o Nathan se explicar.
Ele ficou absolutamente sem fala. Com a boca formando um verdadeiro ''o''.
— A situação é diferente. E nós também. — Ele cospe as palavras, depois de um tempo.
— Deixa eu te contar o que houve naquela noite, Carlos... Por favor.
— Isso vai te deixar mais calma? — Ele pergunta. Parecia está lutando consigo mesmo.
Eu assenti.
— Tá bem. Você pode me contar o que houve. — Ele se reclina na cama e se prepara para ouvir a minha história.
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Aconteceu na faculdade
RomanceLila é uma garota que sonha com os clichês das histórias românticas que ela passou a vida toda lendo e assistindo. Ao se mudar para sua nova faculdade, para cursar Letras, ela se vê de frente com situações e pessoas que ela não sabe como lidar. Ela...