Capítulo 19 - Venha para o lado negro da força

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À noite, corri para o Nathan e contei tudo o que tinha se passado no dia. A briga com a Juliana, a discussão com Carlos e os poemas do Theo.

O Jadson não estava lá, então nós pudemos conversar a vontade.

Ele me contou que seu dia também tinha sido bem estressante. Parece que ele está fazendo dupla, em um trabalho do curso, com a Rosa. Ele não soube recusar. E, ainda teve que aguentar o Pedro a esperando fora da classe. Nem consigo imaginar como deve ser ver a pessoa que você ama com outro, na sua frente.

Achei que estava sendo muito egoísta, apenas contando meus problemas e minhas dúvidas para ele. O Nathan precisava se animar e era isso que eu ia fazer. Ia conseguir um sorriso dele. Melhor, uma gargalhada.

Lembro-me que ele nunca soube se divertir. Sempre foi muito cobrado, muito exigido. Principalmente pelo pai. Cansei de ir na casa dele e ficar olhando para o nada, esperando ele terminar todos os seus afazeres. E, não só da escola. Mas de casa também.

Sempre muito pressionado. Muito tenso. Parece que vive preocupado que tenha algo que ele não fez, que tenha esquecido de fazer. Na época, eu nem imaginava que o pai dele era muito mais agressivo do que transparecia. Até hoje Nathan não fala sobre isso.

Um dia em especial vai ficar na minha memória para sempre. Há 5 anos atrás, o Nathan finalmente foi emancipado, aos 16 anos. Nós dois passamos a tarde inteira em um parque perto de casa. Éramos livres. Foi o dia que ele fez uma tatuagem, que ele mantém escondida de todos. Ela é bem simples, somente a data da sua alforria, 01/08/2018, que fica na parte final do seu abdômen, de forma que ele nunca usa suas calças muito baixas, para poder tirar a blusa e ninguém notar a tatuagem lá.

— JÁ SEI! — Gritei do absoluto nada, o que o fez tomar um susto. Ele me olhou interrogativo e eu completei, já me preparando para sair do quarto — Daqui a 1 hora volto. Maratona de filmes do Star Wars.

Notei que ele ia abrir a boca em protesto, mas o impedi falando de uma vez.

— Não me importa se temos aula amanhã de manhã cedo. Nem que não durmamos. Vamos fazer uma maratona! — Falei com uma voz de mandona.

Ele deu uma gargalhada e eu saí feliz. Já tinha ganhado a minha noite.

Voei até o meu quarto e peguei meus DVD's, sim, eu coleciono meus filmes preferidos. Star Wars fica bem em baixo de Harry Potter. Coloquei todos os 9 filmes da série dentro de uma bolsa enorme e fui tomar banho. Dedici que Han Solo e Rogue One ficaria para outro dia.

Quando saí do banheiro, a Rosa estava a minha espera. Ela sorriu e disse que ia viajar amanhã de manhã, passar a semana fora. Ela e o Pedro iam visitar os pais dele.

Desejei uma boa viagem a ela e já me despedi, pois ia passar a madrugada vendo filmes com o Nathan.

— Depois me conte como foi tudo lá. — Pisquei para ela.

— Pode deixar. — Ela abriu um sorriso imenso, os olhos brilhavam.

Marchei em direção ao alojamento masculino. No meio do caminho escuto alguém gritar meu nome. Olho ao redor e não vejo ninguém, até uma sombra começar a tomar forma no escuro.

— Ué, você está de mudança? — A voz fala preocupada.

— Di?! — Finalmente ele estava próximo o suficiente para eu distinguir seu rosto, já que estava sem os meus óculos. — Quase isso. Vou para outras galáxias.

Ele me olhou confuso e então eu deixei para lá. Resolvi mudar de assunto.

— Então, o que está achando daqui? — Perguntei, fazendo um coque no meu cabelo.

— Hmm... não sei... é bem melhor do que o campo de treinamento, com certeza. — Ele carregou minha bolsa sem permissão e me acompanhou até onde eu iria. Fomos conversando sobre o nosso curso de inglês.

Chegamos no local e ele me devolveu a minha bolsa. Já ia dar tchau, quando percebi que ele queria falar algo comigo, mas não sabia como.

— Você pode falar qualquer coisa comigo, você sabe, né? Nós nos afastamos, mas meu carinho por você não diminuiu. — Sorri para ele.

— Obrigado, Lila. Eu também sinto o mesmo. Você sempre será o meu primeiro amor. — Ele corou e me abraçou.

— E você o meu. — Retribui o abraço de urso dele.

Quando nos afastamos, ele se encheu de coragem e me perguntou o que queria saber.

— Lila, a Ju t-tem namorado? — Ele me questionou, com um sorriso de lado.

— QUUUUÊ? Não! Não acredito! Que mal gosto, Di. Como assim???

Percebi que ele ficou constrangido, e acabei ficando com pena. Engoli minhas desavenças com ela e respondi.

— Não, a Juliana não tem namorado. — Suspirei. — E existe uma razão pra isso. Ela é in-su-por-tá-vel. — Frisei a última palavra para ele.

Ele abriu um sorriso gigantesco e falou.

— Adoro desafios!

— Louco! — Comecei a rir, dei uma batidinha na testa dele e entrei no alojamento.

Ao chegar no andar do meu amigo, abri a porta do quarto sem bater e pulei na cama dele.

— Demorou, pequena. Já tava pensando que tinha deixado os filmes em casa. — Ele riu, me dando espaço na cama, para ficarmos lado a lado, de frente para o notebook.

— Nunca. — Falei, colocando um fone no ouvido e pegando os DVD's.

O Jadson, na cama ao lado, assistia a nossa cena e tomou um susto quando abri a bolsa.

— Não seria melhor assistir os filmes pela internet? — Ele perguntou horrorizado.

— Como se atreve? — Falei, como se fosse uma ofensa.

Ele gargalhou da minha resposta e eu simplesmente dei língua para ele, brincando.

Jadson riu mais ainda e deitou, pedindo para falarmos baixo e ameaçando nos matar se o acordássemos.

Jogamos um travesseiro nele e voltamos nossa atenção para o filme que já ia começar.

O nosso objetivo era assistir aos 9 filmes, mas acabamos dormindo no segundo. Fazer o quê, né?!

Acordamos assustados, na manhã seguinte, com o Jadson batendo uma foto nossa, com flash. Menino sem noção.

Xingamos ele até cairmos de novo na cama para cochilar só ''mais 5 minutinhos''. No final, resolvemos faltar as nossas aulas do dia e passamos a tarde preguiçosos, terminando de ver os filmes que faltavam. Fiquei ignorando o Nathan me chamar de cascão, me mandando ir escovar os dentes e tomar um banho. Azar o dele, tem que me aguentar assim mesmo.

Acabou que ele me expulsou da cama, literalmente, e fui aborrecida para o meu alojamento. Quando cheguei, Rosa estava dormindo de costas para o quarto. Estranhei, ela não ia viajar com o Pedro?

Tomei um banho demorado e fiz minha higiene pessoal. Saí cheirosinha do banheiro.

Olhei para a cama e não vi mais a Rosa. Será que eu imaginei ela?

Dei a volta na cama e a vi no chão. Sentada, encostada na parede, com a cara inchada e os olhos vermelhos, cheios de lágrimas.

— Lila... — Ela veio correndo me abraçar — Eu e o Pedro... — Ela fala entre soluços — N-nós... t-terminamos...

Aconteceu na faculdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora